Por incúria dos grandes...

Ao som de: Jayme caetano Braum - Don Athaualpa

- Fico surpreso em te encontrar aqui.
- Fazia tempo que eu não vinha aqui, mas querendo ou não, já conversamos um monte nessa mesma casa.
- Sim, sentados naquela janela enquanto tu dava nomes aos tijolos. Tu ainda lembra deles.
- Só de alguns, os mais característicos.
- Prá mim são todos iguais.
- Prá mim cada um é único. Mas faz tempo que não sento na janela. O que me fazia ficar lá meio autista foi morar em outro lugar.
- Tanta coisa mudou.
- Sim, mas algumas coisas não mudaram e nem nunca vão mudar. Até porque, o que mudou só mudou para continuar igual. E eu não me lembro de ti usando essas frases clichês que não dizem nada.
- Calma, não vim aqui para te julgar. Só estou a passeio. Uma testemunha, como vc diria.
- Eu adoro essa música.
- Por isso que você está aqui no canto sozinho.?? Para escutar música.?
- Quase. Aqui eu encontro um pouco de paz enquanto esses bêbados não vão embora. Fora que não estou nem um pouco afim de limpar a casa depois da festa.
- Esse é o personagem hoje.?
- Personagem.?
- Eu já te vi dançando em cima do balcão enquanto ele pegava fogo. Já te vi reunindo um monte de gente e fazendo muita festa com eles. Já te vi fugindo dessas mesmas pessoas. Já te vi quieto e concentrado escondido atrás de um copo de bacardi. Parece que cada noite você veste um personagem.
- hehehe. O que você não viu é que mesmo fazendo tudo isso, eu nunca deixei de ser eu mesmo.
- Isso é verdade. Mas o que você quer com isso.
- Se tu não sabe isso, como pode esperar qeu eu te diga.?
- Por que eu acho que nem tu sabe.
- De um jeito ou de outro eu te diria a mesma coisa agora: acabei de me lembrar, tu tá certo.
- É tão difícil falar a verdade.?
- Tu conhece a verdade melhor que eu. Toda testemunha tem a verdade ao seu alcance. Eu preciso ir,
- Até logo, a gente se encontra por aí.
- Sim, sim. No mais tardar em agosto a gente se encontra, como sempre.