sábado, 6 de junho de 2015

Fora de contexto


            Um paulista me chama no palco pra tocar Nirvana. Ele não sabia, mas me deixou sem chão. Quem não tem chão tem que confiar no céu. A irmandade manda recado. Tudo é permitido. Nada é verdade. Eu sabia o que fazer e não cabia em mim de contentamento. Poderia fazer o que faço de melhor. Era só sorrir  que eu ficaria invisível. A letra de Polly pesando. Uma tonelada de memórias. O acústico, o suspiro. Ele morreu. Morrer. Um baixo estranho mas meus dedos sabiam o que fazer. As luzes piscam e o som do baixo fica mais alto. Havia um dos meus atrás da mesa de som, exatamente onde eu sabia que ele estaria antes mesmo dele pensar em ir. Esse é o plano. Colocar tudo no lugar. Ficar invisível para não incomodar mais ninguém. Solta o cabelo e sorri. Fecho olhos e vejo a mesma imagem. A mesma tendinite corroendo meu braço. Talvez não esteja tudo perdido. Asas sujas. Cortar elas. Chorar no palco.  Eu posso, ali sou invisível. Ali a dor e loucura não podem me machucar. E talvez ninguém nunca entenda como isso me liberta.  A maré muda. Mas existem marés e existe a Lua.

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