segunda-feira, 14 de março de 2016

Eu não posso mudar

      Na saída da rodoviária encontrei o hippie chileno que me apelidou de vento. E eu me divirto pensando em quanto trabalho o acaso deve ter pra fazer como que eu e ele nos encontremos sempre que é mais necessário. Antes de encontrá-lo eu ansiava por coragem. Depois da nossa conversa eu não precisava mais de coragem, só precisava de discerni-mento para fazer meu trabalho. O mesmo trabalho que o hippie chileno havia me explicado muitos anos atrás.

        A Dona Morte passa por caxias e eu já estava na estrada, não pude fazer nada pra diminuir o estrago que ela fez. E quando a gente se sente impotente diante de uma situação, acaba aprendendo um pouco mais sobre si mesmo. No meu caso, eu percebi que, mesmo sendo impossível roubar a dor dos outros pra que eles não sofram, é possível dividir a dor para que o sofrimento seja menos doído. Se eu não tivesse sido tão arrogante achando que era forte pra aguentar a dor dos outros, teria percebido isso antes. 

      Na viagem pra Floripa vi uma prenda e um pedido de desculpas. De longe eu fui acompanhando o que acontecia... de certa forma torcendo pra um final feliz.  

        Decolei de Floripa embaixo de um dilúvio, mas em cima das nuvens reinava uma paz sem igual. Um mar de nuvens de algodão. Ao que parece, até o caos de uma tempestade pode ser relativo. Não vôo muito, mas depois de tudo, eu já vejo a parte de cima das nuvens como um lugar familiar.

                     

       Em alter do chão fiquei muito tempo tentando entender como a maré funcionava naquele lugar. ¿Qual seria a mágica que mantinha aquela praia naquele formato no meio do rio.? Acabei não descobrindo nada. Uma folha cai na água ou passa um  barco e as ondas mudam de sentido. Há um padrão ali eu sei, mas não estou pronto ainda pra perceber..

          E enquanto ficava jogando pedras na água e rabiscava vetores e direções na minha cabeça, a lua nova ia fazendo seu caminho no céu. E de repente tudo que eu sabia sobre a lua e suas nuances mudou. Eu entendi como a lua persegue o sol quando nova e como foge dele na minguante. Ao que parece, esse padrão eu estava pronto pra entender. 

       No ônibus da volta da praia o mundo ainda estava diferente. E eu entendi o que precisava fazer para encontrar a paz que tanto procuro. Com muita clareza eu percebi que ainda não estava pronto. Mas fiquei feliz ao saber que pode haver salvação pra mim. 

          Subindo o amazonas num catamarã, o splash da água contra o casco formou um arco íris que nos seguiu por uma tarde inteira. E não importa se você vê aquelas 7 cores como um fenômeno físico ou um caminho até o pote de ouro...um arco iris sempre me faz pensar que as coisas estão no seu devido lugar.


E uma pessoa me pergunta se eu sou gaúcho no meio do amazonas. Fiquei me perguntando como ela havia descoberto e ri de mim mesmo. Eu estava com um crachá de gaúcho na mão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário