Un Don Quijote

Ou: O suor das minhas asas

Ao som de: Cacho Castaña - Garganta con Arena

_____Todos os dias de formatura implicam em correria. Mesmo tendo conseguido tomar várias cervejas na tarde, cheguei irremediavelmente atrasado na formatura do Gel. Mas fiquei muito feliz por estar lá e por poder complicar a vida das pangarés que cuidam do teatro da UCS. Ao sinal do Tchuky a gente fez todo o barulho que pode. A corneta é livre, como sempre comentamos. E depois de mais cerveja e alguns quitutes, depois de uma balançada fortíssima, lá foi o Vento fazer o que tinha que fazer.

_____Highway to hell não foi covardia, foi só prá me lembrar de que não seria tão fácil. No fim das contas, foi o show fácil. Preparei-me bem e isso fez toda diferença. Toda banda se preparou, na verdade. Ouvi alguns elogios e confesso que quase me envaideci. Ter tocado bem foi consequência de uma série de coisas. Mas eu não conseguiria explicar. Eu chamo de trabalho. Eu só sorri. Eu sei.

_____Depois de encerrar os trabalhos na formatura, Encontrei un Martin Fierro no meio da madrugada e lá fomos nós procurar o que não perdemos. Entrar no vagão com uma cuia de chimarrão e de terno e gravata foi arrojado. Mas não foi forçar respaldo. Foi simplesmente eu mesmo. Depois de tudo acabou rolando alguma coisa entre um café da manhã e uma janta e acabei em casa com o sol MUITO alto no céu. Irônico é pensar que antes de tudo eu deixei os óculos escuros em casa pensando que não ia chegar em casa de manhã. Tolo.

_____E chegamos na semana da quinta-feira.12. Sextas-feiras 13 são um trufa de chocolate perto das quintas-feiras 12. Eu lembro de uma sexta feira, 13 de fevereiro de 1998. É incrível que já faça tanto tempo. E de tempos em tempos eu ainda me lembroe de uma poesia que eu escrevi na areia na manhã daquele dia. É um coisa muito inexplicável que eu não cosiga me lembrar dela quando quero, mas as vezes ela vem na minha cabeça verso a verso. Talvez haja uma explicação racional, mas eu não careço de saber. Chegando em casa as 9 da manhã, vi o que sobrou de uma marca de suor nas costas da camisa que eu estava usando. Não tenho como comparar com exatidão, mas eu vi o desenho das minhas asas ali. Na mesma camisa, ncomo um alvo no meu peito, um rótulo de bacardi que lancei para o Nick como retribuição de uma ajuda que nao teve preço. Pouca gente me viu entre meus sorrisos, minhas conversas com o Virgílio e algumas músicas que cantei gritando. E quando foi preciso ele estava ali prá não me deixar balançar demais.

_____É estranho não ter mais os cabelos para me esconder atrás deles. Mas o fato é que não tenho mais porque me esconder. Ainda sinto medo de algumas coisas, mas perdi o medo de tocar. E só eu sei como isso foi difícil prá mim. Minha cabeça vai mais longe. No meio do show lembrei do mito da caverna, lembrei de uma madrugada dessas, tocando borboletas no violão, lembrei que um dia uma pessoa me veria tocando e quando ela me visse ela ficaria orgulhosa. E ela viu. E ela pensou na mesma coisa que eu quando tocou highway to hell. "Living ****, living free". De qualquer jeito a lembrança mais absurda que tenho foi deixar o Virgílio tocando sozinho durante uma música enquanto cantarolava entre meus dentes um tango que diz assim "Canta, la gente está aplaudiendo/Aunque te estes muriendo, no conocen tu dolor".

_____Catarse. É disso que eu estou falando. E de amor. Fé, esperança e amor. É o meu reino, no fim das contas.