"- Tu deveria voltar pra casa. Lá tu tem internet e uma cama grande num quarto só pra ti."
Martina, mostrando uma sabedoria que normalmente vem como tempo.
Ela tem 8 anos. Ou 9, eu sempre confundo.
Falando em numeros, -56 e contando
"- Tu deveria voltar pra casa. Lá tu tem internet e uma cama grande num quarto só pra ti."
Martina, mostrando uma sabedoria que normalmente vem como tempo.
Ela tem 8 anos. Ou 9, eu sempre confundo.
Falando em numeros, -56 e contando
Esse é um daqueles.
Os sinais são assim mesmo, as vezes eles gritam e as vezes eles sussurram, mas eles nunca silenciam. A cada mês de agosto o Vento e o Tiago sentam pra conversar. Uma promessa na frente do mar. Não é na frente, é diante de. às vezes as palabras brigam comigo. Era pra ser uma armadura e um personagem, acabou sendo a variável na equação que me permite equilibrar as coisas. A Mel Lisboa fala em escopo e eu lembro de Freud. Parece que estamos bem perto do centro da personalidade. É inútil levantar se vou continuar caindo por problemas pequenos. Adoro frio. Odeio neve, odeio gelo. Pelo menos meu braço dói diferente. Cachorro idiota, para de rosnar pra mim. Os pontos se ligam quando eu digito usando uma mão só e lembro que tentei estudar datilografia.
A namorada me liga, eu deveria estar feliz. Deveria costurar por memória muscular. Os sinais não silenciam, mas é fato que eles tem uma noção de tempo muito particular. Eles vêm quando precisamos dele e não quando queremos. A maldição do indeciso é poder escolher. Escolher é perder sempre. Julgar seria fácil, mas eu não me confesso pra qualquer um. Eu queria perguntar pra Alice, mas seria anacronismo em essência. Agosto acabou sem nenhum acerto entre o Vento e o Tiago e, ainda assim, V de Vadia. Nem todo vagante.....
- Oi.
- Achei que você não ia mais vir
- Eu não queria, mas sinto que fugir por medo continua inaceitável.
- Bobagem. Continuo inofensivo.
- Enfim, preciso de ti. Estou perdido.
- Se você continuar quebrado pelo medo, nenhum caminho vai servir. Pega essas asas e arrasta elas pra cima daquela montanha. E pula. Nunca fomos bons em voar, mas a esperança de aprender a cair sempre foi motivação suficiente.
- Mas eu vou cair de novo.
- Não importa. Cai. Tenta de novo. Cai melhor. Sacode a poeira e confia no café
Eu sempre senti o desprezo dos anjos quando eles precisam usar minha boca pra dizer o que precisa ser dito. E normalmente é um trabalho ingrato, porque a verdade sempre causa reações extremas. Justamente por isso é bom ter por perto alguém que não mente pra nós. O fato é que sempre haverá verdades para serem ditas. E foi bem estranho ser ouvidos em vez de ser boca.
Gosto de pensar que permaneço na vida das pessoas enquanto for útil pra elas. Depois de muitos anos, considerei que meu ciclo com o potro estava terminado. Ele parecia bem, tinha uma ruiva xucra pra gerenciá-lo e um filho para tornar a felicidade palpável. As coisas mais erradas da vida dele ele fez do meu lado, eu eu gosto demais dele para achar esse tipo de relação justa. Todas as vozes aqui dentro entraram num consenso de que, além de não precisar de mim, a vida dele estaria muito melhor comigo longe. Era um bom plano.
Mas É ÓBVIO que em algum lugar alguém sempre tem outros planos. Talvez o Único Acima realmente goste de me enfiar ironias goela abaixo. É isso ou ele precisa muito que eu aprenda a trocar fraldas. E ganho um afiliado e fico sem chão como quem toma uma machadada nas pernas. E lembro na marra que quando o chão falta, eu só preciso bater minhas asas e confiar no céu. Notoriamente eu e o resto do universo temos opiniões bem diferentes sobre o que ou mereço.
Há um virginiano que parece que está além da minha capacidade de estragar tudo. Porque ele sempre volta. E o Potro sempre me salva de mim mesmo de novo e de novo e de novo quando eu fico perdido fugindo de mim mesmo. A Nadacu certamente teria uma teoria sobre minha incapacidade de me apegar por medo de perder ou as razões pelas quais eu tenho essa rotina de me auto sabotar. E ela escreveu uma bela lista de tarefas num quebra cabeças que foi bem complicado de montar. Os olhos cheios de água dificultaram muito.
E dessa vez não vou ter como escapar, vou precisar aprender como se segura uma criança no colo.
Eu ainda sei fazer chover.
E depois que todos foram embora eu fiquei ali, sentado na chuva. Até esquecer do frio. Até meu sorriso sincero fazer chover mais forte. Até ouvir os relâmpagos rindo comigo. Obrigado por não esquecerem.
Eu lembro sempre daquelas tardes de domingo no verão. As mãos suando sem parar por causa do calor e da teimosia. As sobrancelhas não conseguindo tirar o suor dos olhos. E eu estudava com o Virgílio na mão obcecado por alguma coisa que eu nem sabia o que era. Talvez eu quisesse ser bom. Talvez meu metrônomo brigando comigo fosse a única companhia que eu merecesse na época. Talvez eu estivesse fugindo. Talvez eu estivesse procurando alguma coisa.
E eu me lembro também das manhãs geladas do inverno. Quando o frio e a tendinite me acompanhavam enquanto eu tocava baixinho pra não acordar ninguém. E o sol amanhecia me ouvindo tentar e tentar. Não tocar melhor, mas ser uma pessoa melhor.
Eu lembro de tudo isso porque nada vai ser como era. Sei que tem coisas quebradas aqui dentro que eu não tenho como concertar, mas uma coisa eu queria ter de volta. Eu estou cansado da minha amargura. Cansado de arrastar minhas tragédias de arrasto.
Uma música antiga, porque o Virgílio também lembra dela. Acabo por sempre voltar pros engenheiros do hawai.
Perdoa o que puder ser perdoado. Esquece o que não tiver perdão. Soa como um plano.
A abertura de How i met you mother ainda me emociona. Era fácil me ver como o Barney e aceitar que ia acabar sozinho. No fim eu era a Robin. Eu sempre fui a Robin. Perdi a esperança do guarda-chuva amarelo faz anos, mas ainda existe uma trompa azul na minha parede, pra me lembrar do peso das escolhas.
Coisas que não posso consertar. Portas que nunca mais vou abrir.
Que bom que você veio. No meio desse caos eu imagino que esteja difícil pra você achar tempo pra conversar com algo tão insignificante. Não tem sido fácil, mas é assim mesmo. AS vezes a gente quase desiste do trabalho, mas nunca deixa de acreditar nele. Estamos cansados. Dia sim, dia não eu me fecho pro mundo. ¿Você lembra de quando eu era criança e tentava te explicar que conseguia viver duas vidas e apontava pras estrelas como justificativa. Como se as estrelas fizessem sentido pros perpétuos. Você poderia ter me explicado sobre o preço que se paga, mas em vez disso amavelmente me ouviu. E esperou que eu aprendesse por mim mesmo. Acho que ainda não aprendi tudo que deveria. E acho que nunca aceitei que não podia fugir de certas regras. Nossas conversas sempre trazem todas essas lembranças. Queria te dar um abraço. Queria que essa inquietação passasse e que eu parasse de procurar respostas que não existem. Sou tão humano nisso. Tentando racionalizar o invisível como se ele fosse matemática. Tentando consertar o que está irremediavelmente quebrado.
Não vou te amarrar muito, temos tanto ainda por fazer. Até a próxima e, se for por mim, traz meu cavalo. Espero que ele esteja bem e que vocês estejam se entendendo. Obrigado por tudo, minha amiga.