Ao som de Coltrane - Giant Steps
_____São dias estranhos, ou deveria dizer noites. Acabo me lembrando muito mais das noites enquanto ignoro quase que por completo o que acontece durante os dias. Depois de 4 horas de sono acordo entre a euforia de poder estudar as escalas chatas e o mau humor por causa da dor da tendinite e de dormir atravessado. Estudar de dia é sempre ruim por causa do calor. E tem sempre um parente aleatório querendo que eu rache lenha ou vá até a vizinha entregar a porra da capelinha como se o mundo dependesse disso. E os mails chatos implorando atenção que eu tenho preguiça até de ler. As horas vão passando devagar enquanto minha vontade hesita e se renova a cada cuia de chimarrão.
_____Chega uma hora em que meu quarto se transforma numa prisão quase insuportável. É a hora em que a dor não me deixa mais raciocinar direito e os ouvidos já estão saturados de qualquer som. A hora em que eu olho pela janela e vejo o mundo sépia. Então eu saio para caminhar e conversar com meus anjos. Deixo minha mãe falando sozinha enquanto ela palestra sobre emagrecer. Caminho devagar deixando meus pensamentos seguirem seus próprios caminhos. Batucando com as mãos eu vou fazendo tercinas com meus passos marcando os compassos. Perto da igreja eu resolvo sentar para fumar um cigarro. A fumaça arranha a garganta enquanto eu lembro pela milésima vez que preciso manter a coluna reta quando estou sentado. Pergunto-me o porque de estar sempre encolhido, como se estivesse me defendendo de alguma coisa que nem sei o que é. Como se fosse uma cobra armando um bote num predador que sequer existe.
_____Um banho gelado por pura raiva do suor. Tenho vontade de sentar no chão quando escudo o quinto vizinho cortando a grama no mesmo dia. Estou com fome, mas a cozinha é lugar perigoso durante a novela/o noticiário. Arrisco só para praticar a arte de ignorar insultos e perguntas desagradáveis. Só queria ficar quieto, mas se não entenderam isso em 30 anos, não vão entender nunca. Com a troca do chimarrão por café eu entendo que o dia acabou.
_____E então começa a minha noite. Coloco os fone e fico tocando desligado do mundo. Desligado do metrônomo e do relógio. Só eu e um monte de livros espalhados pelo chão do meu quarto. A madrugada é minha. E as músicas que dizem o que eu sinto também são. Sei bem que esse tempo que fico tocando por tocar não faz, necessariamente com que eu seja um músico melhor, mas preciso disso para não enlouquecer. E para ser uma pessoa melhor. Quando canso, me dou ao luxo de escrever ou ler um pouco. É irônico que doa para tocar mas não doa para escrever ou teclar no computador. Já nem reclamo de não sentir sono ou de dormir pouco ou quase nada. Há certas coisas que nem me incomodam mais depois que o sol vai embora.
_____Essa tem sido minha rotina, me perco durante os dias somente para me reencontrar durante as noites. E fico acumulando uma saudade gigantesca por que sei que quando encontro o meu amor ela se transforma em uma alegria do mesmo tamanho, se não for maior. Quando deito na cama, penso nos sustenidos e bemóis na armadura da clave, como quem lembra das pessoas que encontrou durante o dia. Ouvindo Coltrane.
_____E é assim que adormeço. Dizem até que durmo sorrindo.
_____Chega uma hora em que meu quarto se transforma numa prisão quase insuportável. É a hora em que a dor não me deixa mais raciocinar direito e os ouvidos já estão saturados de qualquer som. A hora em que eu olho pela janela e vejo o mundo sépia. Então eu saio para caminhar e conversar com meus anjos. Deixo minha mãe falando sozinha enquanto ela palestra sobre emagrecer. Caminho devagar deixando meus pensamentos seguirem seus próprios caminhos. Batucando com as mãos eu vou fazendo tercinas com meus passos marcando os compassos. Perto da igreja eu resolvo sentar para fumar um cigarro. A fumaça arranha a garganta enquanto eu lembro pela milésima vez que preciso manter a coluna reta quando estou sentado. Pergunto-me o porque de estar sempre encolhido, como se estivesse me defendendo de alguma coisa que nem sei o que é. Como se fosse uma cobra armando um bote num predador que sequer existe.
_____Um banho gelado por pura raiva do suor. Tenho vontade de sentar no chão quando escudo o quinto vizinho cortando a grama no mesmo dia. Estou com fome, mas a cozinha é lugar perigoso durante a novela/o noticiário. Arrisco só para praticar a arte de ignorar insultos e perguntas desagradáveis. Só queria ficar quieto, mas se não entenderam isso em 30 anos, não vão entender nunca. Com a troca do chimarrão por café eu entendo que o dia acabou.
_____E então começa a minha noite. Coloco os fone e fico tocando desligado do mundo. Desligado do metrônomo e do relógio. Só eu e um monte de livros espalhados pelo chão do meu quarto. A madrugada é minha. E as músicas que dizem o que eu sinto também são. Sei bem que esse tempo que fico tocando por tocar não faz, necessariamente com que eu seja um músico melhor, mas preciso disso para não enlouquecer. E para ser uma pessoa melhor. Quando canso, me dou ao luxo de escrever ou ler um pouco. É irônico que doa para tocar mas não doa para escrever ou teclar no computador. Já nem reclamo de não sentir sono ou de dormir pouco ou quase nada. Há certas coisas que nem me incomodam mais depois que o sol vai embora.
_____Essa tem sido minha rotina, me perco durante os dias somente para me reencontrar durante as noites. E fico acumulando uma saudade gigantesca por que sei que quando encontro o meu amor ela se transforma em uma alegria do mesmo tamanho, se não for maior. Quando deito na cama, penso nos sustenidos e bemóis na armadura da clave, como quem lembra das pessoas que encontrou durante o dia. Ouvindo Coltrane.
_____E é assim que adormeço. Dizem até que durmo sorrindo.
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