segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Eu sei bem porque faço o que ninguém me pede pra fazer.

     Trabalhando em teatro, vejo incontáveis apresentações de escolinhas infantis. Eu lembro de uma apresentação especifica de quando eu estudava e era obrigado a pagar esse vale na qual eu percebi não importava o que eu fizesse, não ia fazer diferença nenhuma. Provavelmente essa ideia deu demasiada liberdade pra crianca retardada que eu fui.

        Ainda sobre a fauna do teatro, a vaidade é o pecado que mais me diverte. E, falando em diversão, eu sei que em algum lugar alguém ri de mim quando uma menina de 6 anos com chifres de rena me manda um video e eu choro bobo. Uma criança gostar de mim é  algo que simplesmente implode meu jeito de me enxergar. Eu me reconstruo do jeito que dá é fico aliviado porque ninguém me ve aos pedaços. E quem consegue ver não se importa nem um pouco com meu estado fragmentado.

          Eu vou cumprir a minha parte.. Nessa vida e na outra..até porque não sei ser de outro jeito. Mas até onde me consta, a parte de vcs esta paga. Vcs me deram um mestre quando eu estava além de qualquer vontade de redenção. E a dor nao machuca mais, embora ela ainda me odeie. E não venham me falar sobre Lucas 6,40.. Já ficou bem claro que as regras do trabalho não estão escritas na bíblia.

       Uma ordem simples, mas não tinha como ela ser facil. "Torna-te aquilo que tu és." Não que eu tenha adiado, o fato é que eu não tinha ideia do que eu sou, não sabia a o que devia me tornar. E foi bem foda caminhar sem saber onde queria chegar. Tanto que na maioria das vezes eu simplesmente seguia pra me afastar de onde não queria estar.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Só mais nessa vida e na próxima...

       Não parece mais ser medo. Mas continua sendo uma percepção diferente da da realidade. Sinto o acaso dando hadoukens por aí me ajudando. Ando tão a flor da pele que qualquer peça mal encenada me faz chorar. Baixar a cabeça ainda é um hábito difícil de abandonar, mas olhar pro horizonte parece ser o certo.

         As vozes não calaram a boca. Estou a quilômetros da serenidade que tanto quero. Mas ainda assim, estou bem. Eu sou daqueles que sempre olham pra as tempestades com esperança. Existe um campeonato de ironias com o único acima do fato de um que sempre barganhou e trabalhou com demônios namorar um anjo é minha jogada.

           Um anjo e um demônio andam de mãos dadas comigo. E com eles juntos de mim, os planos estão se juntando cada vez mais.

             Faço uma show com o Virgílio e não consigo parar de rir. Tinha esquecido como ele toca sozinho e de como meus dedos sabem os lugares exatos das notas sem que eu precise olhar. E tenho um baterista que sabe que quando eu me sinto um bosta eu leio Nietzsche.

               Não vou nem discutir, mas vcs sabem.que eu não mereço nada disso né.?

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Escopo


        Certas coisas me tocam. Às vezes aquilo que a gente mais teme se joga no nosso colo. Mas às vezes a gente tropeça em pequenas coisas cheias de significado que indicam que estamos no caminho certo. Os sinais funcionam melhor quando estamos prestando atenção neles. O problema é que volta a esperança pra me amaldiçoar. Enquanto espécie somos o lixo da vala, mas sob as circunstancias certas, uma única  pessoa é capaz de coisas incríveis. O único acima não me paga pra fazer o que eu faço, então..  quando presencio essas coisas,  considero uma gorjeta  merecida. 


        No meio do inferno de uma apresentação com 200 pirralhos correndo e me dando trabalho,  eu vi dias duas meninas abraçadas. Aquele abraço que da força. E elas só ficaram abracadas ali esperando pra entrar no palco. Era só um abraço, mas eu lembrei de mim com 12 anos. Era sozinho porque não sabia ser de outro jeito. E como eu sentia falta desse tipo de abraço. 

        Talvez seja só meu lado triste se sentindo incompetente de novo. Ultimamente, cada  vez que alguém me pergunta porque estou estranho, eu queria realmente conseguir explicar que está tudo bem.  Eu estou feliz, mas existe um erro que permanece inadmissível. Eu improviso e parece que tenho certeza do que estou fazendo, por que o acaso joga comigo...mas a verdade é  que nunca me perdoo  quando não me preparo. E tomo chá com minha raiva. Por que sorrir sempre me da trabalho.

           E ja é 2019.. semana passada era 1993

sábado, 21 de setembro de 2019

Talvez eu tenha iluminado a coisa errada

        Eu sempre dei nome para as coisas com as quais converso. O nome do meu baixo é Virgílio. Porque Virgílio foi o guia do Dante enquanto ele atravessava o inferno. Tocar nunca foi sereno pra mim. Às vezes eu estou no palco tocando e me sinto como quando a gente está no mar e toma uma onda grande na orelha e se esculhamba todo rolando no turbilhão de água. Eu sabia que precisava de algo que conseguisse tocar sozinho e que me segurasse quando eu estivesse prestes a desmoronar. Ou que risse comigo quando eu abro um sorriso e fico invisível no palco.  Ontem fugi com o Virgílio e fiquei sentado no chão tocando baixinho. A paz não vem de graça. Acabei adiando as coisas sérias que eu precisava fazer e negligenciando as coisas de adulto também.

           Acordei cedo pra colocar as tarefas em dia, mas vem a minha senhora e monopoliza minha manhã. E antes que eu me desse conta ela estava discutindo com o Peca sobre pés de Maracujá.  Acho lindo eu precisar de ajuda e vocês me mandarem ela. E ela me coloca nos trilhos de novo sem cerimônia nenhuma enquanto conversa sobre os problemas dela. 



           E eu recarrego minhas baterias.  E me sinto pronto pra tocar. Com os olhos cheios de água, mas com as asas abertas, hoje naquele palco eu não vou ser vítima.  

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Acabou a folga, volta pro trabalho!

        Às vezes a gente joga bem e perde. Acordei com essa frase gritando na minha cabeça. Não que eu tenha perdido, mas me sinto derrotado. Mil coisas pra escrever e pouco tempo pra organizar as ideias de forma coerente. Tenho raiva da minha passividade. 

           Queria muito dar uma desculpa pra mim mesmo e dizer que depois que esse caos passar eu me ajeito, mas o fato é que o caos não vai passar nunca. Nunca melhora. No meio de tudo isso eu vou continuar dizendo que me chamo vento e que meu trabalho é apagar as fogueiras menores e tornar as grandes ainda maiores. E vou continuar gritando 
NUNCA ME CONCEDA DESCANSAR.

          Tenho meu chimarrão, meu baixo maquiavélico, os meus. Os meus dois cães de guarda seguem fiéis. Tenho a Claudia. Estou melhor do que jamais estive, mas ainda existem coisas quebradas aqui dentro que eu não consigo consertar. Não sinto falta de estar triste, mas eu sei que certos castelos de areia eu não posso derrubar.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O pingo tranqueava largo

     Sempre que começa agosto o Tiago e o Vento sentam e conversam tentando se entender. Talvez seja a euforia do momento, mas esse parece ser um dos melhores agostos que eu consigo me lembrar. Muito trabalho com os meus. A Jeane me contratou. A Claudia. A Cíntia. O Duda. O Caldo. O Bledo.  Em algum lugar, alguém parece empenhado em me deixar bem. O acaso té se puxando.

         Na minha cabeça é o Ken ganhando do Akuma de novo. 

        E o diabo não pode mais me perturbar, mas eu seria muito inocente se achasse que ele é a pior tentação. Felizmente eu não esqueci de certas coisas, e continuo acreditando que fugir de algo que não estou em condições de enfrentar é uma ótima estratégia. Eu não fujo por medo, essa é a única regra que estabeleci. Fora isso,  é sempre melhor fugir de lutas em que não tenho nada a ganhar e muito a perder.

         E agosto foi assim. Como sempre, não resolvi metade do que precisava resolver entre o Vento e o Tiago. Ainda sinto raiva do arrombado. Ainda quero bater um tiro de meta na buceta de uma guria. Ainda acho que não mereço nada disso que se sucede comigo. Eu queria sacudir os escombros das minhas asas como um cachorro se sacode pra se secar. Eu queria não ter tanta vontade de chorar.

      O fato é que um anjo e um demônio andam comigo. E de mãos dadas a gente sai desse agosto mais forte. Eu cantarolo Vitor Ramil e é como se isso me desse aval pra voar de novo.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Olááááa, Enfermeira!

                  Anos atrás, ela me disse que eu parecia um desenho animado. Eu não entendi muito bem o que ela quis dizer, mas acho que isso aqui explica mais ou menos a idéia.  E isso é interessante porque os pensamentos da gente, se conectam de forma misteriosa. A mesma pessoa também me disse que eu precisava entender que opiniões sempre estavam carregadas com a bagagem pessoal que cada um carrega. E,  se eu compreendesse isso, todos os julgamentos não perturbariam mais. Eles não são julgamentos, são confissões.

                 E poucas vezes nessa vida uma bruxa teve poder pra barganhar comigo. O que me lembra que na época achei absurdo receber ordens de uma, ao mesmo tempo que fiquei fascinado por alguém usar o imperativo do verbo ser do jeito certo.



              "Seja verdadeiro. Seja honesto. E se você não conseguir ser nada disso, seja pelo menos gentil. O mundo precisa de gente da tua laia." Assim terminava uma carta de 1998. Olhando pra trás eu percebo que deveria ter obedecido mais essa ordem. Mas percebo também que o acaso no desistiu de mim. E que anos tentando me esconder não tiraram  o desenho animado de mim. E por aqui e e por ali continuo esbarrando em pessoas que me tratam muito melhor do que eu mereço. Continuo grato por poder ajudar os meus.  Existe essa turma de pessoas boas que tornam o mundo melhor. Alguém tem que cuidar desse tipo de gente, eles são tão raros. E 3 meses de namoro. Eu rio sozinho cada vez que ela fala que é minha namorada e as pessoas olham pra ela como se ela tivesse dito que nasceu em marte. 



domingo, 7 de julho de 2019

Pinot Noir


         Quando eu pensei em morrer, plantei uma plantinha que nunca mais vou conseguir arrancar. Eu mantenho ela sobre controle, mesmo sabendo que talvez eu não tenha como vencer. Mas agora eu sei que um dia, quando eu estiver bem velho e chato.. eu poderei sentar na sombra dela e me consolar... a gente sempre se consola.

         Cuidar dos meus é  um trabalho que me leva a lugares peculiares. E ser tratado que nem cachorro num open bar de vinho na capital do vinho faz sentido dentro desse trabalho terrível que é a música.  Música é  perfeita enquanto arte e catarse.. mas como trabalho é só perrengue.

          Volta pra cada e escreve, mas eu deveria estar na praia..  estou perdendo uma geada lá.  Mas tem convites  que são essencialmente irrecusáveis.  Espero que a cola aguente e que uma menina de 6 anos não force demais as costuras.  Tem coisa demais aqui dentro e no frio não chove. Pelo menos estou fora da jurisdição do Diabo, ao que parece.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Não importa

      Pensei em mandar uma linda carta que começaria com "Então, sua trouxa...". Mas o fato é que o trouxa da história sou eu. A experiência cansou de mostrar que quem brinca com crianças eventualmente sai mijado. E não poderíamos esperar nada diferente de alguém doente que vive de aparências e gerencia a vida e as pessoas como se estivesse na 5ª série. 

     Nessas horas eu me lembro que vento não é um apelido; é um trabalho. As fogueiras pequenas eu faço desaparecer e as grandes eu torno ainda maiores. Ter pena de uma pessoa não torna ela melhor. Nem a deixa menos asquerosa. 

    Raramente escolho a forma como me agridem. Então, me dou ao direito devolver a agressão do jeito que achar melhor. 

     É notório que eu me defendo batendo. E que a dor que carrego comigo me ensinou a bater onde dói.

sábado, 22 de junho de 2019

Há tempos

      - Que horas a gente começa.?
      - AGORA.
      E eu subo no palco meio correndo. Solto meu meio suspiro/meio sorriso enquanto afino o Nico e aviso que talvez ele precisasse tocar sozinho em algum momento. Vejo um sorriso que em deixa leve. As asas coçam. A tempestade que sopra do paraíso não pesa mais. De alguma forma, eu fui feito para voar no meio do caos. 

    Camila bateu forte e me trouxe pro chão, incontáveis noites eu passei chorando e esperando amanhecer. Mas foi uma frase do U2 que me faz desmoronar como um castelo de cartas. "Então você se dá". Deixei meu baixo tocando enquanto fiz o que faço de melhor em cima de um palco. Eu sorri e fiquei invisível. E chorei até sentir as lágrimas quentes escorrendo no rosto. E ninguém me viu. É vaidade, eu sei, mas fiquei muito feliz por ainda saber fazer isso. Por mesmo depois de tudo ainda ser capaz de me reconstruir mais rápido do que eu me desmonto. 

       Acaba o show, enrola o cabo e vai pro outro show. Ainda pensei comigo: "O trabalho foi, agora é a festa". Chega correndo, pluga e sai tocando junto com o Bledo. ¿ O que mais eu poderia querer.? Ainda vi minha irmã sentada no colo da minha namorada. Tudo parece estar indo pro lugar. Mil elogios pra ela e poucos pra mim. Tudo realmente parece estar no lugar.

        Calma, Mar. Assim que a alquimia mudar, sem falta eu colo aí. Eu sei que já passou da hora.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Troco controle por paz, mil vezes

     Eu gosto de pensar que a Morte é uma menina com um Ankh no pescoço e um olho de Hórus mal pintado no olho, mas isso é ridículo. Fora o Destino, ela é a mais velha dos perpétuos. Gosto de pensar que ela não entende muito bem o trabalho, mas dizem que a cada cem anos ela passa um dia como mortal, ao fim do qual ela morre. Tudo para compreender melhor a sua missão. Eu gosto de pensar que somos amigos, e que teremos uma conversa agradável quando chegar a hora. E que ela cuida bem do meu cavalo. 


     Lembro de tudo isso quando esbarro no trabalho dela. Eu queria poder quebrar as regras e roubar a dor das pessoas pra mim. Não de todos, só dos meus. Tem pessoas boas demais nessa lista e eu queria poder fazer mais por elas. Ninguém está pronto para perder um pai.

      E aí o baterista manda um áudio quando eu estou tentando consolar o inconsolável. Velórios cristãos me fodem. Mas em algum lugar, alguém achou importante me manter otimista.. me lembrar do que realmente importa.  Alguém achou importante me lembrar que a ordem de mudar foi foda, mas que eu não estou sozinho. Que depois da madrugada escura e fria existe uma linda manhã de outono. Eu marquei uma pedra de tanto que escrevi nela que teria justiça e paz, mas preciso admitir que as vezes era foda acreditar que existia um caminho. 

         Sobe o elevador pra falar com a gerência. Não adianta nada termos regras se elas são extrapoladas. De novo, eu tive o que eu mais queria ao preço de uma mentira. E, de novo, mentir não foi sequer cogitado. As experiências repetidas tem uma única finalidade: ensinar o que não foi aprendido da primeira vez. Sendo assim, eu só queria perguntar que tipo de lição eu deveria aprender. A resposta foi muito mais direta e esclarecedora do que o normal. "A lição não é pra você, é pra nós". Um anjo e um demônio andam sempre comigo. E nem nos meus melhores devaneios de importância eu achei que eles poderiam aprender alguma coisa comigo.

domingo, 5 de maio de 2019

Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece.

        Colocaram uma força tarefa pra me dar suporte e eu fui adaptando o plano da melhor maneira que pude. Às vezes a gente faz a coisa errada e se sente bem. Às vezes a gente faz a coisa certa e se sente um merda. Faz parte do jogo. E eu estava ali pra ganhar.

       Não teria como contar tudo que eu carreguei comigo quando subi naquele palco. E todas coisas ruins que larguei antes de subir. Eu fui feliz o suficiente pra irritar as pessoas ruins. Antes de tudo, o Nico perguntou se eu iria tocar. Respondi que ia tocar cada nota. E ia colocar tudo em cada uma delas. Elas tinham destino certo. No meio do show eu senti o coração ficando pequeno. Soltei o cabelo na cara torcendo pra ainda saber ficar invisível. E entre suor e lágrimas eu sorri e ninguém mais me viu.

       Foi preciso que deitassem nas minhas asas pra que eu lembrasse que elas não servem pra varrer o chão. Da outra vez a Ostra me chutou do abismo pra que eu voasse.. Dessa vez eu precisei me jogar por conta própria. O acaso me ajudou de formas que eu nem imagino, mas eu li  claramente os sinais enquanto parecia só um baixista inconsequente. 

       Cheguei em casa e fiz chimarrão. E quando amanheceu tudo estava no lugar. A serenidade que eu tanto pedi, ao meu alcance. Não posso resolver todos os problemas dos meus, mas creio que já faço uma grande coisa não criando mais problemas para eles. Quando a ordem de mudança vem, a gente muda. 

           A Carmem me deve um livro. Até lá eu volto pros mesmos livros de sempre.



Aee Frederico.. Vamoooo

segunda-feira, 29 de abril de 2019

A colheita é comum, mas o capinar é sozinho

          Já faz algum tempo que não escrevo aqui. Estava tudo morno, mas do nada acontecem coisas que mudam tudo. 

           No sábado eu carregava os estragos da sexta, e sai de casa atrasado, mas nada absurdo. Era o suficiente pra que eu me sentisse incompetente. Chegando na bier eu encontro o Leko. Por falta de definição melhor, o Leko é a versão humana de um antidepressivo. Eu me sinto bem todas as vezes que encontro ele. E é engraçado porque ele não tem idéia do quanto me ajuda. Era um baita plano. Eu entraria com o coração e ele entraria com a técnica. Seria foda. Passamos o som como quem não se importa, mas ele ficou ótimo. Nossa.. que surpresa.. era a Jack band.. eram os meus. É lógico que eu ia fazer tudo ao meu alcance pra deixar o som bom. No fim  eu tinha uma janela de 2 horas. O plano de ir pra casa ficar sozinho  era atraente. Mas o convite "fica, vai ter pizza" mudou tudo. E lá fiquei eu sem zona de segurança.

          Pontualmente as 21.30 coloquei o Maurício no palco. Como músico sou tosco, mas como diretor de palco sou implacável. Havia um horário e ele seria cumprido. Depois corre daqui e dali pra ganhar 15 minutos e colocar a Jack Band no palco. Tudo estava estranhamente normal quando eu me perguntei onde estava a mágica que eu tanto busco, parece que o Mauro me ouviu. Tocaram Enjoy the silence. E enjoy the silence tem uma letra daquelas que me desmonta mais rápido do que eu consigo me reconstruir. Eu realmente tinha tudo que precisava ao alcance das minhas mãos.

          Pára tudo (eu sei que não tem mais acento, mas  foda-se) . Aparece um sorriso igual o do Mauro. O signo certo. ¿Quantos anos.? 4? 5? Mil coisas passando na minha cabeça e uma frase do Grande Sertão: "Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera”. Eu normalmente racionalizaria e fugiria, mas não hoje. Eu sai de casa para ventar e não iria abrir mão dessa condição. E diante de qualquer julgamento de cunho moral, eu responderia com a mesma frase: "Nunca é alto o preço a se pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.” Com ela eu me justifico.

          No fim de tudo, quando eu cheguei em casa e sentei na chuva, a chuva caiu e escondeu minhas lágrimas enquanto eu sorria bobo. Eu amo tanto a chuva que daria nome pra cada gota que cai, assim como nomeei os tijolos daquele prédio do lado do Galleria. Você me deram muito mais que eu merecia. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Ventando

     É um novo trabalho, mas chego nele com os estragos de tudo que veio antes. E com as lições que os tombos deixaram:

     Não forçar o momento de soltar a flecha por medo de perder o fôlego.

     O momento em que somos mais facilmente manipulados é justamente quando tentamos manipular.

Sun Tzu


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

¿como cheguei até aqui?

      Durante a vida, fiz incontáveis piadas sobre os caxienses acharem que a festa da uva é grande. Na minha cabeça sempre foi uma festinha minúscula numa cidade pequenas com rompantes de grandeza. Mas o campeonato de ironias com o Único Acima não dá folga e já no primeiro dia de trabalho eu tive que dar 4 voltas pelos pavilhões. É tudo relativo, eu sei, mas não tenho mais coragem de dizer que isso aqui é pequeno.

     E, pra fazer tudo isso acontecer, de alguma forma juntou-se um time invejável. Olhar pro lado e ver os meus trabalhando e fazendo a festa sair do papel é mágico. E assim como foi no festival de blues e em alguns outros trabalhos especiais, não sobrou muito tempo pra que eu hesitasse ou ficasse duvidando de mim mesmo. A mesma regra: nada é pra ontem e quase tudo é pra agora.

   O tamanho do trabalho é assustador, mas de alguma forma, meu amor ao caos me mantém ainda de cabeça erguida. Os gigantes que tantas vezs me fizeram enxergar estão aqui comigo, alguns não fisicamente. O Mauro se estivesse aqui me entregaria uma cerveja bem gelada sem dizer uma palavra. A Ana colocaria um cigarro na minha boca porque sabe que eu esqueço de fumar quando entro na bolha. O Fer Costa me daria um tapa na cara e me mandaria não parar de sorrir.

    Não parar de sorrir. Admito que esse é o único plano que eu me permito ter no momento. Provavelmente esse é o único plano que vou precisar até o fim da festa da uva.



Nas incontáveis voltas que já dei nesse espaço,
a escada do coreto até agora é meu lugar preferido.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Para o leste




               Isso foi ontem, no fim da tarde. Automaticamente parei na janela, e pensei como se estivesse perguntando:  ¿Temos tempo pra mais uma dança?  Resolvendo umas últimas tretas,  olhei  pro céu e percebi que estava atrasado, mas se eu dirigisse como um idiota, chegaria no mar antes da Lua.


            Cheguei. E com os pés descalços na areia eu entrei em acordo comigo mesmo. Existe um jogo que eu não posso ganhar. Mas os outros são meus.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A montanha não tem nenhuma chance

        Numa carteira de cigarros meio amassada, no domingo de manhã eu rabisquei  algumas palavras pra escrever sobre elas depois. Foi no curtíssimo período entre chegar em casa e me jogar na cama.

O que consegui entender da minha letra de bebum foi isso:

Lua cheia na véspera

Chuva. logicamente.

O Virgílio tocou muito. Eu sorri e fiquei invisível.

FINALMENTE

         Lembro que estava com um sorriso enorme quando escrevi. Meio molhado de chuva, meio bêbado. A sensação de missão cumprida misturada com "¿eu mereço tudo isso?". O que eu não sabia era que ia me envolver numa treta sem pé nem cabeça nos minutos seguintes. Mas é bom pra lembrar como funciona tudo. É um bar, o trabalho é literalmente uma festa, e é melhor guardar as coisas particulares para si onde se trabalha. É uma pessoa fantástica, mas gerencia certas coisas como se estivesse na 5a série.

        O fato é que nada daquilo pôde (pode) tirar o sorriso de mim. E eu ganhei um show com a Gil Vargas de presente no domingo. Só pra ser infinito. Só pra terminar o fim de semana num palco. Sorrindo e ficando invisível mais uma vez. A mágica no absurdo. 


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Eu ainda não posso ganhar

         Recém passou da meia noite e estou esquentando a água pra terceira térmica do dia. Eu deveria dormir. Deveria fazer as pazes comigo mesmo pra dormir melhor. Mas o fato é que eu não sei dormir. E não tenho erva mate suficiente pra  fazer as pazes com quem quer que seja. Preciso mesmo de água salgada e areia pra remendar certos pedaços. Sempre fico triste quando certas coisas quebram e eu não sei consertar. E ainda existem coisas aqui dentro que eu não sei consertar.

        Há uma frase que eu repito na minha cabeça quando caio um tombo: Levanta. Sacode a poeira. Dá a volta por cima. Eu nunca fui muito gentil quando converso comigo mesmo, então essa frase soando como uma ordem serve muito bem no meu jeito de pensar. Tirei ela de uma história em quadrinhos do Logan. 

      Mas o que fazer quando a poeira não está no corpo, e sim na mente.?  E porque diabos eu lembro nessa frase durante um banho de chuva épico.? Tento me convencer que fazer 20km pedalando embaixo de um dilúvio tem a ver com capacidade e não com sentir raiva de mim mesmo. É lógico que falho miseravelmente.

      O Bledo tem razão quando fala que eu virei outra pessoa quando comprei o baixo novo. Nós músicos sabemos bem que conforme vamos tocando melhor, vamos também nos tornando pessoas melhores. Quando alguém duvida dessa teoria eu aponto pro Caldo e as pessoas entendem o que estou falando. Mas eu ando precisando do Virgílio. O fender soa  melhor, isso é inegável, mas o inferno fica melhor quando tenho alguém pra me guiar nele. Quando estou no palco e fecho os olhos pra chorar melhor, é o Virgílio que grita comigo pra manter as notas soando no lugar. Segurei ele incontáveis vezes, e acho que só confio nele pra me segurar quando eu mais preciso.

      Aprendi com o tempo é que as pessoas costumam confessar suas fraquezas apenas pra aqueles que as deixam mais fortes.Vejo minha senhora tirando a máscara e meio sem jeito falando das fraquezas dela. Sinto um certo orgulho em pensar que eu a deixo mais forte, assim como ela faz comigo. E pessoas que não julgam são tão raras hoje em dia. Vou pegar as minhas e segurar firme para não perder mais nenhuma. Mas é bobagem minha, sei bem que algumas vão embora quando eu não for mais útil. As ondas não vão parar, como disse o mar.


Falando em mar, NUNCA ME CONCEDA DESCANSAR!