quarta-feira, 6 de abril de 2016

Um mar sem tatuíras

     Sempre que posso, fujo pra praia no amanhecer ou no por do sol. E encontro o mar aqui como quem descobre que um amigo que conhece faz anos tem uma tatuagem que você nunca tinha visto. Caminho uns 200 metros pra dentro da água e ainda tenho água na altura das canelas...então sento e ali faço algo parecido com me confessar. Não que eu peça perdão ou penitência. O perdão não é com ele e a penitência nunca me faltou quando eu queria me punir. Mas tento me explicar. Ligar os pontos sem me preocupar em ficar nadando. Sinto minha fé quase arrebentando no meu pulso e um cordão novo no meu pescoço. E o mar me escuta como se descobrisse que eu tenho uma tatuagem que ele nunca tinha visto. Ou que eu tenho tatuagens na alma e não na pele. Ele ainda ri de mim quando eu solto pipa e eu ainda faço piadas com as ondas que ele erra.

     Estar longe coloca tudo numa perspectiva diferente. O próprio longe é relativo. ¿Longe de casa.? de mim.? dos meus.? Sinto falta, mas não quero voltar. ¿Foi a distância que mudou o que estou vendo ou as coisas realmente mudaram.? A velha convicção que tenho de que a vida das pessoas ficam melhor comigo longe veio junto na bagagem.  E a gente conversa porque eu preciso entender. Entre a areia e a água salgada ninguém me julga e ali,  eu por necessidade e eles por curiosidade, tentamos entender os motivos por trás dos fatos. 

     E em nenhum momento consigo fingir que não tenho passado. Como poderia explicar porque um sorvete de pistache me deixa triste. Ou como uma conversa em inglês me anima. Living isi... living free e a lágrima que teima em aparecer...

Ou porque corro pro mar sempre que preciso remendar o coração que não defendo...

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