segunda-feira, 29 de abril de 2019

A colheita é comum, mas o capinar é sozinho

          Já faz algum tempo que não escrevo aqui. Estava tudo morno, mas do nada acontecem coisas que mudam tudo. 

           No sábado eu carregava os estragos da sexta, e sai de casa atrasado, mas nada absurdo. Era o suficiente pra que eu me sentisse incompetente. Chegando na bier eu encontro o Leko. Por falta de definição melhor, o Leko é a versão humana de um antidepressivo. Eu me sinto bem todas as vezes que encontro ele. E é engraçado porque ele não tem idéia do quanto me ajuda. Era um baita plano. Eu entraria com o coração e ele entraria com a técnica. Seria foda. Passamos o som como quem não se importa, mas ele ficou ótimo. Nossa.. que surpresa.. era a Jack band.. eram os meus. É lógico que eu ia fazer tudo ao meu alcance pra deixar o som bom. No fim  eu tinha uma janela de 2 horas. O plano de ir pra casa ficar sozinho  era atraente. Mas o convite "fica, vai ter pizza" mudou tudo. E lá fiquei eu sem zona de segurança.

          Pontualmente as 21.30 coloquei o Maurício no palco. Como músico sou tosco, mas como diretor de palco sou implacável. Havia um horário e ele seria cumprido. Depois corre daqui e dali pra ganhar 15 minutos e colocar a Jack Band no palco. Tudo estava estranhamente normal quando eu me perguntei onde estava a mágica que eu tanto busco, parece que o Mauro me ouviu. Tocaram Enjoy the silence. E enjoy the silence tem uma letra daquelas que me desmonta mais rápido do que eu consigo me reconstruir. Eu realmente tinha tudo que precisava ao alcance das minhas mãos.

          Pára tudo (eu sei que não tem mais acento, mas  foda-se) . Aparece um sorriso igual o do Mauro. O signo certo. ¿Quantos anos.? 4? 5? Mil coisas passando na minha cabeça e uma frase do Grande Sertão: "Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera”. Eu normalmente racionalizaria e fugiria, mas não hoje. Eu sai de casa para ventar e não iria abrir mão dessa condição. E diante de qualquer julgamento de cunho moral, eu responderia com a mesma frase: "Nunca é alto o preço a se pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.” Com ela eu me justifico.

          No fim de tudo, quando eu cheguei em casa e sentei na chuva, a chuva caiu e escondeu minhas lágrimas enquanto eu sorria bobo. Eu amo tanto a chuva que daria nome pra cada gota que cai, assim como nomeei os tijolos daquele prédio do lado do Galleria. Você me deram muito mais que eu merecia.