quarta-feira, 28 de março de 2018

Adultorum magna gradibus

           Eu era muito criança quando andava na igreja de São Pelegrino de olhos fechado contando a distância entre as coisas em passos. Como tinha livre acesso lá de noite, eu sabia como era importante me locomover lá dentro sem luz. De alguma forma eu pensava que ia atrapalhar alguém se acendesse as luzes. E eu deitava na Essa olhando pro teto iluminado pelas luzes da cidade sonhando em aprender latim. Eu não sabia nada sobre o Único Acima e sobre todo mundo que trabalha junto com ele, mas de alguma forma eu sabia que deveria falar com eles em latim. Hoje minha conta em passos é diferente, mas ainda paro no mesmo lugar entre a Pietá e o São Francisco. E baixo a cabeça como quem dá oi para um velho amigo. Com o tempo percebi que não precisava de palavras pra falar com quem quer que fosse. Falo certas coisas em latim mais pelo ritual do que por qualquer outra coisa.

            Fico pensando: A Dona morte sempre me ensinou muita coisa quando veio, mas percebo agora que aprendi muito mais nas oportunidades em que eu chamei muito por ela e ela não fez o que pedi. Obviamente temos critérios diferentes sobre o trabalho e sobre o que é importante, mas parece que fazer a parte sem saber do todo é inerente ao trabalho. ¿Mas o que posso eu falar sobre importância? De todos que se foram antes de mim, é irônico que eu sinta mais a perda de um gato que batizei e que anos depois dei a extrema unção; e de uma raposa que não pude salvar. Talvez isso faça sentido para alguém em algum lugar.

            Talvez tudo isso que pesa em mim me tornando errado e inadequado para o que quero seja uma coisa boa em algum outro tempo, em algum outro lugar. Talvez aqui nessa mesma igreja a Dona morte se sente ao meu lado e tente me entender, assim como eu tento entendê-la.

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