quarta-feira, 27 de maio de 2009

Eu não me esqueci.

Ao som do repertório da saudosa banda Jack Buttler,
desenterrado pelo meu unicórnio.

_____- Eu imaginei que tu virias. Tu sempre vens quando os dias são quentes e as noites são frias.
_____- É um jeito interessante de definir o mês de maio, mas tem um jeito mais fácil para que saibas quando eu virei. Quando aquela constelação que eu chamo de Gêmeos estiver daquele lado do horizonte, e quando o vento começar a soprar frio vindo do sul, então eu sempre virei.
_____- E porque vieste.?
_____- Não sei direito, o sinais me trouxeram aqui. Em cima da serra encontrei uma neblina que acabou me seguindo até aqui, e o vento está soprando diferente. Se era prá ser uma noite perfeita, não imaginei uma maneira melhor de amanhcer do que aqui na areia. Além disso, um banho gelado e uma conversa devem colocar minha mente de volta nos trilhos.
_____- Chegue mais perto, eu não consigo te ver com essa neblina.
_____- Essa é a idéia. Por isso eu gosto tanto de noites assim.
_____- Como podes te sentir confortável conversando com alguém que não pode ver. Isso é muito estranho prá mim.
_____- Sim, eu imagino que sim. Ainda masi prá ti. As pessoas costumam ficar maravilhadas com a tua visão. O fato é que eu não preciso te ver, pelo barulho das ondas eu sei onde tu terminas e onde tu começas. E pelo lado que o vento sopra eu sei como as ondas estão quebrando. Eu acabo gostando da neblina porque ela consegue deixar o escuro branco. E tudo fica como o céu agora. As nuvens o deixam branco, mas ainda assim ele está escuro. E ainda assim eu sei o que tem por trás dele.
_____- Porque esperar o amanhecer se te sentes tão confortável no escuro.
_____- Porque é justamente antes do amanhecer que a madrugada fica masi escura. E no escuro não importam cores e luzes. E eu aprendo que tenho que acreditar no que eu sinto e não no que eu vejo. Além disso, o amanhecer sempre vem para renovar a esperança.
_____- A mesma esperança que carregas no pulso.
_____- Sim, um anel para me lembrar de uma aliança, um terço budista para manter a fé, dois elásticos de cabelo pela esperança e por que existem duas portas. Um tau no pescoço para me lembrar quem eu sou. Meus talismãs continuam os mesmos. AS marcas que podem ser usadas para reconhecer o meu corpo. Também há as asas, mas a história delas é outra.
_____- Sim, porque tu não voas e porque quase sempre se refere a elas como um fardo.
_____- O fato de eu voar ou não é uma coisa que nem tu conseguirias ver. Mas isso é irrelevante. Eu já toquei o céu.
_____- Nós já tocamos, melhor dizendo.
_____- Sim, e agora eu sei que posso ir embora tranquilo. Mesmo que a solidão tenha tentado me partir ao meio nos últimos dias, ter vindo aqui me mostra que faço parte de alguma coisa muito maior. Mesmo que tudo mais falhe, a esperança sempre se renova. E nada do que se partiu se perdeu.
_____- E o sol veio para renovar a tua esperança.
_____- E quando o sol aparece no leste eu sei que devo voltar.

_____E com água salgada e muito gelada eu comemorei meu aniversário no lugar onde eu mais me sinto em casa. Depois da arrebentação, onde o céu e o mar são uma coisa só. Onde medo e coragem não são medidas importantes. Onde não há nada de que eu precise me defender.

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