segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Seria Sonhar Demais.?

       Eu tenho que falar do festival, já que respirei o festival de blues na última semana, mas antes eu preciso falar de uma coisa que fez com esse festival fosse o mais mágico de todos.

       Às vezes a gente encontra aquilo que mais teme no meio do caminho. Mas, às vezes, o mundo nos coloca de frente com o que mais desejamos. E eu julgava tão impossível. Assim como o raposa ganha pela cor do trigo. Eu ganho pelo groove do baixo. Eu ganho pelo sorriso bobo. De todo o festival eu queria uma única coisa. E de repente tudo que eu queria estava ali ao alcance da minha mão. A mix do P.A. estava exatamente como deveria estar, mas eu aumentei o volume do baixo. Eu queria ouvir melhor.

        E no meio de toda a confusão eu pulei de novo de bungee jump. Dando gargalhadas enquanto lembrava das lições de física pra girar mais rápido. Se soltar olhando pro horizonte e se inclinando pra frente deixaria tudo mais fácil. Mas eu não. Eu pulo olhando pro chão. Não vou me deixando cair a ponto de não ter volta. Eu escolho me jogar. E embora aqueles poucos segundos de queda livre façam o cérebro surtar, a ideia de me agarrar em alguma coisa nunca passou pela minha cabeça. Eu olho pro abismo e o abismo olha pra mim. E minhas asas sabem o que fazer.

        Olhos cor de mate cuspido cheios de água me são tão familiares, mas foi estranho ver eles em outro lugar. Espero que o tempo resolva logo o que precisa ser resolvido. Não tenho pressa pra ser feliz. Mas estamos uns 10 anos atrasados, no mínimo...

         O efeito Faccioli foi devastador, mas depois de 5 festivais, já sei lidar bem com o fim do trabalho e o início da bebedeira sem volta do último dia. Essas duas coisas acontecendo ao mesmo tempo, no caso. Sai do festival sozinho segurando um crachá como se fosse um brinquedo novo. Era minha prova que tudo foi verdade. E eu ria sozinho. O caos até me assusta, mas nunca consegue me fazer hesitar.
 
        Sei bem que deveria descansar. Mas ainda não. Eu tinha um show pra fazer. coisas demais aqui dentro. E queria contar as novidade pro Virgílio. Depois de tanto estudar, tanto sentir e tanto viver a música; é engraçado pensar que um beijo conseguiu mudar meu jeito de tocar.

       Depois de tudo, fui buscar umas coisas no festival, já no domingo de noite. Foi a primeira vez que caminhei sem pressa por ali. E a chuva veio me encontrar enquanto eu conferia se tudo estava no lugar que deveria estar. Fumei um último cigarro sentado na casinha abraçado com a chuva. Lembrei do meu trabalho. Esse festival sempre vai ser inesquecível pra mim.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Chicotadas entre o velório e o enterro


       Entrei no velório com uma pequena flor na mão. Não coloquei ela junto com todas coroas de flores, mas deixei ela sutilmente escondida debaixo do tapete. A Dona Morte gosta desses meus pequenos caprichos. Da mesma maneira que guardo moedas para pagar um barqueiro, entrego flores para que ela seja gentil com os que leva até o outro lado.

         Cada vez que vejo um caixão se fechando, morre um pedaço de mim. Cada vez que ouço o barulho da madeira raspando no cimento quando colocam o caixão na sepultura, morre um pouco daquilo que me faz humano. Não acredito em ressurreição, mas que haja sempre esperança e força pra fazer renascer o que a morte nos tira. Que as lembranças desse ritual medieval que é o enterro não sejam capazes de macular as lembranças de uma vida de alegria. Que a dor desse momento não chegue sequer a balançar o amor e o laço que nos une àqueles que foram.

      Muita besteira se fez e se disse em nome do Único Acima, mas no livro dele, ainda encontra-se sabedoria:

           "As almas dos justos, porém, estão na mão de Deus, e nenhum tormento os atingirá. Aos  olhos  dos  insensatos  parecem  ter  morrido;  sua  saída  do  mundo  foi  considerada uma desgraça e sua partida do meio de nós, uma destruição, mas eles estão na paz.  Aos olhos humanos parecem ter sido castigados, mas sua esperança é cheia de imortalidade. Tendo  sofrido  leves  correções,  serão  cumulados  de  grandes  bens,  porque  Deus  os pôs  à prova e os achou dignos de si. Provou-os como se prova o ouro na fornalha, e aceitou-os como ofertas de holocausto; no  tempo  do  seu  julgamento  hão  de  brilhar,  como  centelhas  que  correm  no  meio  do  canavial; vão julgar as nações e dominar os povos, e o seu Senhor será rei para sempre. Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor descansarão junto  a  ele.  Pois  a  graça  e  a  misericórdia  são  para  seus  santos  e  a  visita  divina  é  para  seus eleitos. "

        Muita força e muita paz para os familiares e amigos da Dona Lia, em especial para o Robledo, esse irmão que a vida me deu.

domingo, 6 de novembro de 2016

A palavrta da noite: hiato


            Eu queria postar essa música no face, mas sei que soaria como uma indireta. Posto aqui porque ela é uma indireta.

















          Meu rosto me trai enquanto toco. E na minha cara fica estampado meu pensamento. E eu toco sorrindo enquanto dentro de mim existe uma cacofonia de vozes e opiniões e caminhos. Minha fuga e minha catarse no mesmo lugar.  Talvez eu me esconda por mero cacoete.

         Um show no boliche volta com uma tonelada de lembranças no espaço de um cigarro. Uma noite esculhambada do passado que acabou no motel do jeito errado. Se bem que, faz tanto tempo que certo e errado não são mais zero e um. Faz tanto tempo que certo e errado são relativos. E naquela noite fizemos o que foi possível. O que foi preciso.

Navegar é preciso. Viver não.

Um pequeno hiato na noite que foi preenchido conversando com um otorrinolaringologista e com um mestre em história e filosofia. É o diabo, mas essas noites me fazem pensar que estou exatamente onde deveria estar. É o inferno, mas fala-se com conhecimento de causa sobre ética e moral. As circunstâncias nos levam a trabalhar juntos. E o trabalho nos torna amigos.