Ao som de Jayme Caetano Braum - Acervo Gaúcho.
Estou com esse texto no meu pen drive já faz dias. Acho justo que ele seja o primeiro a ser postado nesse novo layout. E o livro do Martin Fierro tá na mão.
Eu me despedi, vou sempre me despedir de você a cada domingo e voltar.
Estou treinado a me separar para retornar mais forte.
Não tenho mais vergonha de recuar ou pedir à frente
Minha vergonha não tem mais orgulho.
Quando não a vejo, eu a pressinto
Quando não a escrevo, eu a leio em sinais e caligrafias estranhas. Tudo faz sentido; pichações, cartazes, canhotos; tudo é uma correspondência a violar e não me permite descansar.
Sou fraco, pode concluir que sou covarde. Vou voltar
Minha insônia não muda a claridade.
Anuncia que não está pronta. Não fique pronta. Tampouco estou preparado. Vamos assim mesmo. Meu corpo não tem mais espaço para se regenerar. Não posso salvar minha carne retirando a própria carne. Preciso da sua para me cobrir. Dói onde não fui beijado.
Não consigo arrancá-la do que sou.
Tentei, tento, tentarei, como se pudesse reinar com as palavras.
Duvide de minha alegria. Duvide de minha indiferença. Estou rindo com o vidro na boca. Faço o vidro virar dente. O que mastigo se acostuma. Mas não é o que eu sinto
Há namorados tristes em dia de sol. Há namorados alegres em dias de chuva
O que sinto nem falo. Não me cabe encerrar a vida de ninguém. A minha sempre está começando ao seu lado. Termino para não me repetir. Não consigo definir "aquele foi o último abraço", "aquele foi o último beijo", e conservar e sublinhar para me lembrar do fim. Eu guardo todos os abraços e beijos pensando que foram os últimos.
Desembrulho minhas roupas para descobrir sua pele.
Refaço o ritual da merenda da escola, o fino guardanapo que envolvia um pedaço de bolo ou um doce. Meu cuidado para não ferir a fome.
Eu me abandono, me troquei várias vezes, mas não me despeço.
Seu amor me desajeitou por inteiro. Não amarei menos do que recebi de você.
Seu amor tornou impossível qualquer outra história de amor. Seu amor é estelionato, nenhum homem deveria aceitá-lo porque não terá tempo de quitar. Seu amor é uma generosidade injusta. Uma extorção. Uma maldição. Porque ele me cura do que ainda nem adoeci.
Sou covarde, pode concluir que sou fraco. Vou voltar.
Como o esquecimento dos cachorros, que são castigados e logo estão lambendo o rosto de novo.
Como o esquecimento dos pássaros, que regressam aos mesmos telhados e antenas para secar os farelos.
Não sei me despedir de você.
Já briguei, já fiz as malas, já a ameacei com chantagens, já prometi que não seria mais feliz
Já apanhei as chaves. já devolvi as chaves, já avisei aos amigos.
Já, já, já.
Não sou mais o mesmo. Nunca serei mais o mesmo.
Só queria encontrar alguém mais louco do que eu para voltar à normalidade.
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