quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"Vencemos"


Podemos chamar de milagre de natal, mas não acordei atrasado. O despertador insistiu muito, mas conseguiu me arrancar da cama. Peguei o Virgílio para conseguir passar algumas músicas e a tendinite me lembrou que o dia ia ser muito longo, tendendo ao infinito. Passagem de som estranha. Foi estranho voltar para um palco. Foi estranho não estar atrás da mesa de som. Demorou, mas deu tudo certo... Não sem a ajuda do Delmar, o apagador oficial de incêndios.

Ironicamente eu percebi que não ia precisar de armadura nenhuma. Eu tinha como me defender. Ironicamente não consegui passar esse natal sozinho ( eu sempre tento, quase nunca consigo). E passar o natal com o Kiko foi engraçado. Quase 4 horas sem que ninguém falasse feliz natal. A coisas indo pro lugar.

Lembro de organizar tempo e fatos pra ajudar todo mundo. Pra encaixar as peças em vez de tocar fogo no circo. O show demorou pra começar. Eu não estava sentindo medo, mas estava me sentindo terrivelmente fora do lugar. Um pai nosso em español e soltei os cabelos, luz na cara e o Giovane anunciando. Não deu mais tempo pra pensar  sobre meu lugar ou sobre me defender; sobre quem eu queria que estivesse ali me assistindo. Mandei meu coração calar a boca, por pelo menos 2 horas eu não queria ouvir um idiota me dizendo que falta alguma coisa. Por pelo menos 2 horas eu tinha outras coisas para escutar. Não sei direito se ele ficou quieto, só sei que música atrás de música, nota atrás de note eu fui colocando toda minha energia. Eu prometi que não seria pela metade, que seria tudo de mim em tudo. No fim, avisei que a gente ia tocar mais 4 músicas que a gente sempre quis tocar e nunca conseguiu em banda nenhuma. Aquele era eu tentando explicar sem dizer nada que o ano tinha sito uma merda pra mim e que eu queria um presente de natal foda pra equilibrar a conta. E eu tive o melhor presente de natal que um baixista barulhento e jazzificado poderia querer. Quando o Kiko subiu no palco eu desci pra poder ver melhor. O Barão o Caldo e o Kiko no mesmo palco seria a imagem perfeita para mostrar que meu trabalho estava feito.  Se fosse uma frase com a mesma função seria "foi sem querer, mas não muito" no corredor e na confusão entre os banheiros

No meio do show, olhei pro lado e pensei comigo como me sinto estranho em andar com os grandes. Algumas das pessoas mais fantásticas que eu conheço ali tocando juntas e eu de metido. Sabia que no esquema tático minha função era juntar todos eles e manter a máquina funcionando, mas acho que estar num palco tocando não foi invisível o suficiente dessa vez.

Gracias, ao Caldo, porque ele é definitivamente o mestre daquele lado do palco. Ao Barão, por ter mantido um maluco sob controle sempre reiterando que não era musicoterapia. Nick, tenta uns tapas, tu já falou mil vezes e não adiantou. Cla, sem tua produção teria sido inviável. Tchuky, faz uma cuba. Dennis, nunca me deram um litro com tanta competência. Jonas, apesar das cantadas ridículas tu tem potencial. Giovane, tu é foda. Kiko, parceria total. Pedroso, tu é um das melhores pessoas com as quais tenho o prazer de conviver. E eu sempre vou achar um absurdo tu pagar pra eu fazer o que eu faço. Poletto, tinha que ser tu ali junto com a gente. Kiko, se o discípulo perfeito for igual ao mestre, então tenho o professor certo. Potro, Ostra, Dulcinéia, Jasmim, Ana Pic-pic, Mário, Fábio, Ave, Mateus Correria, Copa, Compadre, Bledo, Mark, Wood: vcs não estavam lá, mas tinha um pouco de vcs lá comigo, um pouco de tudo que vcs me ensinaram.

No fim, bem no fim de tudo, acabei o ano fazendo o que eu sempre faço: Um exagero imbecil antes de parar por um tempo. Cansei de viver olhando pro abismo. Cansei de viver com o abismo me olhando. Agora é praia e só.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Porque o inferno precisa de mim




Promessa é dívida, as repostas são: eu fumo numa situação específica e só durante ela. Quando tenho certeza de alguma coisa e vou escrever sobre eu sempre começo com um talvez. Exemplo: depois da noite de ontem, talvez não haja mais nada a ser dito. E eu jogo xadrez mexendo as peças com a mão esquerda pelo mesmo motivo pelo qual puxo as cartas do tarô com a mão esquerda.

Quem me viu no fim de semana me viu sorrindo, mas a verdade é que me sinto desmoronando aos poucos. O que me mantinha inteiro já não funciona mais. Essa correria não me dá mais paz. Eu não me dou mais paz e o caos anda comigo. Tentei me enganar achando que depois do show de amanhã as coisas iam acalmar, mas é lógico que não. Nunca melhora. Desmaio quando o corpo não aguenta mais e acordo como se tivesse levado uma surra. Não é ressaca nem nada, e sim incontáveis noites dormindo 3 ou 4 horas.  Mas ainda não me dobraram. Nunca me concedam descansar. A agenda é insana, mas ela será cumprida.

No meio disso tudo, esbarro com pessoas que mostram que o caminho vale a pena. Fui operar um show no La barra, cheguei atrasado e era um show de pagode. Podia ser uma tragédia , mas foi uma lição de profissionalismo por parte da equipe dos caras e de carisma por parte da banda. Um grande abraço pro André e pro Roadie fodão que eu não sei o nome. E no meio da passagem de som cantamos racionais.

tenha fé porque até no lixão nasce flor.


Fico me perguntando de onde vou tirar força. ¿E cadê o estandarte quando eu preciso dele.?
Sinto cheiro de amanhecer. E pode ser que amanhã faça sol.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Bunker versão 2.0


A tarde começou agitada. Em cada canto da cidade havia um louco tirando músicas. Não é um ar de desespero, e sim uma calma apressada. Vai dar tempo, mas vai ser foda. Rabisca partituras em clave de Fá e de Sol. Só as partes que precisam. Só prá não precisar ficar lembrando. Toca um Purple e eu negociando por telefone:
- Eu quero saber se tu canta.
- Não , eu faço outras coisas.
- Tô sabendo, mas preciso que tu faça outras coisas cantando uma música num palco enquanto uma banda toca.
Preço imbecil e um tom de voz que não gostei. Próxima candidata fica pra depois. 37 músicas prá tirar e os dias com 25 horas estão cada vez mais escassos. Em cada canto da cidade havia um louco empolgado com o ensaio. Meus Deus, que voz eu faço nessa parte.? Como faz para cantar e tocar isso.?  Preciso de 2 cérebros. 12 horas num bunker e num estúdio, achando que o timbre tava uma merda e chega o Barão e diz que tava bom. E olha que eu estou com medo de pegar tétano nas cordas do Virgílio. A vida deve ser isso mesmo, a gente odeia o jeito que soa, mas estamos soando bem para uma outra pessoa, em algum outro lugar. Ou talvez eu seja tosco demais para perceber certos nuances do meu jeito de soar. De qualquer maneira, minhas notas nesse show já tem inspiração certa, mesmo ela sendo inacreditável.

A stripper ainda não apareceu, mas vai dar tudo certo. Equipe Vai vai vai.

Termino com uma frase simples e despretensiosa do Barão. "Vai ser, no mínimo, engraçado... com precisão no vai, ênfase no mínimo e ironia no engraçado"



Um novo bunker

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Antes e depois disso.


No fim de tudo eu queria salvar o ano. Ou, de uma forma um pouco mais egoísta, o meu ano. Queria me dar um presente de natal que equilibrasse tudo que deu errado no ano. E não foi pouca coisa. Inventei um show da Salve Ferris como pretexto para tocar com o Kiko e com o Barão. No vagão, o bar do Marcelo... no mesmo palco que tantas vezes já me viu chorar e sorrir. Era egoísta, mas fui além disso. E agora, muito atrasados com os ensaios, eu tenho uma certeza: Vai ser foda pra quem assistir. Depois do show segue a festa na minha casa para os de fígado forte e coração burro. As melhores pessoas do mundo tem o coração burro. As melhores noites do mundo terminam com os fígados.

Isso era o que eu podia planejar.  O que eu não podia planejar foi a noite de sexta, que só consigo definir como inacreditável.  E uma única noite conseguiu me colocar nos trilhos de novo, se é que existem trilhos para pessoas que vivem a vida do jeito que eu vivo. Improvisar não é planejar, diria o Potro, mas o fato é que o universo conspira. É muito Paulo Coelho essa frase, mas só com ela para explicar uma sucessão de eventos que enfiou um sorriso na minha boca que não vou tirar tão cedo. E eu lembrei que o mundo é bom, que conhecer gente nova me faz pensar. E aprendi que estar no lugar certo e na hora certa com uma garrafa de tequila no bolso faz toda diferença.

Devagar vou me entendendo: não acho que eu seja bom, mas acho que sou bom demais para algo que tentei por muito tempo. Não é possível buscar redenção e manipular ao mesmo tempo. E agora eu entendo isso, finalmente. E desisto dos dois. Não há nada que justifique minhas tentativas de manipular e omitir. Não tenho nenhum pecado tão grande que me coloque numa busca por perdão que seja maior que tudo. Só viver parece ser o melhor plano para o momento. Existe uma discrepância entre o que eu acho que sou, o que eu quero ser e o que eu realmente sou. Finais de semana como o que passou me mostram que bem devagar eu estou diminuindo a distância entre essas 3 coisas.  E acreditar em mim não é mais tão difícil quanto era.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Seguindo o coração


Eu já fiz muitos shows escondido atrás de um truque. Eu descobri que conseguia sorrir e ficar invisível enquanto tocava com os cabelos jogados na cara. Quer dizer, eu não tocava, eu ficava segurando o Virgílio enquanto ele tocava sozinho e eu cantarolava um tango ou uma música do ACDC. Essa pequena artimanha me permitiu fazer muitos shows chorando que nem criança sem ninguém ter percebido. Hoje descobri que isso também funciona numa mesa de som. Vi minhas lágrimas caindo em cima dos volumes me sentindo em casa. É por isso que gosto do meu trabalho e da minha relação com a música, essa maravilhosa arte e terrível profissão.

E como tudo é uma coisa só, cheguei em casa e coloquei a mesma camiseta de grêmio que esteve comigo em algumas das vezes que me esfarrapei. E pela camiseta cheguei numa foto. E pela foto entendi que estava na hora de ir ver o mar de novo. Enxuta, a concha continua com o mar guardado no seu estojo. E agora vou para o leste antes de começar mais uma semana.  Uma noite para recuperar o fôlego e tomar uma surra das ondas. E onda atrás de onda aquele aguão vai me colocar no lugar e encher um vazio de água salgada.. E a maldita dor na pena vermelha vai ceder.

Essa é minha vida. Encontrar mágica no absurdo. E conviver com um coração que me leva sempre para o mesmo lugar.

Cavalos Marinhos.