Pequenas histórias da viagem entre Olinda e Itamaracá. Porque agora já lembro do rally dos sertões com uma certa nostalgia.
Quando entrei no ônibus e vi o motora com o celular no viva voz discutindo AOS BERROS com quem eu supus ser a mulher dele eu entendi rápido que não era uma boa ideia estar naquele ônibus. Mas não tive tempo de descer. Quando dei meia volta ainda na escada do coletivo, o motora arrancou com a porta aberta mesmo.
Na minha cabeça não pude deixar de fazer uma comparação. Alpinismo é muito mais fácil do que pegar uma busão em recife. Alpinismo tem o lance de ter sempre 3 pontos de apoio e no ônibus, mesmo com os dois pés e as duas mãos firmemente apoiadas, cada freada era uma aventura. Cada curva uma incerteza. Era como estar numa montanha russa no escuro, sem saber o que ia acontecer no segundo seguinte.
Depois do bus, uma kombi, aquele tosco e irregular meio de transporte. Foi como resetar o jogo e colocar ele no modo hard. A estrada deixou de ser o inimigo. Agora todos os outros veículos perto da kombi representavam um acidente prestes a acontecer. O gritador parecia traficante de pé de favela, mas ele era ninja em mímica: xingava geral só com as mãos, usando símbolos que pra mim eram irreconhecíveis. mas que aparentemente eram entendidos por outros motoristas, que respondiam na mesma linguagem misteriosa.
O centro histórico de Olinda é muito bonito, mas não é cativante. Igrejas igrejas por todos os lados em uma cidade velha cercada de asfalto. E sem mar por causa dos tubarões. Como se fosse um grande produto numa embalagem ruim e nada atrativa. Por entre os bonecos gigantes, eu encostava nas paredes e imaginava quanta coisa tinha acontecido naquelas ruas onde eu estava pisando.
A noite de Olinda é engraçada. E bêbados são iguais em qualquer lugar do mundo. E existe uma relação de simbiose entre turistas e bêbados. Vi isso de camarote e participei de conversas engraçadas traduzindo "me dá um golinho " pra inglês. No mais, a atmosfera risca faca estava lá para ser sentida nas entrelinhas das festas que íamos passando.
No dia seguinte, tinha o ônibus pra Itamaracá. E teve traveco de barba. Teve um tiozinho com 4(quatro) galinhas vivas dentro de uma caixa. Teve uma senhora carregando as compras do mês. Tudo com as curvas insanas e a incerteza a cada freada. E é impressionante como ninguém se importa com o caos do trânsito ou com as maluquices dos coletivos.
Praia de Itamaracá e o mar me mostrou uma série de matizes de azul como boas vindas. Estava aliviado por ver a água tranquila. Depois do que eu havia escrito na areia no último encontro, estava com um certo medo de ter que brigar com as ondas. Em vez disso, achei a praia lisa e a águas ordenadas. E pipas.. muitas pipas. A única briga que tive foi de pipas, mas conto isso outra hora. O mar perguntou dos meus pulsos e eu discuti com ele sobre cores. Eu estava em casa. Tudo no lugar. Ostras e eu lembrando do pequeno príncipe. Eu ganho pela cor do mar.
A última kombi do fim de semana foi só pra me lembrar que a folga estava acabando e que a vida na cadeia estava de volta. 13 pessoas dentro da kombi onde 8 pessoas já viajariam apertados. E a galera cantando o refrão do funk sensação da praia "chupa a língua dela, chupa a língua dela."
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