sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

...e mais.

Ouvi os sinos e achei que tinha tempo. Cheguei atrasado, mas ainda a tempo da comunhão.

- ??
- Tu tem que dizer "o corpo de cristo."
- ...
- Eu vou ficar aqui, não te preocupa. Amém

_____... Ouvi o "Ide em paz e que o senhor vos acompanhe" do fim da missa escorado perto do sudário. Entrando na sacristia ouvi o riso sério do padre mário perguntando porque eu estava sumido. Expliquei da nova busca, contei alguns lances do meu namoro enquanto ele me olhava com um misto de orgulho e preocupação. Já tinha tomado um café, mas não pude recusar um convite para jantar na casa paroquial. No fundo eu sabia que ele estava me convidando pra não me deixar sozinho na igreja. Uma janta gostosa, com cheiro de nostalgia da minha infância, conversando sobre o shoping do mal e da reforma dos ponteiros. Depois da janta fui fumar um cigarro andando entre as flores do jardim. Pensei em ir para a praia, mas sem a Cau não teria graça nenhuma. Lembrei o que os mestres falam, em especial o Osho. Aproveitei aquele momento sozinho para olhar para dentro, verificar se está tudo bem mesmo. Não quero errar dessa vez e o caminho é mais escorregadio quando caminhamos lado a lado com alguém que amamos. É preciso cuidado. O passado está sempre ali, pronto para nos assombrar a cada brexa que damos. Sempre há um anjinho triste no nosso ombro disposto a nos lembrar dos nossos piores momentos. É preciso coragem para confiar. E eu, que tanto debatia sobre o significado de acreditar e saber, agora me divirto aprendendo a confiar em mim mesmo e nos outros. Não é fácil, mas é daquelas decisões que muda tudo. Que permite reconstruir nossos sentimentos sem medo dos escombros de tudo que caiu. Quando me dei conta, já tinha pedido a chave da porta e lá estava eu deitado no mármore frio do chão da igreja. Tudo para deixar os pensamentos livres, para olhar para os meus demônios sem medo. Para poder chamar o São Franscisco de Xicão e ouvir meu latim tosco ecoando naquelas paredes tão minhas, tão libertadoras. Pensei em me confessar, e ri leve pensando em como é mais fácil viver sem ter que ficar escondendo um mundo de coisas. Assim tem sido minha vida: sincera e intensa, crua e na cara. Sem as meias verdades ou joguinhos de manipulação que tanto me entretiam. Nessa parte tenho que agradecer a Cau, se não fosse por ela, eu nunca teria me encontrado. Ainda estaria perdido sem rumo entre um fracasso e outro, tentando sempre me destruir no processo. Ironicamente, naquela época eu sabia, por isso não precisava acreditar. E agora eu acredito, justamente por não saber. Não ouso traçar planos, mas ouso querer e querer mais. A minha vontade é maior e é notório que eu amo de um jeito kamikaze. Ainda mais me apaixonando um pouco mais a cada dia.

No fim, não está tudo melhor pelo fato de eu ter amigos de valor ou uma namorada que amo muito. Pelo fato de eu ter um contrabaixo que é a melhor espada no melhor trabalho do mundo. Está tudo melhor porque eu estou exatamente onde deveria estar e ao lado de quem deveria estar. E SOU exatamente como posso ser. Tudo que posso ser.

Devolvi a chave e roubei uma rosa do jardim. Um sentimento de gratidão enorme. Um abraço bom, como se toda a história estivesse ali comigo.
Gracias por todo.

Um comentário:

  1. Feridas se curam com possibilidades de novas dores, administrar isto é o que nos faz querer estar com.
    Pelas dores que já passaram e pelos sorrisos que ainda virão.
    Estar exatamente onde se quer estar é a ordem do momento.
    Fiquei feliz em ler isso.

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