sexta-feira, 22 de julho de 2016

Cursus ut finem

       Passando na frente da Igreja de São Pelegrino ouvi os sinos soarem como a voz de um velho conhecido. Entendi o recado e entrei na igreja. Às vezes quem está precisando muito de ajuda não consegue enxergar isso por si próprio.

         No altar há uma bíblia velha, cheia de anotações. Subi e peguei ela como se ela fosse minha. Salmo 34. O senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e o espírito abatido. No fim eu estava só segurando um livro velho enquanto olhava pro teto. E ria de mim mesmo. Por que é isso que eu faço ali. Fico rindo e chorando enquanto repito pra mim mesmo que tudo isso vai passar. O padre vem e me pede a bíblia dizendo que precisava dela pra rezar a missa. E nós dois sabemos que é mentira, que era só medo que eu a roubasse. Mas era hora de sair. Nunca gostei de missas. Dou um abraço no padre e choro sem dizer uma palavra. Ele me vê sendo comedido faz mais de 20 anos, então acho normal o modo que ele fica surpreso com a minha intensidade. Ele pergunta se eu quero me confessar. E eu solto uma gargalhada sem medo de fazer barulho. Rir enquanto estou chorando: tão nós.

      Saindo pego de volta minha dor e meu desprezo por mim mesmo. Meus cães de guarda não entram em certos lugares. Sento nos degraus e penso em fumar. E decido parar de fumar, com uma exceção. Na minha mão um cartão postal que estava dentro da bíblia do altar. ¿Porque roubar um cartão postal? Porque era preciso um terceiro cartão postal pra fechar o ciclo.

         De tempos em tempo o Diabo vem e coloca o que eu mais quero na minha frente ao preço de uma mentira. E invariavelmente eu não consigo mentir. Chego a pensar que é muita crueldade dele. Uma punição por eu viver no inferno panfletando a favor do paraíso. Mas desde que me entendo por gente O Único Acima faz a mesma coisa: vem e me oferece a paz que eu mereço... também por um preço que eu não posso pagar. Irônico pensar que ambos fazem a mesma coisa por motivos tão diferentes.




Deve ser por causa desse tipo de coisa 

que eu me preocupo tanto

com os motivos das pessoas. 

Principalmente com os meus,


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