sexta-feira, 30 de março de 2012

Eu vejo

Do lado do meu metrônomo tem um anel, um recado que ficou meses pendurado do lado do meu monitor, uma clave de sol bordada num pano antigo. Um barquinho de papel com uma marca de batom. Não é como se eu pudesse jogar fora. Embaixo de tudo, numa folha de caderno já meio amarelada, essa poesia, ainda velha e ainda barata. 


Ruínas

No meu estojo, tantos beijos
Tantos rabiscos, passados abraços
Não os conheço a todos
E, por certo, nem todos me conhecem.
No meu coração, tantas dores
Cicatrizes, arrependidos amores
Escritos devagar e sem pena
Vividos pelo meio, sem tudo que podiam ser
Na minha cabeça, tantas lembranças
Quase boas, retorcidas saudades
Às vezes machucam, às vezes alegram
Necessidades estranhas, futuro ao inverso
Na minha mochila, asas maiores
Do tamanho do céu, falso horizonte.
Não sei mais voar aqui.
E agora rastejo por dentro de um olhar vazio
No meu amor, uma fé que hesita
Encruzilhadas sozinhas, sombras geladas
Por medo de chorar não sorrimos
Por medo de viver nos deixamos morrer.

Na minha tristeza, tantos motivos
A mesma culpa, insignificante razão
Perdido entre os outros em mim
Sozinho no fim, sem mesmo um coração.

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