sábado, 28 de abril de 2018

Das coisas que obviam

         37 anos depois eu descubro que existe mais do Peca em mim do que eu podia imaginar. No meio de um feriado chega uma comitiva pra buscar meu pai, torneiro mecâncico aposentado, pedindo ajuda pra concertar alguma coisa. Não sei porque acabei indo junto.

           Uma ponta de eixo quebrada, e um monte de coisa torta. E ele botou o guardapó e o óculos do mesmo jeito que eu amarro meu cabelo num coque quando sei que vai ser foda.  A gambiarra é de família, agora eu sei. E correndo pra lá e pra cá atrás de um torno o Peca deixou até o engenheiro impressionado. E é claro que ele fez piada quandoo engenheiro pediu pra ele ensinar o porque fazia as coisas do jeito que estava fazendo. 

          Quando viu que o cara estava soldando errado, foi lá e soldou, E odiou do mesmo jeito que eu odeio estanhar cabos.

           Naquele momento eu entendi o tamanho do meu pai. E percebi que, mesmo se eu estivesse tocando para 1 milhaõ de pessoas num estádio, ainda assim ele seria maior.

        Depois de tudo, sozinho e reconhecendo minha escolha, a madrugada seguia ensurdecedora. Mil vezes eu peguei o celular na mão pra mandar mensagem pedindo ajuda. Mas eu escolhi me afastar pra não machucar. E longe de tudo, só sobrou uma pessoa que não me julgaria.

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