terça-feira, 25 de novembro de 2008

Só...

_____Há pessoas arrogantes e prepotentes o suficiente para achar que sabem de mim mais do que eu mesmo. Como se isso fosse possível. Maldita necessiada de controle que as pessoas insistem em ter. Os grandes males são o medo e a preguiça, mas seguidos de perto por essa vontade de ter controle.

_____E eu me fecho, não é uma armadura forte, mas é coesa. Sacrifiquei resistência por velocidade.

_____Não respondi antes mas respondo agora. Sou do tipo de amigo que só ajuda quem se ajuda e, em alguns casos, quem pede ajuda. Salvo isso, cada um se destrói e se redime do jeito que melhor lhe aprouver, sem minha intromissão.

_____Com o meu chefe aprendi a pensar grande, mas sem descuidar dos detalhes. E que fique claro que eu só aprendi isso porque foram os detalhes que negligenciei aqulees que mais me machucaram.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Frases simples e despretenciosas sobre grandes assuntos.

"Se envolver de graça não tem mais graça"

- Karem Jasmim, numa ligação de madrugada pra atualizar os fatos.
Para diminuir um pouco a saudade.
Para rir de besteiras e lembrar de propagandas de chocolate.
Para reafirmar a supremcia de caxias do sul e seus moradores.
E bah.



E sucos de lajanja com hortelã.
Vermelho ou verde..

domingo, 23 de novembro de 2008

10000 compassos

Ao som de: Vitor e Leo - Borboletas

_____Uma das minhas frases recorrentes é: 'eu não sou pago pra isso.' A verdade é que raramente faço as coisas apenas porque sou pago por elas. O mais comum é que eu faça coisas que eu gosto e não receba absolutamente nada em troca. Acabei me acostumando com isso, em parte porque a grande maioria das pessoas são mal agradecidas e esquece muito rápido o que a gente faz por elas. O resto é porque não quero agradecimento nenhum, quero apenas ficar em paz comigo mesmo. E tem tanta gente que me faz um bem indescritível, o mínimo que posso fazer é retribuir. Eu uso o 'eu não sou pago prá isso' com outro sentido, porque não há dinheiro no mundo que me motive a fazer certas coisas. E o show de quinta feira, além de ser um exemplo de desapego a minha vaidade, foi uma boa mostra do que acontece quando eu faço uma coisa sem vontade. Pelo menos acabou.

_____A parte que eu mais gosto é que pensam que é sem querer. Tem muito de profissionalismo e e lógica nas minhas atitudes, mas eu sempre cuido para colocar o sentimento acima de tudo. E não me dou mais ao luxo de sentir certas coisas sem querer.

Onde eu trabalho, não tenho vida pessoal.
Onde eu sorrio leve eu me sinto em casa
Quem sorri sincero sempre tem minha atenção
O tempo me ajuda, ainda que me faça correr
Ando com calma porque tenho pressa.

É bom cantarolar músicas sobre borboletas
E não ter nenhuma recordação pedante
Ou não ter ninguém que responda por patroa
E nenhum blabla bla sobre céu de outro alguém.
De algumas coisas eu sinto falta, às vezes
Mas a leveza preenche qualquer vazio que tente se criar.
Os compassos vão passando sem que eu precise contar

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

É prá isso que sou pago...


Ao som de: Skank - Ainda gosto dela

_____Além de me cativar, ainda me dá um saco de sete belo de presente. E um motivo para ir num casamento.



Mimada e orgulhosa, mas a melhor irmã do mundo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Genialidade


_____
Houve uma vez um menino que corria de kart. Era uma tarde chuvosa. Ele rodou duas vezes durante aquela corrida e chegou em último. Ele decidiu que nunca mais queria passar por aquela vergonha. Ele morava não muito longe de um autódromo e desde aquela tarde, sempre que ele via as nuvens de chuva sobre o autódromo, ele pedia pro seu pai levá-lo até lá para ele treinar. Esse ritual se repetiu inúmeras vezes. Anos depois, já um piloto com uma carreira consolidada, ele fez isso numa outra tarde chuvosa:



“Ser o segundo é o mesmo que ser o primeiro dos perdedores.” Ayrton Senna.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Demasiado humano.

Ao som de: Duran duran - Come Undone


Eu posso chorar assistindo sessão da tarde e posso ver alguém morrer sem sentir nada.

Não entendo certas relações humans por que não as vivencio.

Tenho a crônica dos meus grandes amores bordados num tapete no meu banheiro.

O momento mágico do meu dia é quando ergo a cabeça descendo a escada de manhã. Eu sempre sorrio. faça chuva ou faça sol, o dia é meu.

O momento mágido da minha noite é quando são 3 da manhã e eu continuo sem sono. E eu pego meu baixo e fico tocando com ele desligado. Eu fecho os olhos e escutos todas as notas. E acabo dormindo com ele do meu lado.

E eu leio Nietzche como quem lê um jornal. Leio 'a arte da guerra' e 'o príncipe' como se lesse um manual de instruções. Escuto Tool como se fosse uma canção de ninar. Vivo a vida como quem joga. E jogo como se não quisesse ganhar.

Dentro de uma camiseta do grêmio muita coisa aconteceu. Isso me faz gremista mas não faz sentir raiva do inter nem pena do juventude.

Um par de asas. Uma pena para cada pecado. Uma pena vermelha por um pecado maior. Não que eu me culpe mais por ele, mas ele foi o que mais me ensinou.

Español me balança. Gosto do som. Do cheiro de uma manta. Do sorriso. Mesmo sem tudo isso, eu ainda gostaria da língua española só por causa do Neruda e de um hipie chileno.

Meus dois lados vivem discutindo. É comum que eu me refira a mim mesmo com um "nós" em vez de "eu". O fato é que me chamo de vento quando converso comigo mesmo.

Por se hablar en Neruda:

Oda a las cosas

Amo las cosas loca, locamente.
Me gustan las tenazas, las tijeras,
adoro las tazas, las argollas, las soperas,
sin hablar, por supuesto, del sombrero.
Amo todas las cosas, no sólo las supremas,
sino las infinitamente chicas,
el dedal, las espuelas, los platos, los floreros.

Ay, alma mía, hermoso es el planeta,
lleno de pipas por la mano conducidas en el humo,
de llaves, de saleros, en fin, todo lo que se hizo
por la mano del hombre, toda cosa:
las curvas del zapato, el tejido,
el nuevo nacimiento del oro
sin la sangre, los anteojos, los clavos,
las escobas, los relojes, las brújulas,
las monedas, la suave suavidad de las sillas.

Ay cuántas cosas puras ha construido el hombre:
de lana, de madera, de cristal, de cordeles,
mesas maravillosas, navíos, escaleras.

Amo todas las cosas,
no porque sean ardientes o fragantes,
sino porque no sé, porque este océano es el tuyo,
es el mío: los botones, las ruedas, los pequeños tesoros olvidados,
los abanicos en cuyos plumajes desvaneció el amor sus azahares,
las copas, los cuchillos, las tijeras, todo tiene en el mango,
en el contorno, la huella de unos dedos,
de una remota mano perdida en lo más olvidado del olvido.

Yo voy por casas, calles, ascensores, tocando cosas,
divisando objetos que en secreto ambiciono:
uno porque repica, otro porque es tan suave
como la suavidad de una cadera,
otro por su color de gua profunda.
otro por su espesor de terciopelo.

Oh río irrevocable de las cosas,
no se dirá que sólo amé
lo que salta, sube, sobrevive, suspira.
No es verdad: muchas cosas me lo dijeron todo.
No sólo me tocaron o las tocó mi mano,
sino que acompañaron de tal modo mi existencia
que conmigo existieron y fueron para mí tan existentes
que vivieron conmigo media vida
y morirán conmigo media muerte.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Advérbio de modo antes do predicado



_____
Recebi um mail da Su que merece ser postado. Fez-me pensar. Ainda mais depois de sexta. Não tenho palavras para descrever como é bom enxergar certas coisas de fora. E é justamente nesse 'fora' que repousa uma sensação muuuito boa por não fazer mais parte de certas coisas pequenas demais para o que me proponho.

"Não quero defender as relações falidas e que só fazem mal, nem estou sugerindo que as pessoas insistam em sentimentos que não são correspondidos, em relacionamentos que não são recíprocos, mas quero reafirmar a minha crença sobre o quanto considero válida a coragem de recomeçar, ainda que seja a mesma relação; a coragem de continuar acreditando, sobretudo porque a dor faz parte do amor, da vida, de qualquer processo de crescimento e evolução.

Pelas queixas que tenho ouvido, pelas atitudes que tenho visto, pela quantidade de pessoas depressivas que perambulam ocas pelo mundo, parece que temos escolhido muito mais vezes o `nada` do que a `dor`.

Quando você se perguntar: "Do que adianta amar, tentar, entregar-se, dar o melhor de mim, se depois vem a dor da separação, do abandono, da ingratidão?". Pense nisso: então você prefere a segurança fria e vazia das relações rasas ? Então você prefere a vida sem intensidade, os passos sem a busca, os dias sem um desejo de amor ? Você prefere o nada, simplesmente para não doer ?

Não quero dizer que a dor seja fácil, mas pelo amor de Deus, que me venha a dor impagável do aprendizado que é viver. Que me venha a dor inevitável à qual as tentativas nos remetem. Que me venha logo, sempre e intensa, a dor do amor...

Prefiro o escuro da noite a nunca ter me extasiado com o brilho da Lua...

Prefiro o frio da chuva a nunca ter sentido o cheiro de terra molhada...

Prefiro o recolhimento cinza e solitário do inverno a nunca ter me sentido inebriado pela magia acolhedora do outono, encantada pela alegria colorida da primavera e seduzida pelo calor provocante do verão...

E nesta exata medida, prefiro a tristeza da partida a nunca ter me esparramado num abraço...

Prefiro o amargo sabor do `não` a nunca ter tido coragem de sair da dúvida...

Prefiro o eco ensurdecedor da saudade a nunca ter provado o impacto de um beijo forte e apaixonado... Daqueles que recolocam todos os nossos hormônios no lugar!

Prefiro a angústia do erro a nunca ter arriscado...

Prefiro a decepção da ingratidão a nunca ter aberto meu coração...

Prefiro o medo de não ter meu amor correspondido a nunca ter amado ensandecidamente.

Prefiro a certeza desesperadora da morte a nunca ter tido a audácia de viver com toda a minha alma, com todo o meu coração, com tudo o que me for possível...

Enfim, prefiro a dor, mil vezes a dor, do que o nada...

Não há - de fato - algo mais terrível e verdadeiramente doloroso do que a negação de todas as possibilidades que antecedem o `nada`.

E já que a dor é o preço que se paga pela chance espetacular de existir, desejo que você ouse, que você pare de se defender o tempo todo e ame, dê o seu melhor, faça tudo o que estiver ao seu alcance, e quando achar que não dá mais, que não pode mais, respire
fundo e comece tudo outra vez...

Porque você pode desistir de um caminho que não seja bom, mas nunca de caminhar...

Pode desistir de uma maneira equivocada de agir, mas nunca de ser você mesmo...

Pode desistir de um jeito falido de se relacionar, mas nunca de abrir seu coração...

Portanto, que venha o silêncio visceral que deixa cicatrizes em meu peito depois das desilusões e dos desencontros... Mas que eu nunca, jamais deixe de acreditar que daqui a pouco, depois de refeita e ainda mais predisposta a acertar, vou viver de novo, vou doer de novo e sobretudo, vou amar mais uma vez...

E não somente uma pessoa, mas tudo o que for digno de ser amado!"
[Rosana Braga]

E estamos vivos ainda. Nem acima nem abaixo.
Do lado... cuidadosamente.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ferroado

Ao som de: Duffy: Mercy


_____Uma correria absurda que começou na tarde de sábado, o qual seria meu primeiro dia oficial de trabalho. Foi uma incrível confusão de horários e coisas prá fazer em diferentes lugares da cidade. no meio tudo, um conversa na escada resolveu tudo e eu tive certeza de que ia dar tempo de fazer tudo, pelo menos em termos. Na noite, saí do estúdio e vim pra casa cantarolando um blues. Vi os raios de uma tempestade que estava se armando no céu. Sem me dar conta acelerei mais. A tempestade era minha.

_____E foi mais um show bom, mas que eu toquei com a cabeça bem longe. Pensando no que ainda tinha que fazer. Pensando no que queria fazer. No meio de 'with ou without you' confesso que fiquei um pouco triste. Tem uma parte da letra que diz 'and you give yourself away'. Talvez não seja a tradução correta, mas eu sempre traduzo essa frase como "Então você se dá". E eu percebo que consigo me doar por inteiro a várias coisas que faço, mas não consigo fazer o mesmo com pessoas. Talvez não sehja exatamente tristeza, talvez eu sinta pena de mim mesmo devido a essa incapacidade. Eu poderia até enfeitar esse texto falando que isso é minha naturea e tudo mais, mas seria mentira. Eu não sou assim. É medo de que se repita a mesma coisa que sempre aconteceu quando eu me entreguei para alguém. E também medo de magoar alguém que goste de mim, como normalmente acontece.

_____Eu me divido entre a vontade de ter alguém do meu lado e a certeza de que o ritmo de vida que eu me proponho não é compatível com uma namorada. E não é uma questão de tempo, é uma questão de postura.

_____Todas essas coisas eu fiquei pensando na madrugada enquanto colocava em ordem a bagunça do estúdio. Cansei o suficiente para dormir por lá mesmo, num sofá esquisito mas bem macio. Uma passada rápida em casa de meio dia prá tomar um banho e trocar de roupa: a tarde no estúdio prometia ser no mesmo ritmo da madrugada.

_____E eu começo a entender porque guardo minhas vontades prá mim. Quando falo delas e acabo tendo que mudar os planos, normalmente acontece alguma coisa e eu acabo me sentindo culpado. E, por Deus, há tanta coisa que eu quero fazer.

_____Só que agora, depois de 12 horas num lugar onde um JCM 900 é guardado atrás da porta pra ela ter onde bater e o melhor cachorro do mundo dorme no meio do corredor, eu só quero minha cama. Acho até que mereço dormir.

sábado, 8 de novembro de 2008

Estamos nos entendendo

Ao som de: Gustavo Viegas - Léxico

_____A semana foi complicada. Teve de tudo: emprego novo, terços rezados em latim, vidros estourados, mecânicos que não sabem a diferença entre esquerda e direite, bandas novas, muuuuitas músicas prá serem tiradas, vontade absurda de ficar sozinho. vontade absurda de conversar com algumas pessoas, colo de bruxa, sonhos comigo pulando a janela. As 25 horas realmente estão sendo bem utilizadas. Muitas coisas boas e muitas coisas ruins, mas ainda acho que estou no lucro.

_____E antes de sair para tocar hoje me desejaram sorte. Eu toquei prá 1000 pesoas, dei muitas risadas, vi a galera cantando a maioria das músicas enquanto o batera tocava muito... e ainda ganhei dinheiro prá isso. Ainda acham que isso é ruim.?? Ir para um bar decrépito e beber até ficar insuportavelmente chato e agarrar alguma mina só pq ela tem peito grande é melhor.? Nem argumentei, cheguei na fase na qual eu só sorrio. Eu sei. Estou aqui sentado tomando um capuccino com os pés em cima da mesa ouvindo o cd do Luís. Adoro o meu trabalho.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Frases simples e despretenciosas sobre grandes assuntos.

De vagão e revival não vive o músico.

- Cebola, vulgo Marcelo Mujen.
É autor das melhores piadas sobre o Conan,
um guitarrista meio surdo e um geminiano de extremo bom gosto.
Não necessariamente nessa ordem.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Conversas metafísicas

Ao som de: Se essa rua fosse minha

- Tu já aprendeu que a dor fica repousando na beira do rio, o que te falta aprender.?
Fiquei em silêncio. Sabia que a resposta não podia ser tão simples e que aquilo era um teste para minha arrogância. Finalmente respondi: - Não sei.
- Te falta aprender a se molhar sem reclamar, ela me disse sorrindo.
- Eu ia responder 'nadar'
- Tu realmente quer convencer os outros de que não sabe nadar.?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Egomet Austro



_____Ao som da saudade de um som que eu não saberia definir. É um barulho de várias corrêias , com cheiro de madeira queimada, um pouco de fuligem, cheiro de verde. Marteladas. Uma serra. Ás vezes milho roubado da roça do Bidi. Barulho de água. Fogueiras enormes com grimpas para comer pinhão. Cheiro de mofo das páginas amareladas de toda coleção do Júlio Verne, de todos os livros. Todos todos todos os livros. O som do balanço no galho do plátano. Eu nunca vou esquecer o barulho do balanço e o melhor carrinho de lomba. Banho de rio. Depois do terceiro eucalipto dá pular que é fundo. Uma fonte com uma caneca azul para pegar água. Um lugar a 30 metros do caos, mas silencioso suficente para ouvir o próprio silêncio. Para ouvir o coração batendo e a alma flutuando.

_____Obrigado pelo mendigo bêbado. Ele foi a melhor companhia para uma garrafa de bacardi e uma carteira de marlboro light em meses. Obrigado pela paciência e pelo silêncio enquanto eu encontrava as respostas. Obrigado pelo amanhecer com chimarrão gelado. Pela paciência. Pelo canto onde ninguém me viu. Por tudo que eu pude aprender com aquele que todos chamavam de Seu Otávio, mas que prá mim vai ser sempre o Zé.

_____Ardala... Bel... a força de vocês foi foda. Meu salve rainha em latim foi prá vocês.

_____Um chá de camomila me fez dormir como criança. E denovo eu me senti pequeno... Nos quedamos todos em paz.

sábado, 1 de novembro de 2008

Ad majora Natus


Ao som de: repertío das bandas novas


- Boa noite
- Como tu entrou aqui.?
- Aquela cerca é uma mentira. E que mundo é esse em que precisamos colocar uma cerca ao redor de uma igreja.?
- Sempre havia um bêbado ou um maconheiro dormindo no jardim. E sempre quebravam alguma coisa. Tu não tem uma cerca na tua casa.??
- 1x0 prá ti. Posso entrar.?
- O que você quer aqui.?
- Eu não estou falando da casa paroquial.
- Por que eu abriria a igreja prá ti.?
- Porque é dia de los muertos e eu não vou encontrar o que estou procurando em nenhum cemitério.
- Tu vai demorar.?
- Não sei, mas pode ir dormir, eu ainda sei abrir e fechar as portas da igreja sozinho.
...
- Não quebra nada.
- Pode deixar, apague as luzes quando sair.
...

_____Eu vi as luzes da cidade entrando através dos vitrais e colorindo meu chão. Lembrei que o vidro é uma forma de líquido. Lembrei do chão frio nas minhas costas. O teto estava escuro demais, eu não conseguia ver nada. Sentei em cima do altar como um criança fazendo uma coisa absurdamente esquisita sem ter noção de que aquilo não é normal. Acabei sentado na escada na frente do altar querendo aprender a ser raposa. E discutindo uma série de coisas metafísicas comigo mesmo. Mesmo sem mar, foi uma madrugada e tanto. Ao ato de contrição colado no confessionário continua lá, orgulhosamente amarelado. As moedas nos olhos do sudário ainda me fascinam. Mesmo ele também tem que pagar seu tributo ao barqueiro.

_____Passei na sacristia para tomar água, mas encontrei algo melhor. Ainda deixei um bilhete para o padre Mário "Tomei um pouco do teu vinho, ele continua divino. Mil vezes obrigado. Por tudo - Do teu eterno coroinha"

_____Saindo ainda rezei na frente do Túmulo do Padre Giordani como quem dá de cara com uma velha foto de um amigo que foi viajar pra algum lugar longe. E antes que as portas se fechassem eu vi a estátua de São Francisco me olhando de cima. Acenei enquanto dizia "hasta luego, Chicão", espero que eu consiga crescer o suficiente para que tu não me olhes mais de cima"

_____No caminho pra casa ainda perdi 20 minutos no revival procurando alguma coisa que eu não sabia bem o que é, mas sabia que não estava lá. Bora pra casa fechar uma defesa e jogar street fighter. A correria vai prosseguir.

_____Eu não quero respostas. Eu só quero saber o que perguntar.