segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Uma fuga pra me encontrar.

_____Ele desenrolou todo o barbante e começou a enrolar de novo. Ele estava mal enrolado e eles precisavam de tempo. Tempo pra conhecer o vento que estava soprando. E para lembrar do que fazer segurando o barbante. Deve ser que nem andar de bicicleta. Uma pipa de plástico não se molha, ele pensou enquanto torcia para que ela não se arrebentasse no chão. A chuva não era uma opção, era uma certeza matemática. Uma pipa tão forte e ao mesmo tempo tão frágil. O vento sempre se entorta quando a madrugada teima em ficar mais escura antes de amanhecer. Quando o sol começou a aparecer no horizonte escondido por algumas nuvens escuras, ele sentiu medo. Medo de não ser bom o bastante, de não saber o que fazer quando o vento muda de lado ali pelos 20 mts de altura. No meio de uma consfusão de sentimentos ele percebeu que estava sentindo frio. Já havia luz, e olhando pro mar algumas gotas de chuva começavam a deixar suas marcas. - Está na hora, disse ele, fazendo força com a alma para se levantar. Ele lembrou de um castelo de areia com um palito de picolé dentro, lembrou da promessa. Lembrou dos recados, dos pedidos, da flor que um dia quis ver o mar. Da dor e da vontade de fazer o que parecia mais certo. Todos estavam ali, dentro dele, quase afongando-o por ele não saber mais nadar em sentimentos. Lembrou de quem era sol e de quem era um vagalume e sentiu-se um pouco apagado. Lembrou da tatuagem da Lua. Lembrou que precisava ficar de costas para o vento e deixar um pouco de linha fora do carretel. Passou a linha por baixo do pé como que usando uma técnica milenar. O ritual é importante. A cada puxão no barbante a pipa ia subindo um pouco mais. E a chuva caiu leve, caiu solta com cara de infância. A chuva, o mar e o vento, e uma pipa voando grande, maior que tudo entre eles, com excessão de uma saudade absurda e imensurável.
_____Ela só não era maior do que o amor que aquele menino grande sentia.


Na cabeceira da cama, uma delicadeza brutal. Tudo lembra ela

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