Sobre o que ando lendo:

_____Do livro de um conterrâneo, presenteado a um grande amigo e que acabou na minha mão durante a tarde de hoje. Recomendo muito. Duas partes: uma que me lembrou o que me passava. Outra que me lembrou o que me passou. E as duas sobre o que me passa, já que sou o que sou hoje por causa e consequência do que que passamos. E porque canalha realmente soa como um elogio.

_____Acorda-se com a sensação de pesadelo, dorme-se com a sensação de pesadelo. Fase de transição, em que se confia sinceramente que nada será melhor do que antes. Quem tinah humor fica cínico. Chora-se, no princípio, com força, depois o choro é um hábito, perde a concentração e vira um resmundo intermitente. Não se faz outra coisa senão remoer o tempo, repisar fotografias, vídeos, cartas. Reler e revisar o que esquecido no ensino médio. São meses de exílio e sacrifício, a mostrarque se é capaz de sofrer a sério por alguém e abdicar do que mais se gostava.
_____A fossa do amor não é uma encenação. Ao passar por ela, termina a confiança irrestrita, a esperança ingênua. As pessoas que sofreram esse descompasso são reconhecíveis de longe. Não se alegrarão de todo. Uma saudade vai retirar a velocidade dos ouvidos. Não se abrirão de novo como uma vitória-régia. Têm uma sutileza que as diferenciam dos demais, o tolhimento do abandono. E poderão, no futuro, amar melhor, porque não estarão sozinhas. Estarão sempre conversando e consultando sua dor.

_____O canalha tampouco ambiciona ser viúvo dos seus vícios. Espera receber alta, pode não conseguir, pode tentar e fracassar. Dorme pouco para não perder a chegada da paz da manhã. Espera uma paixão redentora para reaver a adolescência. Anseia superar a indiferença que o impele a dispensar as mulheres e abreviar os relacionamentos. Aguarda ter novamente a insegurança das palavras, o risco de ser magoado e magoar. O canalha está cansado de sua reputação, do esforço para manter a fama, da rotina de não se importar.

É difícil, duro de suportar, mas o maior amor, o amor mais leal e puro, pode vir de um canalha arrependido

- Fabrício Carpinejar, Canalha!