segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Uma menina cantando em francês me lembrou da montanha

    E finalmente eu entendi. A mira do cupido não é ruim. O fato é que é difícil mirar com os olhos cheios de água

    Trabalha com uma orquestra tocando músicas francesas. Achei que Lá vie em rose ia me desmontar e me preparei pra ela com quem sabe que vai tomar um chute nas costelas. Mas nós não contávamos com a Zaz. E com um chute na cara o Único Acima ganha mais uma. Essa ironia é tua. Perdi mais uma. Aliás, eu perco todas minhas melhores apostas. As madrugadas com o Barão. Aprende a tocar sem olhar. Entende que não precisa olhar pro instrumento pra trocar, os dedos sabem onde ir. Queria poder dizer que aprendi a tocar sem olhar porque os olhos são inúteis pra ver certas coisas, mas a verdade é que entre subir num palco e ficar invisível e segurar o Virgílio enquanto ele toca sozinho, eu normalmente fecho os olhos pra me defender.

    Lembrei de uma história. Pode ser o eclipse, pode ser Saturno e Júpiter juntos no horizonte. Eu tenho os poços nas estrelas, mas os planetas são meus cúmplices. Acho estranho como ninguém vê eles correndo pelo céu.

    Naquelas quintas semiperdidas no Revival, entre drogas e dor, eu me fechava pra muita coisa. E todos me diziam que eu deveria dar uma chance para uma menina, porque ela queria muito ficar comigo. Eu respondi algo que acho que só eu via: Não era comigo, não precisava ser eu; podia ser qualquer um. Ainda hoje eu sinto a mesma coisa em várias situações. Parece que as pessoas precisam muito algo de mim, mas na verdade, pode ser de qualquer outra pessoa. 

    Agora preciso ouvir Carla Bruni até arrancar aquele maldito sotaque de Paris dos meus ouvidos. Até o cinza do fim da tarde ficar mais sépia. Je veux mourir avec ma main sur mon cœur, mais en attendant, ne me laisse jamais de repos