domingo, 20 de julho de 2008

Disciplina é liberdade

Ao som de: Sigur Ros - Glósóli

_____Uma viagem até Marau. Hotel, regalias, atenção exagerada e um monte de coisas com as quais eu definitivamente não estou acostumado. Mas é notório que eu me adapto facilmente. Uma espécie de KLB cover tocando antes da gente. Valeu por ver a máquina funcionando como tem que funcionar: a banda tocou e não fez mais nada, a equipe montou e desmontou tudo. Subi no palco e olhei para uma casa lotada. Admito que senti um pouco de medo, que só passou quando eu olhei pro repertório cheio de cifras. E me virei prá caixa e pluguei o Virgílio, pedi ajuda e rezei o pai nosso em español. Certeza absoluta que tudo daria certo. Uma rápida troca de olhares, cabelo solto... 4 batidas de baquetas e eu estava lá tocando Ainda é Cedo. 3 notas e um mundo de histórias desde a época que eu não conseguia fazer pestanas no violão. Depois eu vi na filmagem, meu sorriso estava enorme. E eu toquei Quase Sem Querer lembrando do São Carlos, lembrando da ironia, lembrando de um beijo nada de canto. Eu parei de tocar prá ver todo mundo gritando "eu sou a gota dágua, sou o grão de areia...". Eu não queria atrapalhar. Tempo perdido me arrepiou, mesmo com o Gil tocando uma notinha errada na introdução. Faroeste Caboclo começou meio sem querer: o vocal puxou, a galera foi junto e quando me dei conta a música já tinha começado. Eu tinha Sol e Ré repetidos 135 vezes para fazer o que quisesse. E eu acabei subindo no retorno prá ficar sentado em cima dele balançando as pernas e cantando a letra que todo mundo sabe de cor. Rolou uma lágrima perdida quando "E se lembrou de quando era uma criança e de tudo que viveu até ali. E resolveu entrar de vez naquela dança, se a via crucis virou circo estou aqui." Mas eu já estava de volta no palco devidamente escondido atrás dos cabelos e daquele sorriso que me deixa invisível.

_____Tocar no interior é fabuloso. Não dei autógrafos, mas quase teve fila prá bater foto. E entrei na parte vip sem dizer uma palavra. E a menina do bar era muito simpática. E o bacardi descia como água. E grátis foi uma palavra muito apropriada. Sentei no meu canto decidido a levar o rum a sério. Só que há uma lei que sempre se mostra verdadeira: Não importa aonde eu esteja, quando quero ficar sozinho aprece alguém enchendo o saco. Admito que fui estúpido, mas quando uma mulher simplesmente parou do meu lado e pegou na minha mão, só me ocorreu perguntar "Tu tem cocô na cabeça.??" Depois veio uma menina de 15 anos falar comigo. Sim, 15 anos. Claro que eu perguntei se a mãe dela sabia que ela estava ali. Acabei a noite tomando tequila com a moça simpática do bar. E ela me deu as anteninhas dela.

_____Dormir no hotel. Café da manhã reforçado e bora prá casa. Tudo muito certo. Chega a ser engraçado me pagarem prá fazer isso. Mas é justo.

_____Sobre o tumulto de sexta escrevi no diário. Fica o nome da banda de tango: Cafajestango. Fica Enjoy the Silence comigo dançando sozinho no corredor. Tocamos My Hero. E uma cerveja que o César colocou na minha mão foi pagamento mais do que suficiente por tudo. Nós conseguimos. Não sem ajuda, mas nós conseguimos.

_____Assim como não conseguiríamos dar valor a tudo que foi feito. Não consigo definir em palavras o quanto sou grato.

_____Lhes fico muito obrigado. De novo e ainda.

Um comentário:

  1. ... dançar Enjoy The Silence sozinho no corredor, com ele vazio ou não, as vezes dá uma sensação enorme de justiça. e as vezes falta tudo.
    ontem eu me joguei escada abaixo antes de correr o risco e não paguei pra ver.

    "pqp, onde mesmo fica marau?" foi minha pergunta mental da noite depois de ouvir Tempo Perdido no meio da madrugada entre uma festa e outra.

    Feliz que tenha dado tudo certo... mais uma vez. Tu sabe que sim.

    :)

    beijo

    ResponderExcluir