terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Aquele velho navio

           No fim é isso. 3 da manhã e eu escrevendo. Nunca soube dormir mesmo. Certas coisas me derrubam, e do chão eu alcanço o violão pra tocar sempre as mesmas músicas. As madrugadas foram feitas pra pensar. Pra desabafar com as paredes e sentir mais forte, mas acima de tudo pra pensar.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Milongueando uns troços

        Quando o Barão me chama pra cerveja e janta as 23h, eu sempre acho normal. Temos um imenso histórico de madrugadas de trabalho, resenha e filosofia. E chegou um ponto que marcamos um café as 2h da manhã  com a mesma naturalidade que as pessoas normais marcam cafés no fim da tarde. E dessa vez a pauta era certa, o show do Pink Floyd da véspera. Porque o tio David é o coração da banda. E, com todo respeito, nem o muro nem o Roger Watters fizeram falta. 

            Quando o Barão abriu a porta a gente se olhou nos olhos e sorriu. O mesmo brilho diferente em ambos. Eu confirmei minha teoria que nenhum músico seria o mesmo depois de assistir aquele amável senhor inglês. E falamos do show como músicos, como fãs e como pessoas. Eu fico admirado desse poder que a música e só a música tem. A mágica de fazer um estádio inteiro cantar. A humildade de um gigante. A paz de espírito e a satisfação de 50 mil pessoas.

            Mas claro que a conversa foi além. Aniversário do Beethoven. Toca a 5ª sinfonia- só os riffs - e Moonlight Sonata. Não sei bem como chegamos na comparação entre mitologia e música. A dualidade que permeia todos os arquétipos. A mesma entre tensão e repouso do sistema tonal. E o cérebro da gente é tonal, como bem se sabe. Dualidade entre a simplificação de tudo e a relação espiritual que temos com a música. Pessoas, notas, coisas, fatos, acordes, histórias. 

            2015 tá se puxando nessa finaleira. Vamos que ainda tem mais.


           

              E, por Deus, como eu senti falta das nossas conversas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Menos duas coisas da lista. Segura 2015 que ainda dá.

        Depois do show, as pessoas me diziam que tinha sido muito bom. Mas é claro que foi espetacular. ¿Esperavam o que de um cara que tocava no Pink Floyd.? As músicas do novo CD são muito boas e depois de começar o show com elas, ele pegou um violão e mandou o o sol maior mais negovéio de todos..E de repente tinha um estádio berrando Wish you were here.

         No fim de high hopes ele repete o refrão duas vezes. E depois ele faz um solo de lap steel. Na primeira nota eu estava chorando. Estava arrepiado. Eu não acreditava que era possível tanto. Eu estava feliz não só pór mim, mas todos os que eu conheço que estavam lá vendo e ouvindo a mesma coisa e sentindo a mesma coisa

         Sobre a luz ela é tão foda, mas tão foda que eles se dão ao luxo de usar o lazer só durante as duas músicas do bis. Eles emendaram Time e Confortably numb pra terminar. E digo eles porque a banda não é deste planeta. 

           Por fim eu queria dizer que depois do show de ontem, sempre que eu ouvir a palavra poder. Sempre que eu pensar no que é poder... A imagem que vai se formar na minha cabeça é de um amável senhor inglês segurando uma fender preta na mão.

Ah. E teve uma garota num vestido amarelo.


           E sempre vou me sentir agradecido por ter assistido o show do David Gilmour numa noite quente em Porto Alegre.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Calma 2015, ainda temos alguns quehaceres

          Anos tentando estabelecer um código sob o qual viver cobram o seu preço.

          Incontáveis vezes repeti para mim mesmo que tudo era possível porem nem tudo era me conveniente. Depois aperfeiçoei: "Nada é verdade. Tudo é permitido". É impossível dizer que nada é verdade sem soar pessimista, mas depois de tantos tombos e tropeços, acho até coerente que meu realismo soe pessimista. A falta de esperança ajuda. Quase enlouqueci tentando ponderar o que era condizente ou não. O que deveria fazer sendo que tudo seria permitido. Onde poderia me apoiar já que nada era suficientemente verdade para que eu pudesse confiar.

           Eu lembro que nas piores crises houve sempre uma mulher que me puxou pela mão e me colocou de volta nos trilhos. Agora que a minha irmã voltou - ela foi a melhor melhor de todas em me colocar nos trilhos - não posso deixar de me preocupar com o futuro. Tem uma tempestade no horizonte e mesmo sorrindo, não sei direito onde os ventos vão me jogar.
Pode até ser que os dragões sejam moinhos de vento. Tomara.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Alguns compassos são infinitos


        No meio da tarde eu olho pra mesa de som do mesmo jeito que olhava pro meu tabuleiro de xadrez. Fico com um pincel limpando ela e ajeitando as configurações como cuidava com o posicionamento das peças, bem no meio das casas. O nome da cena que crio diz muito "seguindo os passos" . Eu só estava ali por gentileza e esforço meu e de tantos que me ensinaram tanto. E em cada botão da mesa de som eu vejo a mesma mítica que antes tiveram os peões. De cada um eu sei o caminho e sei o porque. E quero que tudo soe bem assim como quero que todos encontrem a redenção no fim do tabuleiro.

           Eu acredito em planejamento e em erva mate moída grossa, mas mesmo com essas duas coisas, quando olhava pra trás as pernas perdiam um pouco a firmeza e meu coração balançava.  De qualquer forma era só mais um pretexto para fazer o que faço de melhor. Eu discutia comigo mesmo enquanto ia desenhando elefantes nos gráficos de frequências O fato é que há um momento, um momento em que alquimia da música bate forte. Quando tudo está no seu devido lugar. É algo que deveríamos apenas ouvir, mas que é tão forte que é impossível não sentir com os outros sentidos também. E nesse momento, quando o som ficava bom comigo e apesar de mim, eu sorria e ficava invisível. Às vezes eu faço música como uma equação. Às vezes soa como mágica. 

     Uma luz vermelha pisca e me coloca em xeque. "Vai até onde dá". Assim me ensinaram, assim eu trabalho. Nesse limiar entre risco e segurança a vida é melhor. Aumentava o volume do P.A. como quem pisa mais forte no acelerador. 

         Entre um show e outro, sinto meus pensamentos gaguejando em 3 línguas diferentes. Mas depois de ser canalha em inglês e espanhol, lembro que palavras são só palavras, independente do código delas

         E de trás de um quilt e um sorriso, já de manhã, veio uma daquelas frases que definem muito "Alguns entram de cabeça em tudo e outros entram de cabeça em nada". E de cabeça meio baixa, com o meu sorriso leve, pensei em todos que haviam entrado de cabeça na realização daquele festival. E todos todos todos tiveram a sua importância, desde o Bob Stroger até o segurança que me filava cigarros. 


Bob Strogeer e Headcutters no meu palco.

            Impossível citar todos, mas não posso deixar de citar alguns. Fher Costa, Babi, João, Monta, The Headcutters, Marcela, Tita, Rubia, Jeane, Gabi, Bledo, Kiko, Aguina, Lisi, Eduardo Hidromel, Faccioli, Sagui, Gabi, Mestre Kalifa. A cada festival que passa eu aprendo muito, não só sobre o meu trabalho, mas sobre o tipo de pessoa que eu quero ser. De coração, muchas gracias.

domingo, 22 de novembro de 2015

Uma noite auspiciosa

         O pensamento começou a tomar forma enquanto anoitecia. Eu estava numa sacada diferente. Numa cidade diferente. Mas ainda assim me sentia em casa. A metáfora sobre ser como água. Manter o conteúdo enquanto se adapta a forma que se apresenta. Eu voltaria a esse mesmo assunto mais tarde. 

         Festa diferente mas muitos rostos conhecidos. Eu me sentia bem vindo. Todos que trabalhavam comigo: Jeane, Giovane, Marcelo, Rubia, Kiko, Jonas, Leo, Cris, Dani, Fran. Em cada abraço um milhão de histórias, que eu vou resumir na palavra cumplicidade. Não sinto falta do vagão, da noite, dos trâmites. É dessas pessoas que sinto falta. Daquela sensação de pertencer a uma família sem laços sanguíneos, mas com todo o resto.

         De volta ao sentimento de estar em casa. Escorado no balcão encontro o Poletto. Entre outras coisas ele é um baita exemplo de como viver a vida de forma honrada e leve. Aquele cara que seria reitor de uma hipotética universidade de caráter, caso fosse possível ensinar. Um dos caras que eu chamo de amigo com orgulho. Ele conseguiu colocar em palavras o que eu queria dizer desde a sacada e não sabia como "home is a state of mind".

            Depois de tantas pessoas que me fizeram mal, vejo todas essas pessoas boas que permanecem ao meu redor e não fico mais me questionando se mereço ou não. No fim, é só o universo empatando o jogo.  

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ainda tenho a tua guia.

           Depois de uma madrugada de tendinite pelo meu exagero, ouvindo o som da chuva e contando segundos entre o raio e o trovão, resolvi escrever. Estou sempre escrevendo cartas que nunca vou mandar. Estou sempre querendo ajudar os meus. De alguma forma, acho que ajudando os outros ajudo um pouco a mim mesmo. E entendo um pouco mais meus próprios dilemas. No fundo as pessoas são todas iguais, e as dúvidas tem sido um problema.

           Para explicar o que eu quero dizer, eu poderia falar sobre uma conversa entre Deus e Elias no meio da guera entre Israel e Síria - sim, tem guerras lá desde sempre. Ou poderia contar uma conversa de Exu e Iemanjá no aniversário dela. Mas o fato é que ninguém conseguiu explicar tão bem quanto o Gandalf, falando pro Aragorn e pro Faramir. "O que nos protege do poder total de Sauron não é o fato de estarmos com o  um anel e sim ele não saber onde está o anel. Ele tem dúvidas e o olhar dele fica indo e vindo por toda a terra média, procurando de forma repetida e ineficaz. Quando ele tiver certeza, estando ou não estando em poder do Um anel, nós seremos dizimados."

          Foi esse trecho do livro Senhor dos Anéis que me fez perceber como não se focar faz mal.  Mesmo o Sauron sendo praticamente um X-men, o poder dele era diminuído por ele não poder lutar uma guerra sem dúvidas. O  que nos traz de volta as nossas mensagens. O que tu me falou é uma situação familiar para qualquer um: Existe uma escolha simples e complicada, mas ela é difícil e ficamos adiando. O resultado quase sempre é o mesmo, a falta de ação preserva quem está perto enquanto vai nos corroendo por dentro. Até um ponto insustentável onde a vida nos coloca num ponto onde não há mais escolha e nem lição a ser aprendida. Posso falar pois já passei por isso mais de duma dezena de vezes. 

            Nosso passado não chega nem perto de passar uma ideia de sensatez, mas tu é uma das pessoas mais sensatas que conheço, apesar de ter uma estupidez latente que às vezes atrapalha teu discernimento. Queria que houvesse aqui uma receita mágica para ver o futuro e escolher melhor baseado nas consequências, mas infelizmente não tem. E também não tenho moral nenhuma pra te dar conselhos - e sabemos bem que conselhos no fim do ano tendem a ser o caos instaurado. Pensa bem e que teus pensamentos sejam iluminados para que tu decida o melhor. Vou ficar aqui, sempre pronto pra te ouvir quando ou se tu precisar. E torcendo pelo melhor.

Não porque eu tenho contigo uma dívida impagável, mas sim porque tu é tu.

Fica bem, serenidade e paz.

V.  

sábado, 14 de novembro de 2015

Depois que eu descobri o caminho

          O que você diz de um cara que ganha R$3.400.000,00 num projeto federal e não quer gastar RS100,00 numa diária a mais de hotel pra toda equipe guardar as coisas e poder tomar um banho depois de encerrar a desmontagem da estrutura.? Graças a essa grande economia, a vida na cadeia chegou no nível máximo e acabei por tomar banho numa bica. Agora a única coisa que falta fazer é revesar camas para dormir. Inacreditável.


            Começar uma empreitada nova é bom, mas terminar é melhor ainda. E mais um ciclo que variou entre uma marchada épica e um aprendizado impressionante acabou. Ficam as amizades e a lições que só a estrada e a convivência forçada dão. A vida do baile, basicamente.

            Nesses 4 meses aprendi a ser palhaço. Não usei maquiagem, mas o sorriso que mantive nas crises funcionou como máscara. E no fim, o que define um palhaço é justamente isso: a capacidade de passar uma mensagem de alegria, independente dos problemas e das tragédias do mundo. Conheci lugares que nunca imaginei e pessoas que me surpreenderam nas mais variadas formas. Não poderia usar um adjetivo diferente de "loucos" pra definir as pessoas que trabalharam comigo. Aprendi que conviver é o próprio inferno e que tolerância não é tão fácil na prática quantona teoria. Mas sobrevivemos. E agradeço aqui quem me aguentou na viagem, quem me deu força antes da partida e quem ficou esperando eu voltar.


              E com um anjo e um jasmim a menos, com a bagagem muito mais leve, eu poderia colocar a música do U2 " I still haven't found what I'm looking for" aqui. Mas em vez disso, cito blackbirds. Porque quando o sorriso fraquejava e eu começava a esquecer quem eu sou eu catava um canto sossegado, enfiava um fone de ouvido e abria um livro até voltar pro equilíbrio. E blackbirds foi meu despertador todos os dias da viagem. 

              E se alguém me perguntar como eu volto dessa empreitada de 4 meses, 9 estados, 16 cidades... bom, essa música em especial resume tudo. 



Agora eu volto com ar glacial
Mais forte que nunca, um tanto meio anormal
Um pouco mais vivo, não olho pra trás
quando não sou mais bem-vindo


Talvez eu esteja revirando o fundo,
vivendo meu mundo e seus absurdos
Mas é muito chão para andar então

Vamos lá...

domingo, 1 de novembro de 2015

The orange is the new black


         E chega-se em Anita Garibaldi. Um lugar onde ser gaúcho não significa praticamente nada. Se eu pular um muro estou de volta à República. Cidades pequenas normalmente tem um ou dois hoteís, por isso não cabe muito escolher ou reclamar. O cara do hotel é simpático e me chama de piá. Um sorriso e eu me sinto em casa. Claro que há um Zé Buceta atuando fortemente para que a estadia na cadeia seja ainda pior. Mas é só pensar que faltam apenas duas semanas e nem isso consegue me tirar do prumo.



         Todo mundo tem uma pessoa por perto que está sempre complicando, querendo ter o controle de tudo. Essa pessoa é o Zé Buceta. Sendo insuportavelmente chato enquanto tenta sempre mostrar que é o fodão. Sempre tentando estragar a alegria dos outros. Nada é bom, só o que ele gosta, nada presta, só o que serve pra ele. Se ele é infeliz, todos também tem que ser. Não passa de um bosta. Nessa viagem, eu tenho o meu. E ele pensa que é meu chefe. Não que eu seja especial, ele acha que é o chefe de todo mundo. Não que ele pegue exclusivamente no meu pé. Ele é um idiota com todos, do caixa do mercado ao dono do hotel.

       Meu querido Zé buceta. Não são os artistas que vão colocar no meu rabo quando puderem. É tu e os da tua laia. Mas eu te entendo. A alegria dos outros torna tua inveja e teu rancor muito mais evidentes. E isso te irrita a ponto de tu nem conseguir disfarçar. A lealdade alheia te incomoda porque no teu íntimo tu sabe que ela não te envolve.  Ninguém dá a mínima pra tuas regras e desmandos. E chega a ser engraçado tu falar mal de todos para todos como se ninguém fosse perceber.  Lamento informar, mas tu não tem um rei na barriga e todo mundo tá te vendo cuspir pra cima.  E digo mais, torcendo pra cair de volta em ti.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Tatarana

         Esse vai ser um daqueles.

           Limpa o desktop. Apaga as cartas que não vou enviar nunca pra caber outras novas. Eu nunca sei quando escrever. Eu nunca sei qual é o tempo do que escrevo. Um começo, um meio e um foda-se. O por do sol é roxo e laranja porque ele pode. Rabisca a carta pro Zé Buceta, entrego depois. Não cambia nada. Sem usar óculos 1 e 3 são iguais. Memória boa é o inferno. Finjo que esqueço. Não convenço ninguém. De presente vou dar um anjo - mas já é dela.  Durmo quando a cabeça cansa. O corpo não se importa. Imitão. As palavras não saem porque minto ou porque é verdade.?? Não faço parte mas eu sei... e também sei que temos que se preservar.  A de azul ouve RZO. Tequila, um sorriso canalha, ajuda e um plano, tudo no seu lugar. De amor eu não morro, vcs consagraram o estilo cachorro. Ironia é eu ser amigo da mais puta. ¿Ela me entende.? Tá, tem outra mais puta que todas. Certo que ela traiu, eu saberia mesmo sem ler o livro. Um franja me salva. Não existe salvação para nós. Seguimos. Amor sem confiança não é nada. um copo vazio de mim mesmo.

        Piso numa flor de jasmim sem pena. Nada de vingança ou justiça. Punição. Uma chave de fenda não se faz perguntas sobre o caráter ou a finalidade dos parafusos. O budismo manda aceitar e a inteligência manda irritar. Crucifico o ego em doses homeopáticas. Equilíbrio pressupõe risco. Nem li o contrato mesmo. Tudo lhes é possível, porém nem tudo lhes convém. Filipenses 4, 13. Exu é o senhor dos caminhso cruzados. Humanos, demasiado humanos. ¿Mas vou ler sem sublinhar de que jeito? Eu ganho pela cor do trigo. Vai a onda vem a nuvem. ¿Oceano, agendam-se consultas.? Uma formiga vermelha picando minha mão até cansar. ¿Não poderíamos ter criado uma metáfora melhor.? Lembrei. Não sou importante.

           Aaahhhhh! Much better...

sábado, 24 de outubro de 2015

O dharma tem várias formas

         Sou apaixonado pelos meus livros, cada um deles tem sua importância na minha vida, ainda assim, sempre que sinto que um determinado livro é o que a pessoa precisa ler num determinado momento, empresto ele sem hesitar. Emprestar talvez não seja a palavra, já que raramente alguém me devolve e eu preciso comprar o mesmo livro de novo. Mas enfim, lendo a gente descobre sozinho o que não aceitaria se uma outra pessoa dissesse pra gente. Certo tipo de conhecimento tem que vir dentro pra fora e não o contrário. E da mesma maneira que eu emprestou meus livros, emprestam livros pra mim. A família espiritual se ajuda de maneiras que nem consigo explicar. E eu percebo que as vezes não sou eu que encontro os livros mas sim os livros que me encontram.


          Estou há quase 3 meses longe de casa. E os livros tem um papel determinante nesse período. Sem eles eu já teria enlouquecido. Então, um muchas gracias especial pra Jeane, que no fim da noite mais caótica do ano me deu um lugar pra dormir de manhã e ainda me deixou roubar a doutrina de buda do hotel. E pro Luís, o meu palhaço preferido, que me emprestou a mitologia dos orixás antes mesmo de ler e que, do jeito dele, está sempre me ensinando alguma coisa.

              E, já que estou agradecendo, não poderia deixar de agradecer ao Alan, por me ter percebido bem rápido que eu sou estranho e ter me aguentado estoicamente. E a Carla, que me deu um marcador de páginas que sempre me faz sorrir. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

No fim, tudo é como a água.

         Se por um lado ganho uma folga de algumas horas, por outro de novo não consigo dormir. Pelo menos chove e isso de certa forma me anima um pouco. Foi bom tomar um banho de chuva na piscina.  

         Adoro o som do mar,  o som da chuva. O som de mato. Mas, sem dúvida, o som quem mais me dá ideia de folga é o som que os chinelos fazem quando a gente caminha devagar arrastando eles. E eu sempre arrasto os chinelos quando estou tentando descansar.

        Mulheres são interessantes. Para elas, não pode estar tudo bem por muito tempo.. Quando está tudo em paz e tudo dando certo uma mulher normal começa a procurar problemas ou coisas erradas. E, caso não ache nada, ela acaba por inventar alguma coisa. Esse processo me cansa mais do que deveria, mas é que sou tão reincidente nele que quase já acho que não tem outro jeito.

         Minha senhora, mil vezes obrigado pelo livro certo na hora certa.




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

As estrelas estarão no mesmo lugar

      O tempo sempre é relativo. A noite sem dormir durou um ano. A manhã inteira trabalhando passou em 5 minutos. Tentei dormir depois do almoço que não almocei e passou mais um mês. A tarde durou dez minutos com direito a uma pausa pra chuva. 

          Não posso negar que estou me sentindo em casa aqui em poços de caldas. A cidade é virada em morros e eu consigo ver neblina ao redor da cidade quando amanhece. Estar em uma cidade serrana depois de tudo me faz bem. E aqui tem um X muito bom e absurdamente grande. Essa semana já tenho como me alienar. As conversas comigo mesmo não estão muito prazerosas.

         Sempre teremos engenheiros quando o caminho começa a sambar fugindo dos meus pés. No mais, nunca me conceda descansar. 



domingo, 18 de outubro de 2015

Vergonha alheia de mim mesmo

            Não vou falar muito da viagem porque seria chover no molhado. 1500km de carro sempre são maçantes e monótonos. Quero falar só de um encontro absurdamente casual que aconteceu em Campinas.  Num starbucks randômico sem combinar nada eu dou de cara com o Grosso (vulgo Gabriel Dalsoto.)

Sobre o cusco, peço desculpas ao povo gaúcho por representar tão mal a querência. E nem que eu quisesse eu conseguiria explicar a incrível sequência de eventos que  colocou a coleira do cachorro de madame na minha mão. Sempre haverá um nome a zerar.

Pra que eu aprenda o meu lugar

          De novo. Eu repito isso pra mim mesmo com uma mistura de riso e pena. ¿Quantos tombos eu vou ter que cair para aprender.? Será que um dia o mundo vai perder a paciência e desistir de tentar me ensinar o que eu não consigo aprender.? Ou será que um dia acontecerá um milagre e eu aprenderei essa lição que o mundo tenta com tanto esmero me ensinar.? Acho engraçado como as coisas acontecem. Saí de casa ontem acreditando que tinha tudo, que podia tudo. Mas é nessas horas que estamos mais vulneráveis. E agora, menos de 24 horas depois me sinto derrotado. Não que eu me culpe por ser como sou. Mas preciso encarar o fato de que certas brigas eu não posso vencer. Preciso aceitar que meu passado não é bonito e nem em sonho ele vai deixar de voltar para me assombrar. 

          Mentiras. Sempre serão as mentiras. Deve ser karma. Quem luta pela palavra será ferido pela palavra.. Ironicamente o maior medo de um mentiroso é que mintam pra ele. Não existe confiança pela metade. E sem confiança não há amor. Pelo menos essa parte eu já tinha aprendido antes. Nem lembro mais a definição certa de traição. Eu continuo repetindo pra mim mesmo que traição é o que não se espera de quem não se espera. E todo mundo tem um plano até ser atingido. Bom hoje de tarde apanhei pra caralho.

         Eu abro A Arte da Felicidade só por causa do marcador de pagina, mas nem sei porque teimo. Cativar é uma palavra complicada. Tenho certeza que ela já foi mais simples. Fechei o livro sem ler uma página sequer. É óbvio que nessa vida eu nunca vou conseguir ler. Fica pra próxima. Ou pro próximo Dalai Lama. 


Imagem meramente ilustrativa.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Vamo lá produções

       De dentro de uma lancheria sai um cara com uma chapéu gigante de cowboy e uma fivela de uns 10 cm de diâmetro. Ato contínuo, procurei com os olhos um cavalo amarrado. A figura em questão  só podia estar de "a cavalo". Bom, ele não tinha um cavalo, mas tinha uma Brasília. E saiu acelerando a brasília. E o motor da brasília ecoou pela rua tal qual um relincho. O que é pra ser, é pra ser.

      Acabei num hotel estranho. De novo. Tem piscina e atendentes que desaparecem, mas os traumas anteriores continuam me deixando com o pé atrás. Uma das lições que essas viagens me ensinaram foi que um lugar chamado de "pousada" normalmente possui algum defeito estrutural que fode a estadia.  A pousada que estou agora possui um zumbi que fica andando a noite inteira batendo portas. Pelo menos essa foi a melhor explicação que encontrei pro barulho e para as vozes das madrugadas. E nada de ar condicionado. Dormir com ventilador ligado fez meu corpo lembrar das noites que passei em porto alegre. E minha cabeça dormir inquieta. 



        Antes de chegar aqui passei em Campinas pra tomar um starbucks e pra tentar encontrar uma amiga minha desde sempre que eu chamo de uruguaia. O mundo me deu algumas pessoas que estragam meu dia quando falam comigo, mas em compensação também me deu pessoas que eu olho e sem perceber estou sorrindo. A uruguaia está nesse segundo grupo. Mas, ao que parece, é minha sina perder pros tcc's

        Tiro algumas lições de profissionalismo dessa semana. Uma delas vem do chefe que resolveu aparecer pra dar um conferes no andamento do projeto. Depois de uma brincadeira ele soltou a resposta sem hesitar. "Pode falar mal, desde que trabalhe bem". A outra vem do churrasqueiro Jedi - que também faz uma massa com bacon excelente: "Não cria um problema pros outros quando for resolver um problema teu." Outra coisa que vejo nitidamente é que existe uma diferença gritante entre querer estar certo e querer convencer os outros que vc está certo.

      A peça dos bonecos da manhã tinha sido um caos, um monte de crianças mal educadas gritando e várias professoras tendo a vida sugada pelo whatsapp sem organizar nada. Ainda assim chegamos ao fim sem maiores problemas além de uma irritação que se refletiu em toda equipe. Durante a tarde, outras crianças e outras professoras na platéia, mas o cenário era o mesmo da manhã. Faltavam 5 minutos pra começar e eu vi um palhaço em cima do palco, sem máscara, sem personagem, sem nenhum boneco na mão. Só o sorriso. Fui correndo pra mesa de som porque alguma coisa me dizia que o espetáculo já tinha começado. E ele falou sério, na terceira ou quarta palavra ele já tinha a atenção da praça inteira. Eu adoro esses raros momentos em que os palhaços falam sério.  Tratou as crianças como inteligentes e não como retardadas. E elas se aquietaram como que por encanto.



"E tem a razão dos inteligentes, não fala tudo que sente mas aprende palavrão" 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O bom, o mau e o feio

           Seguem os trâmites aqui na pracinha Risca faca. Com 3 F's. Infelizmente não se trata de força, foco e fé, mas sim cheiro de Fossa, de Feijão e um Fedor indefinido. Tenho minha suspeitas que o fedor é de uma mulher que mora num banco atrás do  lugar que montamos o palco. Sim, ela mora ali. Quando chego de manhã ela já está ali e quando vou embora á noite ela continua ali. Só sai para ir no banheiro. Enfim, apesar do cheiro do local, dei uma chance para um restaurante chinês da praça. Um PF de yakisoba com pedaços suspeitos de gordura e ossos que recebiam o nome de carne e frango, respectivamente.. Fiquei surpreso pela quantidade de comida, tanto que achei que era a porção para duas pessoas. Tirei de dentro da mochila um par de hachis e comi como se não houvesse amanhã. Se o que engorda é a culpa, o que faz passar mal é o medo. O cozinheiro, um cearense engraçado, ficou me olhando enquanto eu comia. A impressão foi que ninguém nunca havia comido com pauzinhos no restaurante dele.

          Pela primeira vez desde que entrei no projeto, tivemos que tirar uma pessoa da platéia: Um velho com uma garrafa de cachaça gritando coisas sem nexo. Pensei em ficar brabo, mas não tinha como. ¿O que eu poderia esperar de um lugar assim.? "No centro do sertão, o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de mais juízo!

              Não vou falar das gírias daqui, com exceção de uma que ouvi e que me faz rir toda vez que passo pela placa da BR entre o hotel e a pracinha: BR 101 = briói

         Enquanto fico tomando chimarrão pensando na vida, acabo por fazer um estudo antropológico dentro da equipe de trabalho. É interessante observar como 3 forças contrárias e interdependentes ficam se balanceando e negociando entre si. Os 3 pontos desse triângulo ficam tentando se aliar com o objetivo de fazer um 2x1 com o ponto que sobrar. Mas o ego e as picuinhas do trabalho tornam essas alianças muito frágeis. O teu melhor amigo de manhã pode ser o fofoqueiro que está fazendo a tua caveira na noite do mesmo dia. Gosto de pensar que não me envolvo nisso, mas sei que não consigo ficar completamente de fora. Imparcialidade é um luxo que infelizmente não tenho aqui. Porém, sei faz muito tempo que nunca se é tão facilmente manipulado do que quando se está tentando manipular. E saber isso meio que me defende. E abro um sorriso gigantesco com as tentativas toscas de manipulação que presencio aqui. E as respostas que eu queria sobre mim mesmo vão aparecendo no tempo certo

         Falando em chimarrão. Sem erva mate e a doutrina de buda eu já teria enlouquecido. 

domingo, 20 de setembro de 2015

O pior trânsito do mundo

          Pequenas histórias da viagem entre Olinda e Itamaracá. Porque agora já lembro do rally dos sertões com uma certa nostalgia.

        Quando entrei no ônibus e vi o motora com o celular no viva voz discutindo AOS BERROS com quem eu supus ser a mulher dele  eu entendi rápido que não era uma boa ideia estar naquele ônibus. Mas não tive tempo de descer. Quando dei meia volta ainda na escada do coletivo, o motora arrancou com a porta aberta mesmo. 

          Na minha cabeça não pude deixar de fazer uma comparação. Alpinismo é muito mais fácil do que pegar uma busão em recife. Alpinismo tem o lance de ter sempre 3 pontos de apoio e no ônibus, mesmo com os dois pés e as duas mãos firmemente apoiadas, cada freada era uma aventura. Cada curva uma incerteza. Era como estar numa montanha russa no escuro, sem saber o que ia acontecer no segundo seguinte.

       Depois do bus, uma kombi, aquele tosco e irregular meio de transporte. Foi como resetar o jogo e colocar ele no modo hard. A estrada deixou de ser o inimigo. Agora todos os outros veículos perto da kombi representavam um acidente prestes a acontecer. O gritador parecia traficante de pé de favela, mas ele era ninja em mímica: xingava geral só com as mãos, usando símbolos que pra mim eram irreconhecíveis. mas que aparentemente eram entendidos por outros motoristas, que respondiam na mesma linguagem misteriosa.

          O centro histórico de Olinda é muito bonito, mas não é cativante. Igrejas igrejas por todos os lados em uma cidade velha cercada de asfalto. E sem mar por causa dos tubarões. Como se fosse um grande produto numa embalagem ruim e nada atrativa. Por entre os bonecos gigantes, eu encostava nas paredes e imaginava quanta coisa tinha acontecido naquelas ruas onde eu estava pisando.


           A noite de Olinda é engraçada. E bêbados são iguais em qualquer lugar do mundo. E existe uma relação de simbiose entre turistas e bêbados. Vi isso de camarote e participei de conversas engraçadas traduzindo "me dá um golinho " pra inglês.  No mais, a atmosfera risca faca estava lá para ser sentida nas entrelinhas das festas que íamos passando.

        No dia seguinte, tinha o ônibus pra Itamaracá. E teve traveco de barba. Teve um tiozinho com 4(quatro) galinhas vivas dentro de uma caixa. Teve uma senhora carregando as compras do mês. Tudo com as curvas insanas e a incerteza a cada freada. E é impressionante como ninguém se importa com o caos do trânsito ou com as maluquices dos coletivos.

         Praia de Itamaracá e o mar me mostrou uma série de matizes de azul como boas vindas. Estava aliviado por ver a água tranquila. Depois do que eu havia escrito na areia no último encontro, estava com um certo medo de ter que brigar com as ondas. Em vez disso, achei a praia lisa e a águas ordenadas. E pipas.. muitas pipas. A única briga que tive foi de pipas, mas conto isso outra hora. O mar perguntou dos meus pulsos e eu discuti com ele sobre cores. Eu estava em casa. Tudo no lugar. Ostras e eu lembrando do pequeno príncipe. Eu ganho pela cor do mar.

           A última kombi do fim de semana foi só pra me lembrar que a folga estava acabando e que a vida na cadeia estava de volta. 13 pessoas dentro da kombi onde 8 pessoas já viajariam apertados. E a galera cantando o refrão do funk sensação da praia "chupa a língua dela, chupa a língua dela." 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Uma atmosfera riscafaca

         Estou num hotel ungido. O nome do hotel é shalom. Não posso entrar com bebidas alcoólicas nele e cada palavrão provoca uma cara feia no cara da recepção. Nas paredes mensagens edificantes sobre Deus. Aliás, considerando o número de igrejas e lugares com nomes religiosos dessa cidade, a saudação shalom é o namastê local. E quase todo mundo se chama de irmão. Eu me sinto numa maçonaria do baixo orçamento. Meu maior divertimento é ficar lendo a doutrina de buda em lugares públicos e ver as pessoas me olhando como se eu estivesse com uma revista de pornô anal na mão.

          Pelo menos, se tudo der errado na minha vida, posso me mudar pra essa cidade e começar uma pequena indústria de grades. A cada dez casas, 8 parecem uma prisão por causa de grades. E mesmo os lugares onde as pessoas deveriam circular entram nessa conta: igrejas, lancherias, padarias, farmácias e principalmente os bares risca faca. 

          O símbolo máximo desse "vida na cadeia way of life" é um lugar do lado do hotel que eu carinhosamente chamo de pracinha risca faca. O Kike chama o lugar de cariscaaf. Uns 10 botecos, um do lado do outro, todos eles com muitas grades entre vendedores e clientes.  Nessa pracinha os policiais não andam em duplas.. eles andam em grupos de dez. E os grupos ficam próximos um do outro, tipo uns dez~vinte metros. E todos com a mão na arma. A impressão é que a qualquer momento vai acontecer um tiroteio de proporções bíblicas.


       Sabe quando você vê um trecho de estrada caótico ao extremo e não consegue entender como não acontecem acidentes.? Com muita gente caminhando quase na rua e trânsito sem lógica nenhuma? Então, aqui eu faço um trecho de 8km desse jeito para ir trabalhar e para voltar pro hotel de noite. Só que aqui sempre acontece algum acidente. Estou aqui faz 5 dias e ainda não consegui fazer esse trecho sem ver uma pessoa atropelada; ou uma moto amassada ou um carro destruído. Detalhe, TODOS os motoqueiros andam sem capacete. A úncia criatura que vimos com um capacete de moto foi um piá numa bike.

         E quando vi nuvens no céu, inconscientemente estava torcendo pra chover. Acho que o nordeste faz isso com a gente. Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar.

      O trabalho continua parecendo uma montanha russa. As vezes tenho conversas geniais sem dizer uma palavra, e as vezes me vejo implorando favores pra conseguir fazer o certo. É frustrante tentar argumentar com pessoas que não querem estrar certas. Elas só querem que tu estejas errado. Mas mesmo nos piores momentos.. e talvez principalmente neles, há um companheirismo estranho na nossa equipe. Como um bando de soldados que não tem mais nada e acaba se apegando um ao outro como meio de manter a sanidade.

sábado, 5 de setembro de 2015

Seguindo meus pés


        Minha última postagem dessa primeira parte da viagem, deveria ter 3 tópicos: Paragominas, o Guaraná Jesus e a Lua. Mas eu sei que vou me estender mais.

        Paragominas: Um lugar aconchegante apeliado carinhosamente de paragobalas. Sabe aquelas novelas de época com um coronel.  Imagine isso, mas tire o Antônio Fagundes e coloque o Sarney coronelando. E em vez de uma plantação de café ou alguma lavoura aleatória, com um drama sobre escravos, imagine um grande risca faca, do tamanho de uma cidade com um pseudo shopping e uma praça hexagonal no meio. MUITA GENTE feia, pessoas andando armadas, kombis e o tradicional calor pós apocalíptico. Que lugar!

      E nunca se esqueçam que existe um lugar, um único lugar na terra onde existe um refrigerante que vende mais que coca- cola, Este lugar é o Maranhão. A coisa é tão absurda que a coca comprou o guaraná jesus pra freiar o crescimento dele. E não adianta, eu nunca vou conseguir explicar como um refrigerante ruim, que tem gosto de recheio de babalu com canela, vende mais que coca. Uma solução gaseificada com cor de detergente que tem tanto sódio que chega a dar sede. Eu mesmo não entendo. Fica como sugestão de pauta para o profissão repórter.

       Vi duas luas cheias aqui no norte. Uma numa balsa entre o Pará e o Amazonas e outra lá em Estreito. Preciso dizer que todas as vezes que eu vi o sol se pondo foi emocionante. Mas quando a lua cheia surge no horizonte aqui no norte, dá vontade de ajoelhar pra agradecer melhor o espetáculo. Vermelha, e gigante, parece que ela está ao alcance da mão.

        Mais uma última coisa coisa. Estou conhecendo muitos lugares fantásticos, mas o que me toca mais são as pessoas. No meio do sertão eu vi um menino chamando um cachorrinho de baleia. Antes de pular no Amazonas uma menina chamada Antoniele me pegou pela mão pra me dar coragem. Encontrei um grupo de americanos falando russo. Um libanês me ofereceu tabaco. Lugares são lugares e eu não quero negar a energia, a beleza ou o misticismo presente em alguns pontos, mas eu ainda acho que a verdade de cada um se reflete muito mais naqueles que nos cercam na geografia do lugar. E "Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera. O Sertão é dentro da gente."

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O Mad Max tupiniquim sobre duas rodas


              As vezes meu face atualiza com alguma mensagem sobre blitz na pinheiro ou "não passa nada na sinimbu". Quando eu vejo isso eu me sinto como se caxias do sul ficasse em outro planeta de tão longe. Mas aí, na mesma tarde eu recebo duas coisas que fazem com que eu me sinta em casa: um desenho feito por um autista e uma mensagem do Marcelo Pedroso no whats: "guardei o Yoshi pra vc". Tinha um yoshi de pelúcia no vagão e o Marmelo sabe quantas vezes eu pensei em roubar aquele dinossauro verde. Nunca consegui.  Não que não tivessem rolado várias oportunidades, mas roubar do único chefe que tive que não me deixava trabalhar como se ele estivesse contra mim era impensável.  E no fim, com todo o caos que fechar um bar envolve, ele lembrou de mim...Muchas muchas gracias, Jefe.




            Nunca senti tanto calor na vida quanto aqui em Estreito. A relação suor x quantidade de água que se toma torna a bexiga quase inútil. Por mais água que se tome, mijar é quase impossível. E quando soltei o primeiro bah dentro do mercado, a mulher do caixa me perguntou se eu também era de Anta Gorda.  Descobri que além do caminhão que eu vi na estrada pra cá, tem vários antagordenses na cidade. Eu preciso encontrá-los nem que seja só pra perguntar que diabos eles estão fazendo aqui.

                   É impossível ficar na rua sem que a cada cinco minutos apareça um habitante local numa bicicleta ou numa moto  - ou mesmo a pé - vendendo alguma coisa: água de coco, sucos, saladas de frutas, salgados de origem (e cor) duvidosas. Outra coisa que chama a atenção são os paredões de som. Não basta colocar  muito som nos carros, é preciso que eles fiquem empilhados e sejam grandes. Ainda não encontrei uma caminhonete sem um monte de alto falantes e cornetas na caçamba.  

                   E a quantidade de motos aqui é impressionante. Chego a pensar que aqui tem mais motos do que pessoas. E em cada quadra, umas 8 ou 9 lojas de alguma coisa relacionada com motos. Mas mesmo com toda movimentação, há um ar de cidade fantasma aqui. O mormaço faz com que eu espere ver a qualquer momento um daqueles tufos de feno rolando.

domingo, 30 de agosto de 2015

Rally dos sertões

             3 GPS diferentes no carro, era lógico que isso era prenúncio de uma tragédia.

            No começo tudo era festa. Sinal de todas as operadoras bombando, bateria quase cheia. Até um momento em que a voz do GPS titular manda dobrar a direita e sem nem mesmo perceber estávamos numa estrada digna do rally dos sertões. Cada vez que o motora conseguia engatar a terceira marcha a gente comemorava como um gol. Teoricamente seriam só 20km naquele inferno. Depois de 1 hora pra fazer aquele trecho, caímos numa estrada de chão que era melhor do que o asfalto de antes - mas não muito. Por pura teimosia e seguindo um GPS canhestro, íamos em direção ao asfalto como um náufrago nadaria em direção à terra. 

       Já estávamos no asfalto fazia uns 5 minutos quando paramos pra pra pedir informação. De repente 4 maranhenses desatam a falar e teorizar e discutir entre eles sobre o melhor caminho. Eles não chegaram em consenso nenhum e dois deles estavam realmente engajados em nos convencer sobre o melhor caminho: um deles para o leste e outro deles para o oeste. Depois e uns 15 minutos nessa situação, achamos melhor evitar o trecho descrito por um senhor banguela como "um monte de nada, jegue e quebra-molas " e tocamos para o leste. Acho que cabe aqui dizer uma informação relevante: o nosso destino ficava para oeste, Praticamente numa linha reta. Claro que isso gerou uma discussão dentro do carro também. 

            A estrada nos leva para uma cidade pequena e aparece um posto Ipiranga, piada pronta sobre parar e perguntar o caminho. Até porque a esta altura do campeonato já estava quase escurecendo e sinal de celular era um luxo que não tínhamos fazia muito tempo. Um cara olha pra nós e antes sequer de começar a explicar pede pra gente anotar. Quando ele começou a indicar o caminho com distâncias e pontos de referência muito claros, senti uma certa esperança: a estrada era boa e os índios não estavam bloqueando a rua ultimamente. -¿COMO ASSIM ÍNDIOS.? A estrada passava pelo meio de uma reserva indígena e as vezes rolava uns assaltos/pedágios ao atravessar o território deles.

         No final, não deu nada. Há uma força no universo que protege os bêbados, as crianças e os retardados. Olhando para as 5 pessoas no carro, me senti FORTEMENTE protegido. Aliás, outro adendo. Carros não foram feitos pra 5 pessoas. Pode até parecer que sim, mas na prática simplesmente não funciona. Esse foi nosso caminho final. Não consigo precisar o ponto exato, mas não posso deixar de comentar que no meio dessa trip, na parte mais escura do caminho, surge na nossa frente um caminhão de Anta Gorda -RS. Uma boa oportunidade para confirmar que gaúchos são uma peste que ainda vai dominar o mundo.



         Depois de 14 horas de viagem, chegamos a Estreito-MA, uma cidade quase no tocantins. A mesma população de Flores da Cunha sendo uma área 10x maior. Sobre o hotel em que vou passar a semana, uma imagem diz mais que mil palavras.


         A última semana antes de voltar pro sul por uns dias promete ser longa. A engenharia de a cavalo me persegue.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Só levo a certeza de que muito pouco sei. Ou nada sei.

        Depois de dois dias de viagem cheguei em São Luis do Maranhão. Tudo fica mais longe quando se viaja de caminhão. As pessoas aqui falam diferente, mas basicamente tudo segue igual. Continuo comendo e dormindo de forma precária e sorrindo como se não me importasse. O caminho da floresta densa rumo ao semi árido foi conforme o previsto. A umidade da floresta tornava o calor pegajoso, mas lá na amazônia as sombras eram doces e confortáveis. Aqui o sol é mais cruel e tudo com vida parece estar lutando prá sobreviver.

           Chegando no posto de gasolina tentando comprar uma garrafa pet de gasolina para limpar umas peças sujas de óleo. Depois de um tempinho com o frentista não querendo vender, o produtor saiu do carro e mandou sem hesitar: Tu sabe quem eu sou.? Sou sobrinho do Sarney. Eu queria deitar o chão pra rir enquanto o frentista chamava o gerente... que encheu a garrafa pet de gasolina sem perguntar mais nada. 

         Preciso admitir que voltei com um velho vício: esfirras do Habibs. E o Habibs é aquela coisa: de repente tu está comendo lá 2 vezes por dia 3 vezes por semana e não se dá conta. Montar o palco móvel no estacionamento de um shopping tem dessas coisas. E ter uma jornada de trabalho que começa 0630 e termina 21h não ajuda em nada.

        Pequeno parêntese em tudo. Eu tinha um trauma. Eu nunca havia terminado o Zelda do super nintendo. Não que o jogo fosse impossível, mas eu relacionava ele com uma parte do meu passado. No meio dessa minha viagem eu percebi que estava na hora de deixar mais essa parte do passado pra trás. Numa madrugada sem sono no computador eu terminei zelda, peguei o triforce (eu sempre penso em tatuar o triforce) salvei o mundo e a princesa. E deixei a Master Sword no lugar dela até ela ser necessária de novo. E acabou. Simbolicamente acabou. O passado ficou pra trás, deletei o jogo e sei que não volto mais pra esse capítulo. Fecha parênteses.


Quanto mais coisas vejo, quanto mais longe tento enxergar, mais coisas descubro sobre mim mesmo. Mais fundo enxergo naquilo que sou. O fora e o dentro continuam ligados. Assim segue a viagem. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Won't you fly high, free bird ?

          Pequenos momentos, se a gente não prestar atenção nos sinais eles passam batidos. Em um por do sol fantástico eu sinto o coração apertado. As vezes a gente quer agradecer por estar vivo e não sabe como.. Não sabe pra quem... E o shuffle do rádio manda free bird sem piedade nenhuma.Penso que existisse mesmo um Deus, ele não ia precisar de agradecimento nenhum. Só ia precisar de mais momentos assim.






              E depois encontro um libanês. Antes mesmo de ouvir a  versão dele pra primavera árabe eu já estava disposto a conhecer Beirute. Em um cachimbo ostentação eu fumo um tabaco estranho com ele... que ele só me ofereceu depois que eu deixei claro que tá tudo errado em Israel. Outro momento mágico. 






Que grande ironia essa de ter que andar 4000km para poder me sentir em casa.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A vingança do paraense


      Porto Alegre, setembro de 2014, eu e um paraense estamos perdidos num domingo. Acabamos no gasômetro depois de passar pela feira de negraluna local, por do sol fail com nuvens. Bancas desorganizadas e uma cerveja não muito gelada. O paraense levou aquilo pro lado pessoal.

      Bélem, agosto de 2015, o mesmo paraense me resgata do meio da favela e me leva para um open bar de cerveja artesanal com comida (boa) . E tudo de frente pra um por do sol umas 10x  mais bonito do que o do sul. Na cara dele eu vi um sorriso leve de quem ele tinha planejado aquele momento com muito esmero. No fim, depois de tomar toda cerveja que dava, ele me mostra uma sorveteria que ganhou o prêmio de melhor sorvete do brasil e aponta o sorvete de açaí. Não pensei em dizer não.

     Aqui não é a terra onde Jesus nasceu. Aqui é a terra prometida descrita no Êxodo, onde cerveja artesanal gelada e linguiça frita com cebola brotam das pedras e os garçons são simpáticos. Onde os músicos tocam led zeppelin e pearl jam em palcos suspensos. Onde o sorvete de açaí tem mais gosto de açaí do que a própria fruta.

     Sério, Pastor Aranath, não sei como te agradecer.



domingo, 16 de agosto de 2015

Um novo ritual.

        Belém. Internet descente finalmente. E uma piscina. E uma banheira no banheiro do quarto. E saber que estão me pagando pra isso. Eu sei que alguém sempre se fode, mas ao que parece dessa vez não sou eu. É engraçado voltar para um lugar com mcdonalds e onde os cruzamentos de trânsito possuem sinaleiras em vez de serem decididos na buzina. Em Juruti quando dois carros chegavam num cruzamento o que buzinava antes tinha preferência na passagem. Pelo menos foi isso que eu entendi dos dias que passei por lá. Quando pude comer num lugar que não tinha Maniçoba no cardápio, tive vontade de chorar de emoção.

          Mas voltemos para Belém, primeiro, preciso que você que está lendo crie uma imagem mental. Imagine um lixão, com rios de esgoto passando por entre ele, do lado do lixão e as vezes sobre ele coloque um assentamento irregular. Temperatura de 40 graus apodrecendo o esgoto e você pode ter uma idéia do cheiro da imagem. E gente morando ali. Ruas que lembram favelas, asfaltadas estreitas e caóticas. Barracos disformes de madeira construídos sobre o esgoto com carros novos estacionados na frente. Coloque um hotel no meio disso tudo. Essa é a periferia da cidade onde me encontro no momento. Andei quase 10 kilômetros por ruazinhas que me lembram muito as cercanias do 1º de maio em Caxias. Falei da imagem acima porque como todo gaúcho fui ensinado a ter raiva da parte de cima do país,  sem saber que aqui as coisas realmente são mais difíceis. Espero que o governo realmente continue ajudando aqui do jeito que der.

E aqui em cada esquina tem um risca faca.  E um adendo.. assim como é impossível tentar explicar o que é um bochincho pra quem não viu um, também é impossível explicar o que é um risca faca pra quem não viu. 

           Mando uma singela canção pra que pelo menos se tenha ideia da trilha sonora do mesmo. Clique por conta e risco, a música vai grudar na cabeça, já aviso.



Eu tenho uma teoria que diz que o Único Acima usa 3 coisas pra gerenciar o universo: 
O shuffle dos players de música;
Os vendedores de sonhos;
Os lugares de conexão cósmica que nós mortais conhecemos como "Bar do Miro". Não importa a cidade que você esteja, sempre haverá um bar do miro. E basta você entrar no bar para saber que está fazendo parte de algo maior. Bom, o fato é que o Miro não é tão onipresente quanto eu pensei que fosse. Aqui no norte/nordeste ele foi substituído pelo Jair. Em TODAS as cidades que eu passei encontrei um Bar do Jair.

Por fim, a piada que precisa ser feita:  Como é bom estar na terra de Jesus.