sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

¿Então o muro está mesmo caindo?

Ao som de: 3 doors down – Here without you


A lembrança mais forte que eu sempre tive da igreja dos capuchinhos é de tantas vezes que eu andava de skate na madruga e acabava sentado na escada da igreja, pensando na vida enquanto meu corpo descansava. Ontem na mesma escada eu me perguntei por que não gostava de entrar naquela igreja. Quando entrei eu senti o porque. Não gosto de igrejas grandes, com as paredes vazias. Ambiente opressor. A igreja de São Pelegrino é a única na qual me sinto verdadeiramente em casa. Perdi a conta das vezes que deitei no granito gelado do chão da igreja para ficar olhando as pinturas do teto. Ás vezes eu sentia aquele teto ao alcance da minha mão. Lá eu já sentei em cima do altar conversando com o padre. Já dormi nos bancos por cansaço, já subi na torre por uma escada podre. Tomei água benta por estar com sede. E chorei por me sentir pequeno. Conheço o sorriso e a feição de cada apóstolo na pintura da santa ceia e a cada um deles trato com um velho amigo. Não chamo o Único Acima de chefe por acaso.

Ainda sobre a igreja. Não reclamem mais das minhas metáforas. Um cara uma vez ensinou muito através de parábolas. No final ele foi crucificado, mas tinha que ser assim. O importante é que ele se entregou livremente à paixão. É isso que eu faço.

Depois de tudo que aconteceu, percebo que é possível chegar aonde quero. Eu sei que vou ser recompensado, mas mesmo assim fico triste. Eu conheço a infelicidade alheia, a solidão, as frustrações que acompanham grande parte da humanidade, e acho que não mereço o que estou pra receber. Existe uma voz aqui dentro que fica sussurrando: “entrega tudo”. Começo sacrificando a mim mesmo, tentando me entregar para uma pessoa especial, responsável por uma pena vermelha nas minhas asas. Essa entrega vai me (-nos) obrigar a parar de fazer perguntas idiotas e ajudar a vencer a culpa.

E de repente, tudo perdeu o sentido, eu pensei nela e sabia que ela estava pensando em mim. Beijos pela metade não me interessam mais. Só quero uma entrega tão sincera e intensa quanto a minha. Sei bem que não estou pedindo demais.

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