sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Soando simples

_____"De fato, eu mesmo não acredito que alguém, alguma vez, tenha olhado para o mundo com mais profunda suspeita, e não apenas como advogado do Diabo, mas também como acusador de Deus.

_____E quem advinha as consequências dessa profunda suspeita, os calafrios e isolamentos que essa incondicional diferença de olhar provoca, compreenderá também que para recuperar-me de mim, como que para esquecer-me temporariamente, procurei abrigo em algum lugar - em alguma adoração, alguma inimizade, leviandade, cientificidade ou estupidez. E onde não encontrei o que precisava, tive que obtê-lo à força de artifício, de falsificá-lo e criá-lo poeticamente para mim (¿que outra coisa fizeram sempre os poetas? para que serve toda a arte que há no mundo?).

_____O que sempre necessitei mais urgentemente, para minha cura e restauração própria, foi a crença de não ser ou ver tudo tão solitariamente. Acreditar numa mágica instituição de semelhança e afinidade de olhar e desejo. Um repousar na confiança da amizade, uma cegueira a dois sem interrogação nem suspeita. Uma fruição de primeiros planos, de superfícies, do que é próximo e está perto. De tudo que tem cor, pele e cheiro.

_____Sozinho ou não, minha astúcia de autoconservação é ofuscada por uma falsidade que ainda me é necessária para que continue a me permitir o luxo de ser verdadeiro.

F.N. - Humano, demasiado humano."

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