segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Dentro de uma camisa do grêmio - pt 9

               Shows, correria, pouquíssimo sono e muitas lições: 3 dias de baile que eu resumo com intensidade. A paciência de vocês tentando me ensinar calma e humildade não passou desapercebida..Depois de tudo, toca pra Porto Alegre. A redenção é lá, ao que parece. E o acaso que tanto me ajuda/me fode/me salva/me esculhamba coloca no meu caminho o que eu mais quero. ¿Será que algum dia vou me sentir pronto.?

                Volta pra Caxias e corrige uma falha de caráter. Chega e casa e se joga na cama. Pegar no sono não descreve bem o que acontece. Eu desmaio. A rinite alérgica era sinal de que o corpo estava no limite, muito antes do fim de domingo. Mas não seria eu se não fosse até o fim. Pensei que ia dormir até o meio da tarde, mas antes do amanhecer já estava de pé. Entre crueldade sincera e necessária e um sorriso que não sai de mim, muita coisa pra processar. E tomei café como a mesma vontade com a qual um homem se afogando se agarraria numa boia. Tenta ser frio, tenta raciocinar. O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu, mas eu acho que meu lugar de voar ainda no céu do italiano. O mesmo céu que no qual ele seguia estrelas. ¿È amor que nunca deixou de ser.? É teimosia chamada de persistência.? Não tenho  as respostas que deveria ter, mas, por Deus, como eu tento encontrá-las.

               Bobagem minha esperar que não houvesse uma crueldade sincera na pessoa que me chutou do alto da montanha. E com duras palavras eu vou me reconstruindo. Tentei ser perfeito, tentei compensar...agora quero apensar ser eu mesmo. Seguimos em frente, de fato, mas há algo que une uma circunferência e uma linha reta. Tudo é uma questão de escala. Tudo é uma questão que fazer meus olhos brilharem ou não.

       E sim, eu sempre tomo cuidado com o que peço. Mas naqueles momentos em que fico invisível sorrindo eu sempre peço a mesma coisa. É mais forte do que eu. 

Nunca me conceda descansar. 

Ainda serei o terceiro.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Por baixo de um chapéu canalha.

                Trabalho com o Fher faz um tempo já. Entre palcos e mesas de som, temos uma parceria profissional fantástica. Mas mesmo depois desse tempo todo, ainda acho estranho tocar com ele. O Fher toca baixo muito melhor que eu. E de alguma forma, eu estou ali com 5 cordas na mão me divertindo. E sempre é bom. Gosto de ficar perto de pessoas que ensinam pelo exemplo e não com conselhos enfadonhos. E sinto-me feliz a ponto de tocar melhor. Às vezes eu sei que atrapalho, mas seguimos sempre pedindo desculpas em vez de pedir permissão.

                 E sempre corre-se riscos interessantes. Do nada ele puxa uma uma harmonia de 2 acordes e antes que eu me desse conta estava tocando uma música da Bandida. Fora que posso tocar músicas que sempre vi ele tocando:


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O jogo mais difícil é não fazer jogo nenhum

Eu não sou referência  para temperatura ou quantidade de roupa. E sinceramente nem sei se está  frio ou quente. Sigo com a janela aberta como se isso fosse decisivo pra chuva cair melhor.

Por outro lado, eu sei que preciso de água quente pro chimarrão  e precisam de roupas secas nessa casa.




Fico me perguntando o que terá acontecido com o Boris. E tentando entender a chuva. E as pessoas. Chego perto de conseguir, mas odeio admitir que isso não facilita nada.

Pelo menos eu sinto que as peças se encaixam depois de começar o dia com um banho de chuva enquanto cuspo o mate na grama.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Frases simples e despretenciosas sobre grandes assuntos

"Eu não te analiso"
-  Batatinha, Rê. A minha psicóloga preferida.
Mentindo descaradamente, diga-se de passagem.

Harmonia


      Houve um tempo em que tudo se resolvia lá pelas 3 da manhã. Eu dava o dia por encerrado, escrevia algumas coisas num caderno ou em bilhetes pra mim mesmo ou ainda, escrevia cartas que nunca mandei.

       As coisas foram mudando devagar e eu não sei exatamente como cheguei aonde me coloco agora. Quase todas as manhãs eu vejo o amanhecer. Ou porque não dormi ou porque já estou acordado. Escrever, tocar,  viajar... ainda não encontrei o que acalme minha inquietação.

        Fiquei tocando a noite inteira, mas agora que está chovendo, eu sentei na janela pra ouvir minha amiga. Nada que eu toque soará mais apropriado que o som da chuva amanhecendo mais um dia.

         E nenhum sorriso meu será tão sincero quanto aquele que aparece numa foto PB com contraste estourado.

domingo, 16 de outubro de 2016

Por uma pena vermelha

         Voltando do baile, enquanto todos dormiam na van, eu olhava pra escuridão ficando luz. Um lusco fusco de aurora. E cantando pra mim mesmo uma velha ópera. 
 

Dilegua, o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All'alba vinceró!
Vinceró, vinceró!
 


           Não venci nada. Vi o mundo ser ótimo como quem oferece uma bebida antes de dar uma nóticia ruim. Vi o que mais quero. O que me coloca no céu e me afunda. E eu lembro que é bom estar vivo. E sigo escrevendo como se fosse salvar a vida de alguém.

Provavelmente a minha.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Lá vamos nós de novo

         Eu postei uma música do Bush no face hoje de manhã. Mas a mesma linha de raciocínio me trouxe até essa outra, do U2. Eu diria algo assim, se pudesse.



You ask me to enter, but then you make me crawl
And I can't keep holding on to what you got

So far, so good

        Uma marca no meu braço dizendo que as firmas conferem. Eu sempre carimbo minha pele pra ver o desenho do carimbo pra só depois perceber que tem um desenho em cima dele. Enquanto eu tocava sorrindo ia pensando nisso. O que havia me levado até ali.? O dia com a mesma sensação de não quero ir/ sei que tenho que ir.

         Tomei um pé na bunda em Paris. E fingi o quanto consegui que isso não me abalou. Passei o rodo em Londres e quando voltei precisei de um rodo maior pra usar como estandarte da minha covardia e consequente fuga. E também precisei de um lugar pra me sentir seguro. De repente me vi obrigado a abrir mão de uma pessoa que fazia/faz parte de mim pra evitar o caos na vida dela. E todos os dias eu preciso me convencer que esse plano ridículo é o melhor. Uma metáfora que eu adorava dizia que eu não julgava nenhum caminho, porque tinha uma tendinha na beira da trilha que sobe a montanha. E as pessoas paravam ali por um tempo e eu as ajudava como fosse possível. Como fosse necessário. Eventualmente elas seguiam em frente e eu ficava ali. As justificativas para essa metáfora mudaram conforme os anos passaram, mas sempre senti que podia subir a hora que quisesse, mas que era muito mais útil ajudando os outros. E senti que precisava curar certas feridas antes de continuar subindo. Mas sabemos bem que certas feridas pintadas de vermelho nas minhas costas nunca vão parar de doer.

        Meu lugar seguro passar por voltar pra essa metáfora. Passa por voltar a jogar warcraft e tocar baixo e cello como se a tendinite não importasse. Eu sei bem que nada será como antes. Confiar em quem não confia em mim cobrou um preço alto demais. E posso achar engraçado ter amigos que conseguem hackear meu computador, mas na prática há coisas que eu simplesmente não quero expor. E é inevitável sentir que invadiram um espaço que não deveriam invadir. Ou melhor, que usaram mal um espaço que sempre esteve aberto. Em vez de muros, meus tijolos eu uso fazendo pontes. Ou canteiros pras flores.

           Sempre que eu toco eu lembro do Barão e nossas conversas sobre não olhar para o instrumento tocando. E se não olho pras cordas, posso olhar pras pessoas. Posso olhar pro batera tocando diferente enquanto eu tento descobrir/adivinhar o que está acontecendo. Posso procurar cores e sorrisos na plateia. Ou posso sorrir e desaparecer de olhos fechados enquanto o Virgílio toca a harmonia sozinho.

           Uma coisa é certa. Se fico parado é por não querer caminhar com sapatos que me machucam. Ou trilhar caminhos que não são meus. Aquilo que perdemos nos fogo, encontraremos nas cinzas.

domingo, 2 de outubro de 2016

Serenidade e euforia

       Eu convivo com o Kiko faz anos. A gente tem conversas infinitas sobre equipamentos de som, pirâmides, forças ocultas que governam esse país e putarias do passado. Já tocamos algumas vezes juntos mas ele sempre me surpreende tocando. Ontem a noite ele precisou exatamente de 3 notas pra me deixar impressionado. Eu lembrei do que é poder, do mesmo tipo de poder daquele simpático senhor inglês com uma fender preta na mão. E ali vi meu amigo cavocando a velha ibanes tocando pink floyd. E de repente estar num palco tocando voltou a ser o que era. O que nunca deveria ter deixado de ser.  A catarse e a liberdade batendo no meu peito. E eu pensando mil coisas enquanto o Virgílio tocava sozinho. Ou sorrindo sem pensar em nada. Aquela bolha mágica onde todas as escalas estão debaixo dos dedos e as notas certas ficam fáceis.

        Queria a minha senhora ali. Minha cúmplice. Me viu quando eu estava na vala e merecia me ver batendo asas. E eu teria com ela uma daquelas nossas conversas gigantescas sem dizer palavra. E com o kiko fazendo o solo de confortably numb, todas as coisas estariam no seu devido lugar. Na minha cabeça aquele si menor sempre lembra a mesma música. Nessa rua nessa rua tem um bosque que se chama que se chama solidão.

         No fim, usando o shuffle como quem diz, "Calma guri, eu estou ocupando mas ainda não me esqueci de ti", o Único Acima fez tocar Turn the page do Metallica e Free Bird do Lynyrd. Eu fingi que não ouvi. E ele continuou me cutucando. 

Que assim seja, vou terminar de colocar o lixo pra fora e depois conversamos.