sexta-feira, 30 de março de 2012

Eu vejo

Do lado do meu metrônomo tem um anel, um recado que ficou meses pendurado do lado do meu monitor, uma clave de sol bordada num pano antigo. Um barquinho de papel com uma marca de batom. Não é como se eu pudesse jogar fora. Embaixo de tudo, numa folha de caderno já meio amarelada, essa poesia, ainda velha e ainda barata. 


Ruínas

No meu estojo, tantos beijos
Tantos rabiscos, passados abraços
Não os conheço a todos
E, por certo, nem todos me conhecem.
No meu coração, tantas dores
Cicatrizes, arrependidos amores
Escritos devagar e sem pena
Vividos pelo meio, sem tudo que podiam ser
Na minha cabeça, tantas lembranças
Quase boas, retorcidas saudades
Às vezes machucam, às vezes alegram
Necessidades estranhas, futuro ao inverso
Na minha mochila, asas maiores
Do tamanho do céu, falso horizonte.
Não sei mais voar aqui.
E agora rastejo por dentro de um olhar vazio
No meu amor, uma fé que hesita
Encruzilhadas sozinhas, sombras geladas
Por medo de chorar não sorrimos
Por medo de viver nos deixamos morrer.

Na minha tristeza, tantos motivos
A mesma culpa, insignificante razão
Perdido entre os outros em mim
Sozinho no fim, sem mesmo um coração.

sábado, 24 de março de 2012

Etiquetando coisas

Abraçar o Semasas doeu. Mas o bom de você se sentir no fundo do poço é que não há mais para onde cair. Troquei um par de moedas pelo bastião. Ele me mostrou uma tatuagem. E lá estava eu cheio de orgulho da coisa mais parecida com um ser humano que já encontrei. Tive certeza que ele vai cuidar bem de quem eu não posso cuidar. Depois, com as mãos tremendo e com o coração apertado, segurando duas moedas, ia decidindo minha vida por SMS. Show do compadre e eu sentado no balcão escorado num litro, só pela nostalgia que ali me cabia. Sabia bem que ali não era meu lugar, mas seria injusto se eu não me permitisse certas coisas uma ultima vez. Percebi a grande ironia se desenhando subi no palco para cantar. Como eu imaginei, ninguém entendeu o que eu cantei. Depois coloquei o Semasas no palco. ¿Porra, como é que vcs vão fazer quando eu não estiver aqui para colocar as coisas nos seus lugares.?

O Potro me ligou de manhã. Foi louvável, eu não poderia esperar menos dele.  Mas ele deveria ter me dado uma surra. Teria sido melhor. Como se a confusão em que me coloco não tivesse me quebrado o suficiente. Como se diferença gritante de sentimentos não soasse como indiferença. A idéia do mar foi boa, se existe alguém que pode mudar tudo é aquele monte de água estrelado. Tá na lista, a propósito. Enfim, Potro, só pra ti não dizer que não gosto de ti.

terça-feira, 20 de março de 2012

E eu era.

Ás vezes penso em apagar o blog. Tocar fogo no smeus diários numa terça-feira qualquer. Como se eu pudesse apagar minhas cicatrizes, meus alicerses. Como se eu pudesse tirar o palito de picolé sem destruir o castelo. Olhando para trás, misturo vergonha e orgulho sem querer sentir nenhum dos dois. Leio coisas do meu ego e ainda quero crucifícá-lo. Pontos que deixei para trás e que não sei onde vão ser ligados. Não posso. Capítulos intermináveis. Crime e castigo. Frases que deveria ser terminadas com ponto final que eu insisti em transformar em reticências. Tudo isso me leva a crer que o problema nunca foi meu coração. O que sinto e o jeito que sinto não parecem estar certos, mesmo sendo exageradamente intensos. O problema é meu cérebro, já que meu jeito de pensar o que faço mostra-se ciclicamente enganado. É pensando que tenho que segurar as pontas do meu coração kamikaze.

Às vezes escolho músicas para tocar, as vezes eu sinto que a música me escolheu.



Forget about the reasons and
The treasons we are seeking
Forget about the notion that
Our emotions can be swept away
Forget about being guilty,
We are innocent instead
For soon we will all find our lives swept away


Ah, antes que eu me esqueça: Verão, aquele abraço.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Embora...

Vejo meus dias como compassos. E neles vou colocando minhas semínimas, minhas colcheias. Prenchendo espaços, colocando melodias, cantarolando com meus passos e acentuando notas com meus pensamentos. Nem todas a notas soam bem e no lugar certas, mas sei que é assim mesmo. Sempre estamos sujeito a erros quando tentamos algo novo, de novo. É muito estranho, mas sair da zona de conforto que me escondia está sendo bom. É como se eu estivesse sempre fazendo alguma coisa, bem ou mal, sempre soando. Ou silenciando para tomar fôlego para o compasso seguinte.
Sei que terei meu descanso, minha pausa de mil compassos antes de tocar somente em tom maior.

Cada vez que gritava "nunca me conceda descansar" lá dentro de mim, eu sabia que tudo que eu precisava era descanso. Mas não podia descansar, não na época. Eu estava procurando minha paz no lugar errado, como se ela estivesse fora. Como se uma outra pessoa pudesse dá-la a mim. Agora sei que o descanso que tanto falo não me será dado. Eu é que vou dá-lo a alguém.

A culpa não me maltrata mais. Nem me dá superpoderes. Aquilo que me torna vulnerável é justamente o que me deixa mais forte. Sigo apenas ventando, apesar do meu medo. Não vou fugir. O tempo vai virar. Há quem sopre meu nome.

terça-feira, 13 de março de 2012

Aqui

O aqui não muda possibilidades
Não é como se eu pudesse fazer qualquer coisa
Mas aqui o molde da minha vontade é maior
E, posso dizer, mais profundo
A vontade se queda mais latente
E isso muda todo meu mundo.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Germinal

Enfim (porque começar com enfim pode virar regra), eu pedi pra trazerem meu cavalo e acabei ganhando um lindo cavalo marinho de presente. E tudo que veio junto. Para acordar 6 da manhã e ver o amanhecer como um começo e não como um fim. Para acreditar. Para sentir até o fundo dos ossos que estou vivo.

Tequila que eu devo, tequila que me devem.  Aqui tem cuervo.
Nada acaba pra sempre. Basta um pouco de felicidade para tudo recomeçar.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Vibrando em outras frequências

Aula de teclado da segunda. E toquei sabendo o que estava fazendo. 


domingo, 4 de março de 2012

No lugar errado

Não ter cor era uma vantagem
Eu era minha aquarela em branco.
Esperando ser pintado.
Esperando que alguém enxergasse as cores
Para as quais eu era cego.

E fui verde como um gramado na primavera.
Azul como um céu de outono
Sépia como um fim de tarde apaixonado.
E cinza como a chuva fria do meu inverno.
Mas agora me sinto escuro.
Mais escuro do que o fundo do mar.
E ao mesmo tempo tão pálido, tão fraco.
Tão frágil nessa necessidade.
Tentando me apagar, tentando me soltar.
Tentando encontrar um lugar que seja meu.
Que seja nosso.

Porque aqui há um que pensa.
Um que sente, um que sofre. Um amaldiçoado pela culpa
Um que deseja, um que tem medo, um perdido na loucura.
Um que vive, um que morre e um que apenas existe.
Os 3 amam, de fato.
Mas não consigo escolher qual ama melhor.

Por baixo de tudo eu posso ouvir
O som dos pés que me pisam sem perceber.
Ouço sussurros me julgando de fora.
Enquanto o peso das lembranças me esmaga.
Perdi meu tesouro mais raro
A chance das turbulências do meu oceano
Finalmente encontrarem paz em alguma praia

¿Quem se importa com o que eu sinto.?
Olhando pra baixo com a atenção necessária
É fácil me ver. Sou o parasita dessa cidade.