terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Aquele velho navio

           No fim é isso. 3 da manhã e eu escrevendo. Nunca soube dormir mesmo. Certas coisas me derrubam, e do chão eu alcanço o violão pra tocar sempre as mesmas músicas. As madrugadas foram feitas pra pensar. Pra desabafar com as paredes e sentir mais forte, mas acima de tudo pra pensar.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Milongueando uns troços

        Quando o Barão me chama pra cerveja e janta as 23h, eu sempre acho normal. Temos um imenso histórico de madrugadas de trabalho, resenha e filosofia. E chegou um ponto que marcamos um café as 2h da manhã  com a mesma naturalidade que as pessoas normais marcam cafés no fim da tarde. E dessa vez a pauta era certa, o show do Pink Floyd da véspera. Porque o tio David é o coração da banda. E, com todo respeito, nem o muro nem o Roger Watters fizeram falta. 

            Quando o Barão abriu a porta a gente se olhou nos olhos e sorriu. O mesmo brilho diferente em ambos. Eu confirmei minha teoria que nenhum músico seria o mesmo depois de assistir aquele amável senhor inglês. E falamos do show como músicos, como fãs e como pessoas. Eu fico admirado desse poder que a música e só a música tem. A mágica de fazer um estádio inteiro cantar. A humildade de um gigante. A paz de espírito e a satisfação de 50 mil pessoas.

            Mas claro que a conversa foi além. Aniversário do Beethoven. Toca a 5ª sinfonia- só os riffs - e Moonlight Sonata. Não sei bem como chegamos na comparação entre mitologia e música. A dualidade que permeia todos os arquétipos. A mesma entre tensão e repouso do sistema tonal. E o cérebro da gente é tonal, como bem se sabe. Dualidade entre a simplificação de tudo e a relação espiritual que temos com a música. Pessoas, notas, coisas, fatos, acordes, histórias. 

            2015 tá se puxando nessa finaleira. Vamos que ainda tem mais.


           

              E, por Deus, como eu senti falta das nossas conversas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Menos duas coisas da lista. Segura 2015 que ainda dá.

        Depois do show, as pessoas me diziam que tinha sido muito bom. Mas é claro que foi espetacular. ¿Esperavam o que de um cara que tocava no Pink Floyd.? As músicas do novo CD são muito boas e depois de começar o show com elas, ele pegou um violão e mandou o o sol maior mais negovéio de todos..E de repente tinha um estádio berrando Wish you were here.

         No fim de high hopes ele repete o refrão duas vezes. E depois ele faz um solo de lap steel. Na primeira nota eu estava chorando. Estava arrepiado. Eu não acreditava que era possível tanto. Eu estava feliz não só pór mim, mas todos os que eu conheço que estavam lá vendo e ouvindo a mesma coisa e sentindo a mesma coisa

         Sobre a luz ela é tão foda, mas tão foda que eles se dão ao luxo de usar o lazer só durante as duas músicas do bis. Eles emendaram Time e Confortably numb pra terminar. E digo eles porque a banda não é deste planeta. 

           Por fim eu queria dizer que depois do show de ontem, sempre que eu ouvir a palavra poder. Sempre que eu pensar no que é poder... A imagem que vai se formar na minha cabeça é de um amável senhor inglês segurando uma fender preta na mão.

Ah. E teve uma garota num vestido amarelo.


           E sempre vou me sentir agradecido por ter assistido o show do David Gilmour numa noite quente em Porto Alegre.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Calma 2015, ainda temos alguns quehaceres

          Anos tentando estabelecer um código sob o qual viver cobram o seu preço.

          Incontáveis vezes repeti para mim mesmo que tudo era possível porem nem tudo era me conveniente. Depois aperfeiçoei: "Nada é verdade. Tudo é permitido". É impossível dizer que nada é verdade sem soar pessimista, mas depois de tantos tombos e tropeços, acho até coerente que meu realismo soe pessimista. A falta de esperança ajuda. Quase enlouqueci tentando ponderar o que era condizente ou não. O que deveria fazer sendo que tudo seria permitido. Onde poderia me apoiar já que nada era suficientemente verdade para que eu pudesse confiar.

           Eu lembro que nas piores crises houve sempre uma mulher que me puxou pela mão e me colocou de volta nos trilhos. Agora que a minha irmã voltou - ela foi a melhor melhor de todas em me colocar nos trilhos - não posso deixar de me preocupar com o futuro. Tem uma tempestade no horizonte e mesmo sorrindo, não sei direito onde os ventos vão me jogar.
Pode até ser que os dragões sejam moinhos de vento. Tomara.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Alguns compassos são infinitos


        No meio da tarde eu olho pra mesa de som do mesmo jeito que olhava pro meu tabuleiro de xadrez. Fico com um pincel limpando ela e ajeitando as configurações como cuidava com o posicionamento das peças, bem no meio das casas. O nome da cena que crio diz muito "seguindo os passos" . Eu só estava ali por gentileza e esforço meu e de tantos que me ensinaram tanto. E em cada botão da mesa de som eu vejo a mesma mítica que antes tiveram os peões. De cada um eu sei o caminho e sei o porque. E quero que tudo soe bem assim como quero que todos encontrem a redenção no fim do tabuleiro.

           Eu acredito em planejamento e em erva mate moída grossa, mas mesmo com essas duas coisas, quando olhava pra trás as pernas perdiam um pouco a firmeza e meu coração balançava.  De qualquer forma era só mais um pretexto para fazer o que faço de melhor. Eu discutia comigo mesmo enquanto ia desenhando elefantes nos gráficos de frequências O fato é que há um momento, um momento em que alquimia da música bate forte. Quando tudo está no seu devido lugar. É algo que deveríamos apenas ouvir, mas que é tão forte que é impossível não sentir com os outros sentidos também. E nesse momento, quando o som ficava bom comigo e apesar de mim, eu sorria e ficava invisível. Às vezes eu faço música como uma equação. Às vezes soa como mágica. 

     Uma luz vermelha pisca e me coloca em xeque. "Vai até onde dá". Assim me ensinaram, assim eu trabalho. Nesse limiar entre risco e segurança a vida é melhor. Aumentava o volume do P.A. como quem pisa mais forte no acelerador. 

         Entre um show e outro, sinto meus pensamentos gaguejando em 3 línguas diferentes. Mas depois de ser canalha em inglês e espanhol, lembro que palavras são só palavras, independente do código delas

         E de trás de um quilt e um sorriso, já de manhã, veio uma daquelas frases que definem muito "Alguns entram de cabeça em tudo e outros entram de cabeça em nada". E de cabeça meio baixa, com o meu sorriso leve, pensei em todos que haviam entrado de cabeça na realização daquele festival. E todos todos todos tiveram a sua importância, desde o Bob Stroger até o segurança que me filava cigarros. 


Bob Strogeer e Headcutters no meu palco.

            Impossível citar todos, mas não posso deixar de citar alguns. Fher Costa, Babi, João, Monta, The Headcutters, Marcela, Tita, Rubia, Jeane, Gabi, Bledo, Kiko, Aguina, Lisi, Eduardo Hidromel, Faccioli, Sagui, Gabi, Mestre Kalifa. A cada festival que passa eu aprendo muito, não só sobre o meu trabalho, mas sobre o tipo de pessoa que eu quero ser. De coração, muchas gracias.