Não que os sinais do mundo tenham silenciado, mas me dei ao luxo de ficar um tempo trancado em casa. A gente nunca é tão vulnerável do que quando está apaixonado e eu paguei o preço por essa vulnerabilidade. Depois do tombo/decepção internacional, achei que podia me sentir insignificante sozinho por uns dias. Mas as ordens de mudança não mudaram e numa bela quinta feira, eu sabia que a mágica estaria em outro lugar.
Entro num bar que não conheço pra ver no palco um dos reitores da universidade de caráter. Numa troca de olhares estão contidos mais de dez anos de piadas e de uma amizade sincera. Como se a vida não tivesse conseguido tirar de nós a inocência e ainda fossemos só duas crianças burras. Talvez a gente ainda seja.
Um cigarro e vejo os cabelos roxos da melhor colega de trabalho. E não deixa de ser engraçado o modo que a gente largou tudo pra se abraçar enquanto ria sem parar. Um riso de euforia pelo encontro e de medo pelo que sabíamos que viria depois. Ato contínuo, estávamos no balcão tomando um shot de jaggermeister. Vários shots. E não existia mais a menor possibilidade de uma festa tranquila. Sim e mais. Loucura e amor. Como se a noite não tivesse conseguido arrancar pedaços valiosos demais de nós dois. Porque segue a esperança de algo melhor. Fígado forte e coração puro.
A sensação da bolha, onde tudo fica fácil. Conversas sobre a casa do chá, a Oropa, França e Bahia. E aparece o Barão do Campo Harmônico, porque, ao que parece, a realeza dele funciona bem do lado deste menestrel desafinado. É provável que ele se divirta olhando de fora esse efeito que tenho sobre as pessoas. E a gente toma café de madrugada enquanto toca músicas aleatórias juntos, apenas como pretexto pra poder conversar. E enquanto tocamos melhor, vamos nos tornando pessoas melhores. Acordes e palavras que precisamos saber porque dizemos. Houve épocas em que sentia medo da análise dele nas nossas conversas. Tolice. Agora eu sei que na verdade cada um está ali analisando a si mesmo.
Esqueci de tanta coisa. Fingi que era outra pessoa pra poder me encaixar. E mesmo encaixado, continuou desconfortável. Aceitei o inaceitável e senti raiva de mim incontáveis vezes. Senti pena das minhas tentativas inúteis de não me sentir inadequado. Fiz muita merda pra me punir. Mas parece que o que afoga a pessoa não é mergulhar e sim ficar tempo demais embaixo dágua. Estoicamente eu sigo. Nadando devagar...respirando ares novos
Nunca sozinho. Nunca impotente.
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