quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Velho

          Deixa eu contar uma história. Não posso dizer que me lembro de tudo como aconteceu, mas eu me lembro dela assim:

         Certa feita, estava eu em Londres, do outro lado do mundo, recém tinha tomado um pé na bunda e estava me sentindo mais inadequado do que nunca. A coisa tava tão feia pro meu lado que o mundo achou por bem mandar uma mulher com asas me encontrar e me colocar de volta nos trilhos. Ela me encontrou lendo um jornal no meio do caos de uma estação de metrô. Enquanto ela caminhava na minha direção eu me lembrei de uma coisa - tarde demais, ao que parece - não adiantava fingir que estava bem pra ela. Ela me conhece bem demais. Talvez, justamente por me conhecer demais, ela me levou para um bar chamado Piano Works. Eu não sabia na época, mas aquele bar é a melhor maloca do mundo. Não falar direito a língua local me deixou naquele estado entre o medo de errar e a arrogância para acreditar e tentar. E conversei com muita gente em inglês, em espanhol e português e as vezes sem falar nada. Lembro de um italiano com marijuana e cera de abelha. Lembro de uma trompetista estilosíssima. Tinha um alemão lindo que o bar inteiro estava querendo. E eu conversei muito com a minha amiga, bebendo na elegância; até que chegou um baixinho das filipinas com um cartão de crédito anunciando que a gente ia beber. Mesmo no território da rainha, a regra para se me oferecem trago continuava valendo: yes and more. E o alemão me serviu uma coisa que eu não sabia o que era, mas parecia rum. Forte  bagaray, mas rum. Foi uma das festas mais locas da minha vida. Inclusive a parte de sair correndo pra atravessar Londres de metrô e ter que caminhar quase 3 milhas porque perdi o último trem. Teve a mijada na London Power Station pra encerrar a noite. Porque foto na Abbey Road tem seu valor, mas roots de verdade é mijar na capa do Animals do pink floyd.

          De alguma forma, eu não fui preso e nem fui pro hospital naquela noite. E na manhã seguinte eu estava pronto pra assumir as consequências da minha escolha. Estava pronto para dar o primeiro passo para voltar a ser o que eu era.  Nunca agradeci aquela mulher de asas, nunca disse o quanto ela foi a diferença na minha vida naquela noite e em tantas outras que passaram. Quando eu chorava no palco escondido atrás dos cabelos, ela via. A eterna piada sobre ter ossos de vidro. Mas estou pra conhecer alguém com o coração , mais forte. E sabemos bem que só as pessoas com coração forte conseguem voar.

           Da mesma forma,  nunca descobri o que diabos eu bebi aquela noite. Até ontem Na República Oriental do Uruguay encontro uma garrafa de Bacardi que não conhecia, mas quando a vi, eu sabia que era ela. 38% de álcool eram uma prova irrefutável.  O nome fazia todo sentido.

           E agora qu
e coloquei a garrafa do lado do meu monitor, solto uma gargalhada cada vez que olho pra ela. 


domingo, 18 de dezembro de 2016

Baunilha



Se eu contasse tudo que aconteceu essa noite, ninguém iria acreditar...

P.S. Dois chefões pra derrotar...

sábado, 17 de dezembro de 2016

Plano: Repensar o Impossível

           O unicórnio é um animal místico impossível de ser capturado. Mas, em raríssimas situações, ele esquece sua incapacidade de se dominar e coloca sua desconfiança de lado. 


Eu sei disso porque, de tempos em tempos, aparece um unicórnio na minha vida.

E em raríssimas situações, o impossível não cabe nessa lenda.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Entre aquilo que me corrói, as cartas que não escrevo e as oportunidades perdidas.

          Às vezes a mix do P.A. é como uma represa muito cheia. E a música é tão caprichosa quanto a água. O som segue o caminho que quer enquanto a gente vai construindo desvios e diques aqui e ali. E faz o que pode pra não transbordar. Às vezes vaza um pouco d'água, às vezes a gente precisa soltar mais água do que deveria pra evitar o colapso. É uma sensação  ruim está de estar perigosamente muito perto do vermelho.

             Ontem foi uma dessas noites. Muitas bandas e pouco equipamento é uma equação irritantemente familiar no meu trabalho. Tento entender por que as merdas acontecem justamente quando as pessoas que eu gosto estão no palco. ¿Seria pedir de mais se eu quisesse que acontecesse com quem eu não me importo? Pra poder resolver problemas sem me envolver. Matemática objetiva e imparcial.

             E quando o circo pega fogo eu me obrigo a ser objetivo. Não consigo achar espaço pra gentilezas quando a represa pode estourar a qualquer momento e tudo precisa ser resolvido rápido. Mas há  uma linha que não deve ser ultrapassada: a da estupidez. E ontem eu cruzei essa linha com um cara que eu deveria nem sequer subir o tom de voz.

         Tenho minhas razões técnicas pra justificar o que pedi, mas não tenho moral nenhuma pra tentar explicar a forma com que pedi. Sim, muita confusão e vontade de acertar. E lá  estou eu esculhambado tudo por afobação numa coisa que não deveria me abalar faz anos. Não acreditar em mim mesmo tem esses problemas recorrentes: parece que estou sempre tendo que provar meu valor... não pros outros, mas para mim mesmo.
 
            Sei que me desculpar não repara os danos, mas se serve de consolo, todo esse processo está  me fazendo melhorar na marra. No final eu peço desculpas de coração. E eu sei que pra ti já  passou. Tu sabe sentir raiva mas não consegue guardar rancor. Ainda tenho muitas lições pra tirar do que aconteceu e do que com certeza ainda vai acontecer nas entrelinhas dos nossos bailes. Te agradeço pela paciência. Sempre falo que meu trabalho é  fácil porque eu ando com os grandes. E dentro e fora do palco, tu é um dos maiores. No meu coração tu tem um lugar especial, com vista pro mar e frigobar sempre cheio.

Fica sempre bem.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Sou só sol

Olhos azuis que olham diretamente através de mim. Eu conheço eles faz mais de 20 anos.

Quando eles brilham tudo fica mais fácil.

Mas eu vi um batalha acontecendo atrás deles.

Perdoar os outros é fácil, mas perdoar a si mesmo é o próprio inferno.

Tanta coisa que eu não sei, tanta coisa que eu falei porque um anjo me pediu pra falar.

Tanta coisa que simplesmente não precisa ser dita.

Um abraço e nossas almas tão teimosas e machucadas encontraram a velha zona de segurança.

Passaram 20 anos. Definitivamente não somos mais os mesmos

Ela é a minha amizade mais antiga.


E certas coisas nunca vão mudar.

O acaso deve ter trabalho para fazer a gente se encontrar quando precisamos um do outro.

Ou talvez, seja uma saída fácil: - Coloca aqueles dois juntos que eles vão se curar.

Porque a Grazi tem o mesmo problema que eu: Consegue curar os outros, mas falha sistematicamente quando precisa curar a si mesma.

Disfarçamos nossas cicatrizes com tatuagens.

Mas tudo se resume a uma vontade recíproca de que o outro esteja bem.


E um desenho bobo do sol e da lua.
 

sábado, 10 de dezembro de 2016

Arpegios até imaginar as notas que não estou fazendo

Pode até parecer estranho ficar em casa numa sexta-feira.
Mas o fato é que não dormi exatamente sozinho..
O campo harmônico volta a meu parque de diversões
Freud ainda me faz sorrir quando lembro.

Só pela baixista.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Sempre vou Saltar no Desconhecdio

           Há coisas na vida que dependem exclusivamente de paciência e força de vontade. Fiquei 3 dias brigando com meu computador pra fazer ele funcionar com as peças novas que comprei. E a assistência técnica estava a mais ou menos 300 reais de distância. Foi divertido tentar e tentar e tentar de novo. Tentativa e erro, comigo tendo certeza que iria errar dezenas de vezes antes de acertar, mas que precisava acertar só uma vez. No fim, uma alteração de 0,150v na tensão da memória RAM resolveu. Sinto um certo orgulho - não por ter feito funcionar ou por não ter desistido - mas sim por não  ter defenestrado o computador no meio do processo.

            E eu volto pro contrabaixo. Me faz sorrir. Esse é o Elias, meu sem trastes. Com os espólios do Festival de Blues. Encho o chão de partituras como se fosse o cenário pra minha inquietação. Nele eu toco Bach e Replicantes, Chico Buarque e Muse... como se estivesse procurando alguma coisa. A mesma sensação das tardes quentes estudando com o metrônomo rindo da minha cara. Uma nota depois da outra, um compasso por vez. Respirando nos silêncios e afinando as notas na marra. Quando chove eu paro tudo e fico quietinho pra não atrapalhar a água que cai. Eu sei que tudo deveria ser mais prático, organizado e racional, mas depois de estabelecer uma ligação espiritual com a música, nada mais soa como antes.

 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Seria Sonhar Demais.?

       Eu tenho que falar do festival, já que respirei o festival de blues na última semana, mas antes eu preciso falar de uma coisa que fez com esse festival fosse o mais mágico de todos.

       Às vezes a gente encontra aquilo que mais teme no meio do caminho. Mas, às vezes, o mundo nos coloca de frente com o que mais desejamos. E eu julgava tão impossível. Assim como o raposa ganha pela cor do trigo. Eu ganho pelo groove do baixo. Eu ganho pelo sorriso bobo. De todo o festival eu queria uma única coisa. E de repente tudo que eu queria estava ali ao alcance da minha mão. A mix do P.A. estava exatamente como deveria estar, mas eu aumentei o volume do baixo. Eu queria ouvir melhor.

        E no meio de toda a confusão eu pulei de novo de bungee jump. Dando gargalhadas enquanto lembrava das lições de física pra girar mais rápido. Se soltar olhando pro horizonte e se inclinando pra frente deixaria tudo mais fácil. Mas eu não. Eu pulo olhando pro chão. Não vou me deixando cair a ponto de não ter volta. Eu escolho me jogar. E embora aqueles poucos segundos de queda livre façam o cérebro surtar, a ideia de me agarrar em alguma coisa nunca passou pela minha cabeça. Eu olho pro abismo e o abismo olha pra mim. E minhas asas sabem o que fazer.

        Olhos cor de mate cuspido cheios de água me são tão familiares, mas foi estranho ver eles em outro lugar. Espero que o tempo resolva logo o que precisa ser resolvido. Não tenho pressa pra ser feliz. Mas estamos uns 10 anos atrasados, no mínimo...

         O efeito Faccioli foi devastador, mas depois de 5 festivais, já sei lidar bem com o fim do trabalho e o início da bebedeira sem volta do último dia. Essas duas coisas acontecendo ao mesmo tempo, no caso. Sai do festival sozinho segurando um crachá como se fosse um brinquedo novo. Era minha prova que tudo foi verdade. E eu ria sozinho. O caos até me assusta, mas nunca consegue me fazer hesitar.
 
        Sei bem que deveria descansar. Mas ainda não. Eu tinha um show pra fazer. coisas demais aqui dentro. E queria contar as novidade pro Virgílio. Depois de tanto estudar, tanto sentir e tanto viver a música; é engraçado pensar que um beijo conseguiu mudar meu jeito de tocar.

       Depois de tudo, fui buscar umas coisas no festival, já no domingo de noite. Foi a primeira vez que caminhei sem pressa por ali. E a chuva veio me encontrar enquanto eu conferia se tudo estava no lugar que deveria estar. Fumei um último cigarro sentado na casinha abraçado com a chuva. Lembrei do meu trabalho. Esse festival sempre vai ser inesquecível pra mim.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Chicotadas entre o velório e o enterro


       Entrei no velório com uma pequena flor na mão. Não coloquei ela junto com todas coroas de flores, mas deixei ela sutilmente escondida debaixo do tapete. A Dona Morte gosta desses meus pequenos caprichos. Da mesma maneira que guardo moedas para pagar um barqueiro, entrego flores para que ela seja gentil com os que leva até o outro lado.

         Cada vez que vejo um caixão se fechando, morre um pedaço de mim. Cada vez que ouço o barulho da madeira raspando no cimento quando colocam o caixão na sepultura, morre um pouco daquilo que me faz humano. Não acredito em ressurreição, mas que haja sempre esperança e força pra fazer renascer o que a morte nos tira. Que as lembranças desse ritual medieval que é o enterro não sejam capazes de macular as lembranças de uma vida de alegria. Que a dor desse momento não chegue sequer a balançar o amor e o laço que nos une àqueles que foram.

      Muita besteira se fez e se disse em nome do Único Acima, mas no livro dele, ainda encontra-se sabedoria:

           "As almas dos justos, porém, estão na mão de Deus, e nenhum tormento os atingirá. Aos  olhos  dos  insensatos  parecem  ter  morrido;  sua  saída  do  mundo  foi  considerada uma desgraça e sua partida do meio de nós, uma destruição, mas eles estão na paz.  Aos olhos humanos parecem ter sido castigados, mas sua esperança é cheia de imortalidade. Tendo  sofrido  leves  correções,  serão  cumulados  de  grandes  bens,  porque  Deus  os pôs  à prova e os achou dignos de si. Provou-os como se prova o ouro na fornalha, e aceitou-os como ofertas de holocausto; no  tempo  do  seu  julgamento  hão  de  brilhar,  como  centelhas  que  correm  no  meio  do  canavial; vão julgar as nações e dominar os povos, e o seu Senhor será rei para sempre. Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor descansarão junto  a  ele.  Pois  a  graça  e  a  misericórdia  são  para  seus  santos  e  a  visita  divina  é  para  seus eleitos. "

        Muita força e muita paz para os familiares e amigos da Dona Lia, em especial para o Robledo, esse irmão que a vida me deu.

domingo, 6 de novembro de 2016

A palavrta da noite: hiato


            Eu queria postar essa música no face, mas sei que soaria como uma indireta. Posto aqui porque ela é uma indireta.

















          Meu rosto me trai enquanto toco. E na minha cara fica estampado meu pensamento. E eu toco sorrindo enquanto dentro de mim existe uma cacofonia de vozes e opiniões e caminhos. Minha fuga e minha catarse no mesmo lugar.  Talvez eu me esconda por mero cacoete.

         Um show no boliche volta com uma tonelada de lembranças no espaço de um cigarro. Uma noite esculhambada do passado que acabou no motel do jeito errado. Se bem que, faz tanto tempo que certo e errado não são mais zero e um. Faz tanto tempo que certo e errado são relativos. E naquela noite fizemos o que foi possível. O que foi preciso.

Navegar é preciso. Viver não.

Um pequeno hiato na noite que foi preenchido conversando com um otorrinolaringologista e com um mestre em história e filosofia. É o diabo, mas essas noites me fazem pensar que estou exatamente onde deveria estar. É o inferno, mas fala-se com conhecimento de causa sobre ética e moral. As circunstâncias nos levam a trabalhar juntos. E o trabalho nos torna amigos.



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Dentro de uma camisa do grêmio - pt 9

               Shows, correria, pouquíssimo sono e muitas lições: 3 dias de baile que eu resumo com intensidade. A paciência de vocês tentando me ensinar calma e humildade não passou desapercebida..Depois de tudo, toca pra Porto Alegre. A redenção é lá, ao que parece. E o acaso que tanto me ajuda/me fode/me salva/me esculhamba coloca no meu caminho o que eu mais quero. ¿Será que algum dia vou me sentir pronto.?

                Volta pra Caxias e corrige uma falha de caráter. Chega e casa e se joga na cama. Pegar no sono não descreve bem o que acontece. Eu desmaio. A rinite alérgica era sinal de que o corpo estava no limite, muito antes do fim de domingo. Mas não seria eu se não fosse até o fim. Pensei que ia dormir até o meio da tarde, mas antes do amanhecer já estava de pé. Entre crueldade sincera e necessária e um sorriso que não sai de mim, muita coisa pra processar. E tomei café como a mesma vontade com a qual um homem se afogando se agarraria numa boia. Tenta ser frio, tenta raciocinar. O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu, mas eu acho que meu lugar de voar ainda no céu do italiano. O mesmo céu que no qual ele seguia estrelas. ¿È amor que nunca deixou de ser.? É teimosia chamada de persistência.? Não tenho  as respostas que deveria ter, mas, por Deus, como eu tento encontrá-las.

               Bobagem minha esperar que não houvesse uma crueldade sincera na pessoa que me chutou do alto da montanha. E com duras palavras eu vou me reconstruindo. Tentei ser perfeito, tentei compensar...agora quero apensar ser eu mesmo. Seguimos em frente, de fato, mas há algo que une uma circunferência e uma linha reta. Tudo é uma questão de escala. Tudo é uma questão que fazer meus olhos brilharem ou não.

       E sim, eu sempre tomo cuidado com o que peço. Mas naqueles momentos em que fico invisível sorrindo eu sempre peço a mesma coisa. É mais forte do que eu. 

Nunca me conceda descansar. 

Ainda serei o terceiro.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Por baixo de um chapéu canalha.

                Trabalho com o Fher faz um tempo já. Entre palcos e mesas de som, temos uma parceria profissional fantástica. Mas mesmo depois desse tempo todo, ainda acho estranho tocar com ele. O Fher toca baixo muito melhor que eu. E de alguma forma, eu estou ali com 5 cordas na mão me divertindo. E sempre é bom. Gosto de ficar perto de pessoas que ensinam pelo exemplo e não com conselhos enfadonhos. E sinto-me feliz a ponto de tocar melhor. Às vezes eu sei que atrapalho, mas seguimos sempre pedindo desculpas em vez de pedir permissão.

                 E sempre corre-se riscos interessantes. Do nada ele puxa uma uma harmonia de 2 acordes e antes que eu me desse conta estava tocando uma música da Bandida. Fora que posso tocar músicas que sempre vi ele tocando:


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O jogo mais difícil é não fazer jogo nenhum

Eu não sou referência  para temperatura ou quantidade de roupa. E sinceramente nem sei se está  frio ou quente. Sigo com a janela aberta como se isso fosse decisivo pra chuva cair melhor.

Por outro lado, eu sei que preciso de água quente pro chimarrão  e precisam de roupas secas nessa casa.




Fico me perguntando o que terá acontecido com o Boris. E tentando entender a chuva. E as pessoas. Chego perto de conseguir, mas odeio admitir que isso não facilita nada.

Pelo menos eu sinto que as peças se encaixam depois de começar o dia com um banho de chuva enquanto cuspo o mate na grama.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Frases simples e despretenciosas sobre grandes assuntos

"Eu não te analiso"
-  Batatinha, Rê. A minha psicóloga preferida.
Mentindo descaradamente, diga-se de passagem.

Harmonia


      Houve um tempo em que tudo se resolvia lá pelas 3 da manhã. Eu dava o dia por encerrado, escrevia algumas coisas num caderno ou em bilhetes pra mim mesmo ou ainda, escrevia cartas que nunca mandei.

       As coisas foram mudando devagar e eu não sei exatamente como cheguei aonde me coloco agora. Quase todas as manhãs eu vejo o amanhecer. Ou porque não dormi ou porque já estou acordado. Escrever, tocar,  viajar... ainda não encontrei o que acalme minha inquietação.

        Fiquei tocando a noite inteira, mas agora que está chovendo, eu sentei na janela pra ouvir minha amiga. Nada que eu toque soará mais apropriado que o som da chuva amanhecendo mais um dia.

         E nenhum sorriso meu será tão sincero quanto aquele que aparece numa foto PB com contraste estourado.

domingo, 16 de outubro de 2016

Por uma pena vermelha

         Voltando do baile, enquanto todos dormiam na van, eu olhava pra escuridão ficando luz. Um lusco fusco de aurora. E cantando pra mim mesmo uma velha ópera. 
 

Dilegua, o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All'alba vinceró!
Vinceró, vinceró!
 


           Não venci nada. Vi o mundo ser ótimo como quem oferece uma bebida antes de dar uma nóticia ruim. Vi o que mais quero. O que me coloca no céu e me afunda. E eu lembro que é bom estar vivo. E sigo escrevendo como se fosse salvar a vida de alguém.

Provavelmente a minha.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Lá vamos nós de novo

         Eu postei uma música do Bush no face hoje de manhã. Mas a mesma linha de raciocínio me trouxe até essa outra, do U2. Eu diria algo assim, se pudesse.



You ask me to enter, but then you make me crawl
And I can't keep holding on to what you got

So far, so good

        Uma marca no meu braço dizendo que as firmas conferem. Eu sempre carimbo minha pele pra ver o desenho do carimbo pra só depois perceber que tem um desenho em cima dele. Enquanto eu tocava sorrindo ia pensando nisso. O que havia me levado até ali.? O dia com a mesma sensação de não quero ir/ sei que tenho que ir.

         Tomei um pé na bunda em Paris. E fingi o quanto consegui que isso não me abalou. Passei o rodo em Londres e quando voltei precisei de um rodo maior pra usar como estandarte da minha covardia e consequente fuga. E também precisei de um lugar pra me sentir seguro. De repente me vi obrigado a abrir mão de uma pessoa que fazia/faz parte de mim pra evitar o caos na vida dela. E todos os dias eu preciso me convencer que esse plano ridículo é o melhor. Uma metáfora que eu adorava dizia que eu não julgava nenhum caminho, porque tinha uma tendinha na beira da trilha que sobe a montanha. E as pessoas paravam ali por um tempo e eu as ajudava como fosse possível. Como fosse necessário. Eventualmente elas seguiam em frente e eu ficava ali. As justificativas para essa metáfora mudaram conforme os anos passaram, mas sempre senti que podia subir a hora que quisesse, mas que era muito mais útil ajudando os outros. E senti que precisava curar certas feridas antes de continuar subindo. Mas sabemos bem que certas feridas pintadas de vermelho nas minhas costas nunca vão parar de doer.

        Meu lugar seguro passar por voltar pra essa metáfora. Passa por voltar a jogar warcraft e tocar baixo e cello como se a tendinite não importasse. Eu sei bem que nada será como antes. Confiar em quem não confia em mim cobrou um preço alto demais. E posso achar engraçado ter amigos que conseguem hackear meu computador, mas na prática há coisas que eu simplesmente não quero expor. E é inevitável sentir que invadiram um espaço que não deveriam invadir. Ou melhor, que usaram mal um espaço que sempre esteve aberto. Em vez de muros, meus tijolos eu uso fazendo pontes. Ou canteiros pras flores.

           Sempre que eu toco eu lembro do Barão e nossas conversas sobre não olhar para o instrumento tocando. E se não olho pras cordas, posso olhar pras pessoas. Posso olhar pro batera tocando diferente enquanto eu tento descobrir/adivinhar o que está acontecendo. Posso procurar cores e sorrisos na plateia. Ou posso sorrir e desaparecer de olhos fechados enquanto o Virgílio toca a harmonia sozinho.

           Uma coisa é certa. Se fico parado é por não querer caminhar com sapatos que me machucam. Ou trilhar caminhos que não são meus. Aquilo que perdemos nos fogo, encontraremos nas cinzas.

domingo, 2 de outubro de 2016

Serenidade e euforia

       Eu convivo com o Kiko faz anos. A gente tem conversas infinitas sobre equipamentos de som, pirâmides, forças ocultas que governam esse país e putarias do passado. Já tocamos algumas vezes juntos mas ele sempre me surpreende tocando. Ontem a noite ele precisou exatamente de 3 notas pra me deixar impressionado. Eu lembrei do que é poder, do mesmo tipo de poder daquele simpático senhor inglês com uma fender preta na mão. E ali vi meu amigo cavocando a velha ibanes tocando pink floyd. E de repente estar num palco tocando voltou a ser o que era. O que nunca deveria ter deixado de ser.  A catarse e a liberdade batendo no meu peito. E eu pensando mil coisas enquanto o Virgílio tocava sozinho. Ou sorrindo sem pensar em nada. Aquela bolha mágica onde todas as escalas estão debaixo dos dedos e as notas certas ficam fáceis.

        Queria a minha senhora ali. Minha cúmplice. Me viu quando eu estava na vala e merecia me ver batendo asas. E eu teria com ela uma daquelas nossas conversas gigantescas sem dizer palavra. E com o kiko fazendo o solo de confortably numb, todas as coisas estariam no seu devido lugar. Na minha cabeça aquele si menor sempre lembra a mesma música. Nessa rua nessa rua tem um bosque que se chama que se chama solidão.

         No fim, usando o shuffle como quem diz, "Calma guri, eu estou ocupando mas ainda não me esqueci de ti", o Único Acima fez tocar Turn the page do Metallica e Free Bird do Lynyrd. Eu fingi que não ouvi. E ele continuou me cutucando. 

Que assim seja, vou terminar de colocar o lixo pra fora e depois conversamos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Um escambo feito a cada dia

           Eu falo que li a bíblia 3 vezes só pra ter argumentos pra provar que Deus, não existe, mas o motivo não é bem esse. Mesmo estando na versão 5.3, ainda há sabedoria ali. E tem um cara, do meio da primeira temporada. Ele é o único cara que discute com Deus. O nome dele é Elias e eu já contei a história dele em algum lugar desse blog. Acho que contei. Enfim, lembrei de uma frase da discussão. "Um homem pode abandonar a sua busca, mas não pode esquecê-la". Não que fosse possível esquecer alguma coisa, mas não acreditar estava se tornando um problema.

            E devagar, engatinhando do jeito que posso, vou voltando a fazer o que faço. O mesmo trabalho aparentemente não remunerado, mas através do qual eu me reconstruo. É assim que se faz música: uma nota atrás da outra temperados com os silêncios que tanto prezo.Cansei de ficar parado por medo de tropeçar. De chorar por medo de sorrir. ¿Está tudo bem? Não, muito não. Mas tenho todas as ferramentas para não me importar com isso de novo.

              A ruiva é muito boa em cuidar de idiotas. Ela me vê, mas é um preço justo. Quem não tem força tem que ter malandragem. A armadura não defende nada nada nada. MAS eu esquivo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Redentoras


Hei de ter uma tabuada e o meu livro "Queres Ler"
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do Seu Afonso saiba que ela é o meu bem querer..

              Não sei nem se o Único Acima estava sequer se esforçando. Mas tomei uma goleada no campeonato de ironias. É enlouquecedor pensar que é possível gerenciar um mundo inteiro usando apenas o Bar do Miro, o shufle do tocador de mp3 e os vendedores de sonho. Penso em tudo que teve que acontecer pra que eu esbarrasse no Nerudão no fim de tudo. ¿Como uma cuia tão pequena pode pesar tanto.? Haverá alguma payada do Jaime Caetano que explique esse emaranhado em que me meti.




segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Mmmmm mmmmmm mmmmmmm mmmmmmmm

               Domingo eu acordei sabendo que iria fazer mágica. Ouvindo minha música sépia. E o plano não era nem meu, eu só estava ali porque não havia outro lugar em que eu pudesse estar. Tenho que admitir que um plano que me coloca com um baixo na mão escorado num balcão é genial. E tinha o Bledo. E tinha o Kiko mestre. E eu de cabelo solto provando que fico invisível tocando. Ninguém via a lágrima teimosa que eu disfarcei com um sorriso grande. Eu ia cantando as músicas, mas na minha cabeça a mesma frase "canta, la gente está aplaudiendo, aunque te estés muriendo no conocem tu dolor".  Aquela proposta de paz parece sedutora no momento. E eu gargalho lembrando da Simone de Beauvoir. Realmente, muito menos terrível quando se está cansado. Isso deve soar bem em francês.

              A propósito, passou agosto e eu terminei ele na praia. Nem todo aquele mar poderia afogar os fantasmas que me assombram. Mas isso nunca me impediu de tentar. E na relativa solidão do litoral no inverno eu conto histórias brincando com a areia. E conto ondas, horas e dias. E o Tiago e o Vento conversam e discutem. E chove. E eu corro pra fora quando chove. E eu corro pro mar quando me perco. A conversa que eu realmente queria ter parece fora do meu alcance. Volto disposto a investir em egoísmo, mas esse ultimo ato de altruísmo eu quero manter.

                   E as segundas são legais. Eu fico com bolhas nos dedos por tocar forte demais no domingo. (Ao que parecem os anjos são um pouco surdos". E fico tocando celo até o braço doer porque não sei segurar o arco direito. Depois de tantos anos é engraçado tentar tocar um instrumento novo e não conseguir. O nome dele é Lourenço. O Frei com planos mirabolantes amigo dos capuletto e dos Montechios. E segue a minha sina em não me identificar com os personagens principais. Meu arquétipo é outro.

Y ya vez, la noche se hace larga.. mi vida tiene un carma: cantar, sempre cantar."

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

¿Acaso?

                Um festa que eu não queria ir. Fiquei o dia inteiro me debatendo com isso. Mas eu dei minha palavra e iria, independente de qualquer coisa. Em algum lugar aqui dentro, uma das vozes dizia que eu tinha que estar lá. Eu tinha meus motivos pra ir e eles tinham nomes: Fernando, Mauro, Robledo, Luís, Tita, Rafael, Fran, Joce, Graziano. Um equação simples. Todos eles juntos seria uma catarse. Não havia como não ser assim.

                  Eu tenho um coração partido. Pedaços e mais pedaços que eu mantenho juntos a base de água salgada e teimosia. Que quebro e continuo costurando. E no meio do lugar mais impensável. Na festa que eu não queria ir. Aparece um sorriso que faz todos os pedaços vibrarem na mesma frequência. E de repente, lá estava eu me olhando no espelho. Sem sentir a sensação de que estou fora do lugar. Uma mulher usando comigo o que eu uso com os outros. Gémeos, é lógico. Cada estrela da constelação rindo da minha cara. Mas chovia e tudo parecia estar no lugar. 

                  No meio de tudo eu vi minha irmã. Nunca haverá um Dom Quixote sem sua Dulcinéia. Mas sei do peso que sou. Das coisas ruins que trago de volta pra ela. Achei justo olhar ela de longe enquanto ela se desmanchava no roupa nova. Depois encontro com ela e ela me para. Ela sabe que apesar da minha capacidade e do meu esforço em fazer com que ela fique sempre bem. Ela perguntou como eu estava. Com ela sempre serei sincero. A vulnerabilidade que dá poder. Perdido, achando que nenhum rumo vale a pena, meio bipolar e com vontade de ser sozinho. Uma abraço pra eu ter certeza que há no mundo alguém que me entende. E para me dar coragem, coisa que ela sempre fez com maestria.

                E meu caminho passa por uma porta com o símbolo de Ganesha. ¿Se a Dulcinéia fez parte do campeonato de ironias, o que dizer da mudança de deus Hindu.? E depois de tanto tenpo, ali estava eu, com a sensação suprema de que eu estava exatamente onde deveria estar. 

                  Já no dia seguinte um baterista me manda mensagem e me agradece. Eu queria ter as palavras para conseguir explicar pra ele que existe uma certa mágica em certos shows. E pode ser um show do David Gilmour ou do cara que toca violão e voz num boteco chinelão. E que os shows dele normalmente tem essa magia. Se bem que, bobagem minha tentar explicar. Ele sabe dessa mágica. Há um time. Um pequeno time de gente de coração puro e meio maluca que sabe bem dessa mágica. E não precisa me agradecer. O que se faz de coração não carece de agradecimento nenhum. Eu é que agradeço. Aprendi mais vendo ele com duas baquetas na mão do que com muitos professores de contrabaixo que tive. E nas nossas conversas acabo me tornando uma pessoa melhor. E, se sou uma pessoa melhor, toco melhor. Mas ¿o que importa se toco bem ou mal? Eu tenho os melhores amigos do mundo e eles tornam minha vida melhor. Isso é o que importa.

                         Falando em melhores amigos. Feliz aniversário, Mestre. Mais do que nunca.. Lc 6:40

                         Logo no Warcraft. Um druida. Faz todo sentido pra mim. Poder mudar de forma e se adaptar. Se transformar num gato grande que consegue desaparecer. Mas o buraco é mais embaixo. O Potro jogava de druida. Ele jogava pra caralho de druida. Ainda acho que imitação é a melhor forma de homenagem. Cada vez que uso a magia rejuvenescer tem um pouco do Potro ali. E quando mudo pra forma de urso eu sorrio bobo lembrando que ele saiu da bolha e que está muito melhor agora. De todas as minhas teorias furadas pelo menos uma se mostra verdadeira. Quem fica longe do caos familiar fica melhor.

                             Num dia estou gritando comigo mesmo para sair de casa. No outro brindo tomando Moet Chandon.
          

                    Agosto. Segue agosto de rédea solta. Viver é bom.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Here comes a New Challenger

        Eu lembro de cada jogada de algumas partidas de xadrez. E eu lembro também de uma partida de Street Fighter com o Negão no fliper da sorvelândia.

        Era começo de mês e ele estava impossível jogando com o Akuma. Tinha fila pra jogar contra ele. Quando chegou a minha vez, eu escolhi o Ken. Era como correr com um carro 1.0 contra um 1.8... mas eu tinha um plano.

           Ganhei o primeiro round por tempo. Ele cansou de ficar trocando hadoukens e pulou em cima de mim. Gastei 2 barras de especial pra tirar o máximo de vida possível. E pra sair do canto.

          Perdi o foco no segundo round e apanhei feio. Mas enchi as 3 barras de especial que eu ia precisar.

        O fliperama parou pra ver a gente jogar. E eu sei que o Negão estava preocupado porque ele parou de falar abobrinha pra me provocar e ficou quieto. Ele sabia que podia perder. E eu sabia que podia ganhar.

       Eu estava ganhando mas errei um shoryuken e ele não perdoou. Soco forte no ar, rasteira média e aquele maldito hadouken que derruba. Quando caí ele soltou aquele especial que provavelmente iria me matar. soco fraco duas vezes, chute fraco e soco forte. Sempre achei incrível como ele não errava isso. Mas eu sabia o que fazer. 2 meia luas pra frente e os 3 socos no momento exato. Meu especial nível 3 anulou o dele e patrolou a vida do Akuma. Ele não havia perdido, mas eu tinha uma vantagem considerável. E pelo soco que ele deu na máquina, não estava mais querendo fazer piadinhas. Quando eu estava a uma distância segura, apertei start. A provocação do ken. Eu sorria. Sabia que ele ia pular em cima com aquela maldita voadora média que descia mais rápido. Ganhei com um shoryuken fraco. 



          Cada um jogava numa máquina diferente e eu fui até o lugar que ele estava jogando. Não fiz nenhuma piada enquanto ele ficava reclamando de tudo. Lembro que ele disse.. " -Eu jogo melhor". Respondi a única coisa que fazia sentido pra mim naquela hora. "-Sim, joga... mas eu ganhei" E sem perder a arrogância que eu já tinha na época, olhei pra multidão que estava aglomerada ao redor das máquinas e perguntei  "-Quem é o próximo?"

         Eu lembro de tudo isso porque me dei conta naquele momento que eu não era o melhor, mas que as vezes precisava me comportar como se eu fosse. Independente de qualquer outra coisa, eu sabia o que precisava ser feito e tinha a força necessária pra fazer. 

Volta pro final de semana passado. Mesa de som nova. 
Eu perdido, mas focado. Com medo, mas preparado. 

Volta pro show de ontem. Tocando pra pessoas que me balançam.
Tocando errado, mas com paixão. Com vergonha, mas sorrindo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Ainda sobre o fim de semana

           Agosto, sempre em agosto. o mês onde o Tiago e o Vento sempre discutiram tanto. De qualquer forma, entrei ventando, com o Virgílio na mão. Discutindo comportamento humano com uma psicóloga, da mesma forma que discutia a bíblia com uma professora de teologia. Tocando Adele e chorando sem ninguém ver. Achando o máximo a mulher do bar não gostar de mim. Não me sentindo fora do lugar. Batendo forte o pé junto com o bumbo de um baterista de coração bom. Soando intenso e verdadeiro em cada nota.

           A conversa que tive comigo mesmo naquele ônibus a caminho de Alter do Chão não foi esquecida. A paz que eu tanto quero a um preço que não consigo pagar. Como se minha felicidade estivesse a um oceano de distância e Deus só me desse uma tábua por dia pra Jangada. E o Diabo sempre cochichando no meu ouvido pra eu ir nadando. 

           E volta minha senhora. Meu plano deu tão errado. Achei que longe dela - que longe deles - eles ficariam melhores. ¿Quem pode me julgar por pensar assim.? Tantos se afastaram e ficaram tão bem. Toda a ideia de ficar na vida das pessoas somente enquanto sou necessário. Toda a certeza de saber que invariavelmente faço mal para quem fica perto por tempo demais. Pra quem chega perto demais a ponto de gostar de mim.

            Mas ela voltou. E quando estamos juntos. somos mais do que duas pessoas. Cada um vale por muitos. Quando estamos juntos, somos mais do que uma dupla. Somos um time. Qualquer um pode ver que o universo trabalha com a gente, para o bem e para o mal. E isso da a liberdade de fazer qualquer coisa. Liberdade essa que usamos muito bem, diga-se de passagem.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Um silêncio ensurdecedor

          Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver.

               23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. E o Ulay chegou sem que ela soubesse...


              Esse vídeo sempre volta.  Gosto de silêncios. E esse é um dos meus silêncios mais intensos. Não o dela com ele, cheio de cumplicidade, mas o que veio depois. Quando ela está sozinha de novo de olhos fechados. Brigando para voltar. Brigando com o desejo que ele ainda estivesse ali quando ela abrisse os olhos.


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Bonjour

         Houve um tempo em que tudo fazia sentido quando eram 3 horas da manhã e eu estava esbarrando em respostas pra perguntas que eu nem sabia formular direito.

             Houve um tempo em que eu não sentia pena de mim mesmo.

          Acordei num sobresalto 3 e meia. Não consigo lembrar que horas fui dormir. Meu dente dói, mas não é uma dor física. O que dói de verdade é minha negligência. Em tudo. 

            Levanto da cama com raiva. Um banho no escuro. ¿Onde terá ido parar a aranha que morava no meu banheiro.? Cozinha e o mesmo ritual de sempre. Coloca água pra esquentar enquanto faz fogo no fogão a lenha pros meus pais acordarem e a cozinha estar quente. Vai lá fora cuspir a água fria do chimarrão. Chuva. Grama gelada. Talvez eu devesse mesmo não fazer isso descalço. 

              O amanhecer cinza me encanta. Vontade de chorar. ¿Melancolia ou saudade? Às vezes o amor não dá certo. Acho que o amor não importa mais tanto. O chimarrão fica bom. É como puxar água por um canudo. Tudo está bem. 

            Ninguém quer saber das tempestades que encontrei. Tudo que importa é se eu trouxe o navio ou não.

domingo, 24 de julho de 2016

Bienvenue dans ma réalité

         Eu não queria jogar Overwatch, mas um cara de São Paulo comprou o jogo pra mim. E apareceu uma sniper francesa chamada Widowmaker. Com uma aranha tatuada nas costas. 

           E eu jogo com ela só pra ouvir o sotaque francês.



Fico brigando com meu baixo e zaz... me aparece  isso: 


Je veux d'l'amour, d'la joie, de la bonne humeur
C'n'est pas votre argent qui f'ra mon bonheur
Moi j'veux crever la main sur le cœur

Allons ensemble, découvrir ma liberté
Oubliez donc tous vos clichés
Bienvenue dans ma réalité


Eu vejo o que vocês estão fazendo. Muito obrigado.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Cursus ut finem

       Passando na frente da Igreja de São Pelegrino ouvi os sinos soarem como a voz de um velho conhecido. Entendi o recado e entrei na igreja. Às vezes quem está precisando muito de ajuda não consegue enxergar isso por si próprio.

         No altar há uma bíblia velha, cheia de anotações. Subi e peguei ela como se ela fosse minha. Salmo 34. O senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e o espírito abatido. No fim eu estava só segurando um livro velho enquanto olhava pro teto. E ria de mim mesmo. Por que é isso que eu faço ali. Fico rindo e chorando enquanto repito pra mim mesmo que tudo isso vai passar. O padre vem e me pede a bíblia dizendo que precisava dela pra rezar a missa. E nós dois sabemos que é mentira, que era só medo que eu a roubasse. Mas era hora de sair. Nunca gostei de missas. Dou um abraço no padre e choro sem dizer uma palavra. Ele me vê sendo comedido faz mais de 20 anos, então acho normal o modo que ele fica surpreso com a minha intensidade. Ele pergunta se eu quero me confessar. E eu solto uma gargalhada sem medo de fazer barulho. Rir enquanto estou chorando: tão nós.

      Saindo pego de volta minha dor e meu desprezo por mim mesmo. Meus cães de guarda não entram em certos lugares. Sento nos degraus e penso em fumar. E decido parar de fumar, com uma exceção. Na minha mão um cartão postal que estava dentro da bíblia do altar. ¿Porque roubar um cartão postal? Porque era preciso um terceiro cartão postal pra fechar o ciclo.

         De tempos em tempo o Diabo vem e coloca o que eu mais quero na minha frente ao preço de uma mentira. E invariavelmente eu não consigo mentir. Chego a pensar que é muita crueldade dele. Uma punição por eu viver no inferno panfletando a favor do paraíso. Mas desde que me entendo por gente O Único Acima faz a mesma coisa: vem e me oferece a paz que eu mereço... também por um preço que eu não posso pagar. Irônico pensar que ambos fazem a mesma coisa por motivos tão diferentes.




Deve ser por causa desse tipo de coisa 

que eu me preocupo tanto

com os motivos das pessoas. 

Principalmente com os meus,


segunda-feira, 18 de julho de 2016

Um urso chamado Bóris

Eu escrevo poesias em carteiras de cigarro
Da mesma forma que escrevia recados 
Em notas amassadas de 2 reais

É meu jeito de ajudar o acaso que tanto venero
Posso ajudar um desconhecido que precisa de um sinal
Da mesma forma que desconhecidos me ajudam

Gosto de pensar que assim mantenho o equilíbrio
É uma mensagem que passa por felizes, tristes,
Negros, brancos, homens, mulheres.

Espero que algum dia, alguém encontre minhas mensagens 
Quando for realmente necessário.



sexta-feira, 8 de julho de 2016

Loucura e amor

         Não que os sinais do mundo tenham silenciado, mas me dei ao luxo de ficar um tempo trancado em casa. A gente nunca é tão vulnerável do que quando está apaixonado e eu paguei o preço por essa vulnerabilidade. Depois do tombo/decepção internacional, achei que podia me sentir insignificante sozinho por uns dias. Mas as ordens de mudança não mudaram e numa bela quinta feira, eu sabia que a mágica estaria em outro lugar.

          Entro num bar que não conheço pra ver no palco um dos reitores da universidade de caráter. Numa troca de olhares estão contidos mais de dez anos de piadas e de uma amizade sincera. Como se a vida não tivesse conseguido tirar de nós a inocência e ainda fossemos só duas crianças burras. Talvez a gente ainda seja. 

           Um cigarro e vejo os cabelos roxos da melhor colega de trabalho. E não deixa de ser engraçado o modo que a gente largou tudo pra se abraçar enquanto ria sem parar. Um riso de euforia pelo encontro e de medo pelo que sabíamos que viria depois. Ato contínuo, estávamos no balcão tomando um shot de jaggermeister. Vários shots. E não existia mais a menor possibilidade de uma festa tranquila. Sim e mais. Loucura e amor. Como se a noite não tivesse conseguido arrancar pedaços valiosos demais de nós dois. Porque segue a esperança de algo melhor. Fígado forte e coração puro. 

           A sensação da bolha, onde tudo fica fácil. Conversas sobre a casa do chá, a Oropa, França e Bahia. E aparece o Barão do Campo Harmônico, porque, ao que parece, a realeza dele funciona bem do lado deste menestrel desafinado. É provável que ele se divirta olhando de fora esse efeito que tenho sobre as pessoas. E a gente toma café de madrugada enquanto toca músicas aleatórias juntos, apenas como pretexto pra poder conversar. E enquanto tocamos melhor, vamos nos tornando pessoas melhores. Acordes e palavras que precisamos saber porque dizemos. Houve épocas em que sentia medo da análise dele nas nossas conversas. Tolice. Agora eu sei que na verdade cada um está ali analisando a si mesmo.

           Esqueci de tanta coisa. Fingi que era outra pessoa pra poder me encaixar. E mesmo encaixado, continuou desconfortável. Aceitei o inaceitável e senti raiva de mim incontáveis vezes. Senti pena das minhas tentativas inúteis de não me sentir inadequado. Fiz muita merda pra me punir. Mas parece que o que afoga a pessoa não é mergulhar e sim ficar tempo demais embaixo dágua. Estoicamente eu sigo. Nadando devagar...respirando ares novos


Nunca sozinho. Nunca impotente.

domingo, 3 de julho de 2016

Mind the Gap

        Texto de Londres, escrito em partes enquanto eu me escondia na sala de uma inglesa maluca e não conseguia dormir..

        Os que tem asas sempre se encontram. Eu tenho um campeonato de ironia com Deus mas de vez em quando a gente declara um armistício. E de repente, a 10000km do que deveria ser minha casa ele manda uma mulher com asas pra me arrancar do fundo do poço e me colocar no caminho a base de rum e rock n'roll. 

         Eu pensei na vela que tinha acendido para um anjo em Sacre Coer, lembrei de como jogo xadrez, de como vivo e vida e de como tudo isso é uma coisa só. E mesmo desmoronando mais rápido do que conseguia me remontar, mesmo tendo vontade de desaparecer, a Maira me encontrou lendo um jornal com a dignidade de um lorde inglês. 

       A vela foi porque eu já sabia o caminho que as coisas estavam seguindo. Não que fosse um plano, mas fica difícil não perceber o que o mundo está dizendo quando ele insiste em gritar na minha cara. Certas coisas são inevitáveis. E ali, tão longe de tudo, foi muito mais fácil ver as coisas em perspectiva..

         E viajamos para longe para descobrir que estávamos com um tesouro na mão quando estávamos em casa. Mas, quer saber.? o tesouro é uma ilusão. A falsa sensação de segurança, de proteção... ela não significa nada pra pessoas que nem eu. 

        Eu lembro da primeira vez que tomei rum na minha vida. E pra sempre vou lembrar de um rum envelhecido que bebi em Londres com gente do mundo inteiro, e que tinha gosto de mal de azheimer engarrafado pelo próprio demônio. 

        É incrível o que as pessoas falam perto de ti quando acham que vc não fala a língua delas. Ainda bem que não conseguimos ler pensamentos.

         Falar inglês é fácil. O problema é ouvir. Porque nunca é aquele inglês que eu estudei no yazigi quando ficava com a professora. É um irlândes, uma espanhola, uma romena ou uma iraniana falando com qualquer sotaque. Ainda bem que malandragem é uma linguagem universal.

         O vale transporte tinha mesmo que se chamar Oyster.? O velho trocadilho da música do Tool. É "peace of mind" or "piece of mind". Whatever.. I saw the gap again today...

Amor sem confiança segue impossível, só pra constar. 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O cadeado errado, no lugar certo


       Eu tinha desembarcado do avião fazia dez minutos, ainda estava na função de não fazer nada suspeito e sorrir pro cara da imigração que parecia o Jean Reno. Mas não se pode fugir do que  se é, não se pode ter medo de fazer o que se sabe. E de repente, na esteira n 2 do aeroporto Charles de Gaulle,  eu e o Gigio estávamos fazendo uma gambiarra com a cadeira de rodas da Jê.

       Pega um mertô e saí numa estação que me lembrou o terminal do tietê. Um caos familiar com um pequeno problema operacional: Eu não sabia falar a língua que se falava ali, salvo 16 palavras... Entre elas a frase "eu não sabia que não podia fazer isso". Um nóia me pediu um cigarro e me senti em casa. Lembrei da Carmem: "Faça ser incrível". 

        Na Champs Elysee Paris é  mais Paris. Eu pensei em ficar triste por não conseguir passear nela à noite, mas havia uma coisa que eu percebi já na chegada. As luzes de Paris não brilham só aos olhos. E de repente fez todo sentido ter sido um francês que disse que o essencial é  invisível aos olhos. Eu sentei num banco e sorri até ficar invisível pra ver a cidade sendo a cidade. Turistas estranhos e os franceses locais caminhando na mesma calçada misturados. 

          Existem textos que independem da língua pra serem entendidos. Se alguém cantar parabéns a você em alemão  ou rezar o pai nosso em russo, mesmo sem saber uma palavra, você consegue saber do que se trata. Debaixo do arco do triunfo há uma placa com o discurso que o de Gaulle fez quando a França se rendeu para a Alemanha na segunda guerra. O discurso que marca o início da famosa resistência francesa. Não falo francês mas sei que é aquele discurso. Eu sempre fui fã do de Gaulle.. mesmo antes de saber que ele disse que  o Brasil não pode ser levado a sério.

          E visitei Notre-Dame. E sinto um certo orgulho por ter tocado Blackbirds no lugar onde a Joana Darc foi beatificada, onde o Napoleão foi coroado. Uma tonelada de história e eu querendo uma nova guia. 

         Existe um pintor chamado Eugene Delacroix. Eu poderia falar da Mona Lisa, da Vênus de Milo, da centena de japoneses e de 123 outras coisas fantásticas que vi no Louvre.. mas eu vou falar de um quadro do Eugênio da Cruz. O nome do quadro é a barca de Dante. Eu li a Divina Comédia num período muito impressionável da minha vida. E lembro do quadro de um jeito diferente.  Vi a Mona lisa da mesma maneira que eu olharia pro Paul McCartney se eu o encontrasse: É óbvio que eu conheço e sei quem é, mas nunca dividi nada com ele. E ver o quadro sobre Dante foi como rever um velho amigo, que já passou noites e noites bebendo comigo num bar me ouvindo falar sobre minha vida mal resolvida. E vi a tatuagem da Jeane como quem vê uma mágica em que o desenho se torna realidade.


          No caminho pra Sacre Coer, aprendo o que é uma basílica e como se usam os banheiros públicos de Paris. Uma subida épica e a recompensa é uma vista de toda Paris. Lá dentro, acendo uma vela pro anjo que tem tido tanto trabalho ultimamente. E ouvi a mesma gargalhada de sempre. Eles ficarão bem. Ali eu já sabia exatamente pra onde as coisas estavam indo. Devia ter rezado por mim, mas meu relacionamento com qualquer deus não se dá dessa forma. 

          Achei que podia me apaixonar por Paris, mas chegou um momento em que eu percebi que já  estava irremediavelmente apaixonado. Depois de tanto ouvir falar do Mistral, ali estava o vento famoso da Europa. E eu não estava mais sozinho. 


              Não vi a bastilha..não vi a estátua que queria ver no cemitério famoso aquele. Mas tudo bem. Da mesma maneira que eu sempre soube que iria pisar no velho mundo, me despeço de Paris com um até logo. Eu sei que vou voltar.  Não fico triste por ir embora. Fico triste por ter demorado tanto pra ter vindo.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Sob o signo de capricórnio

A ausência de rotina às vezes desgasta e ás vezes motiva. A ausência, por si só, já desgasta. Eu que sou teimoso e tento encontrar mágica onde não há. 

Numa semana estou brincando de flanelinhas nas ruas de são paulo e na outra estou todo ralado de espinhos por pular uma cerca pra roubar bergamotas.

Numa semana vejo velhos jogando dominó a dinheiro com a seriedade de quem participa da final do pokerstars. E na outra estou na disneylândia da terceira idade e vejo uma partida de canastra no hall do hotel com a mesma seriedade.

Às vezes durmo num motel e o quarto alaga. Mas às vezes ganho café colonial no melhor hotel da cidade.

Pelas ruas vejo pessoas andando sem camisa e outras de ropão, todas muito sérias e seguras de si. Calor.. frio... chega um ponto em que nem isso importa mais.

Por trás de uma mesa de som, as vezes é como se eu estivesse em cima do palco apresentando a peça, mas as vezes é o trabalho mais solitário do mundo. E se sentir sozinho no meio de uma multidão é tão eu.

Diante de tudo isso eu sorrio e fico invisível. E tudo vai indo pro seu lugar. Seguimos. De um extremo ao outro. Sem meio termo. Sem nunca mais ser morno. Essa foi a promessa.