segunda-feira, 9 de abril de 2012

O baixista mineiro, o publicitário gay e o bêbado que me atropelou

ou A tendinite, a ressaca e a culpa



Ao som de Chico Buarque - Sobre todas as coisas

_____Sexta feira e lua cheia, eu devia ter imaginado que não ia ser tão simples ficar quieto no meu canto. Eu já tinha sido atropelado de madrugada por um bêbado, mas ele me ofereceu uma bira e ficou tudo certo. Alguns arranhões e hematomas a mais não iriam me preocupar. Depois de uma conversa no MSN eu já tinha destino. "Se tu comer brócolis eu te levo num show open bar" soou como uma proposta irrecusável. Roupas na mochila e eu esperando carona sem saber pra onde ia.  Acabei num show de sertanejo em Gramado. Chorei meio escondido entre uma música e outra, fazendo amizade com o garçom e cubas com 4 coisas misturadas. Um segurança me olhou com cara feia quando fui pro camarim, mas ele me deixou passar com um balde na mão enquanto eu pensava comigo que músico realmente tem cheiro de músico. É engraçado conversar com esses caras de bandas grandes, eles obviamente são muito fodas, mas continuam chinelos que nem eu, que nem o Barão, que nem o Fiu. Gente como a gente. No fim, comi brócolis. Eu não lembro direito do gosto, mas lembro que gostei.

_____A ressaca foi domada a duras penas com chimarrão, e quando começou um poker com o diabo na mesa, achei melhor me retirar. Fugi pro mundinho do warcraft. É só um jogo, mas tem sido uma fuga válida. Ali encontro um gnominho turco e sem noção, mas com um coração gigante. Ou um hunter que não cansa de me surpreender, porque a resenha sem palavras não respeita distâncias. Acabo me consolando um pouco com eles enquanto toco fogo em quase tudo. Lembro do Paulista nesssa história toda. Sinto saudade dos silêncios dele. Daquele inverno inocente e diabólico antes de tudo.

_____Eu tentei e não adiantou nada. A sensação de vazio continua aqui. Eu contava semanas (amanhã seriam 72) e agora conto horas, conto minutos. O tempo continua passando devagar, mas acho que é assim mesmo pra quem está machucado. Deu errado em porto, não teria porque dar certo em gramado. Outros mares, mas a mesma praia. 

_____Não me defino mais pelo que sou, pelo que tenho, pelo que posso, até mesmo pelo que sabiamente me julgam... mas sim pelo que perdi, pelo que podia, por aquilo que silencio. Não é preciso me olhar muito para ver as marcas do que perdi. Quem em ouve tocando percebe que estou com vontade de gritar de dor. Mas sei bem que estou colhendo o que plantei e que ninguém tem nada que ver com meus gritos. Sei que ninguém me excluiu de nada. Sou só eu me colocando no meu lugar. Ou melhor, tentando encontrar um lugar pra existir e soar depois de tudo. Porque viver é uma palavra forte demais pra descrever o que acontece comigo sem a minha rosa.

Deixam marcas os pedaços que vou perdendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário