terça-feira, 29 de março de 2016

Esse ano o rally dos sertões foi de barco.

            O Maranhão sempre apronta das suas. Ou eu sou muito azarado quando venho pra cá. O fato é que uma folga de dois dias a 200km de distância dos lençóis maranhenses soou como uma oportunidade imperdível. E lá se foram os cinco manés... de novo apertados num carro e de novo numa estrada que parecia a superfície lunar.  Como a idéia era gastar o mínimo possível, acabamos no hostel do hippie careca com dreads. Rapidinho descobrimos um passeio que envolvia pickups 4x4. E é engraçado pensar que andar nas dunas balançando na caçamba de uma pickup era mais confortável que andar no pseudo asfalto. 

               Impossível falar dos lençóis maranhenses sem lembrar que o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. Uma imensidão de dunas em formato de ondas que o vento vai mexendo pra lá e pra cá e a chuva enche de vida em lagoas da cor do céu.  Eu não sei como o sertão vai ficar quando virar mar. Mas se o mar virar sertão.. é exatamente daquele jeito que ele vai ficar. 


            Ouvi um canto estranho e enxergo um sabiá. E saio eu cantarolando Cordel do Fogo Encantado.

"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove"

             Já de volta ao hostel encontro o Jorge, um viralata simpático que me fez sorrir. Com ele encontrei um outro cusco que me ignorava solenemente e ficava brincando com os cadarços dos meus tênis. Chamei ele de cadarço.



           No dia seguinte, o hippie geriátrico arrumou um passeio de lancha no qual ele  seria o guia. E é aí que as coisas ficam interessantes. Mas antes uma pausa para o café da manhã que consistia em pão com margarina. No barco os cinco manés. E o bob marley do baixíssimo orçamento pilotando a bagaça. O barco também seguia essa premissa do orçamento reduzido e devido a isso, ele tinha um design diferente. Passei toda viagem tomando água na cara. Eu devia ter imaginado quando vi que o piloto estava usando um óculos de sol que mais parecia um E.P.I. Mas veja bem, não tomei respingos normais de viagens em pequenos barcos. Parecia que estavam me jogando baldes de água. Fora isso, tenho que admitir que os lugares que ele nos levou são fantásticos. Subi em um farol e depois acabei numa faixa de areia de uns 200 metros de largura com o mar de um lado e o rio de outro. 


           E é aí que começa a parte engraçada, enquanto eu fazia as pazes com o mar e rabiscava a areia - porque não existe uma praia que eu vá sem que o mar me escute falar do mesmo assunto - o  hippie achou por bem encher a cara de cerveja. Quando chegou a hora de ir embora ele começou a se enrolar teorizando coisas sobre a maré e reclamando que a gasolina ia acabar na volta. No meio dos absurdos que eu ouvi ele conversando com os locais estava uma forma de mudar a praia de alter do chão de lugar para evitar que ela sumisse. O tempo foi passando e  com a noite bombando subimos o rio no escuro com o mano dirigindo com os pés. Não quero entrar em detalhes, mas acabei descobrindo que quem tem havaianas e boa vontade não precisa de remos. Só não beijei o chão quando voltei pra areia porque estávamos quase irremediavelmente atrasados. Me despedi do jorge e do cadarço e pé na estrada. 


           Na entrada de São Luis vi o impensável. Imagine uma capital de um estado que possui 1 única entrada. E imagine que essa entrada seja uma pista simples de mão dupla toda esburacada. Chegou um ponto em que a polícia rodoviária simplesmente bloqueou quem estava tentando sair e liberou as duas pistas para quem estava entrando na cidade. Ou seja: quem queria sair simplesmente não podia. E quem estava entrando podia desviar dos buracos usando a contramão também. 

              Às vezes ter folga dá trabalho.

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