quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu me chamo Vento...

Ao som de Pirisca Grecco - Sumo de mim

São dias estranhos. Acordo quando amanhece e esquento a água sem deixar ferver. Trato de ler o jornal antes que a minha mãe suma com ele. Encho a cuia de agua fria para assentar a erva e vou lá fora andar na grama de pé descalso enquanto fico tirando a agua fria da cuia. A grama orvalhada e o sol nascendo me dão uma lição de vida sem igual. Com a água quente na térmica cheia, pego o Virgílio, meu metrônomo e minha estante de partituras e fico estudando como se não houvesse amanhã. Às vezes o braço dói, as vezes não consigo ler algum compasso. Às vezes é difícil se concentrar. Essa é minha manhã.

Depois do almoço, deito na cama e durmo com um livro do Jayme Caetano Braun no colo. Ouvindo Pirisca Grecco e sua banda de ciborgues. O sono vem manso, sem culpa, sem pressa. Quando levanto, troco de livro: segredos da improvisação, do Nico Assumpção. Eu, o Metrônomo e o Virgílio de novo. Espero o anoitecer com pressa e quando ele finalmente chega, me cativa enquanto caminho sem rumo pelas ruas do meu bairro. Caminho devagar, prestando atenção nos detalhes que tantas vezes passaram despercebidos.

Com o cabelo e com as asas molhadas de um banho frio, a madrugada é minha. Tudo soando baixinho, pra não atrapalhar o silêncio que eu tanto venero. Rabisco palavras no meu diário e bolinhas nas minahs partituras. Olhando pros dois encontro muitas respostas sobre mim mesmo. A chuva aparece pra me fazer companhia quando eu menos espero. E é com ela que eu durmo um pouco, enquanto espero o amanhecer, sem pressa nenhuma.

Ter uma vida de novo não é nada mal.


"Quando cantava se via naquele olhar machucado
o pensamento empacado nalguma reminiscência,
talvez a velha querência longe na barra pampeana...
talvez alguma paisana desgarronada na ausência...

Numa milonga macia, numa cifra - num estilo
nunca se viu como aquilo tamanha fidelidade,
ora olfateando saudade numa nostalgia langue;
ora farejando sangue num berro de liberdade."
- J.C.B. - Hermano

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