quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sempiternamente

Ao som de Vendettas - Vou embora

      Saindo do meu quarto eu dou de cara com um espelho. Um lembrete gigante do jeito derrotado que levo minha vida. Cada vez que passo por ele antes de sair, sinto meu olhar mudando. A ternura dando lugar a frieza. O sorriso deixando de ser alegre e se tornando irônico. Minhas fraquezas não se transformam em força, mas ficam escondidas e renegadas enquanto eu finjo ser forte. Enquanto o poder mais medíocre de todos me defende: o poder da mentira. ¿Como cheguei a esse ponto? Ser falso para conseguir ser verdadeiro. Sei que um pedaço da minha alma morre cada vez que jogo xadrez com palavras manipulando as pessoas. Cada vez que eu ataco pq percebo que tenho que me defender. Cada vez que eu não me importo por não ter mais nada a perder

        Eu olho pra ela de longe e vejo ela me sorrindo com os olhos. Fazemos isso desde 2003. E aquilo que a gente mais teme sempre pode nos encontrar pelo caminho. Ela é linda, é inteligente, é gostosa e bem humorada. E uma das melhores mentirosas que eu conheço. Me sinto indefeso perto dela desde que percebi o poder dela. Ela tem o poder de não se importar. E ela sabe dizer quando eu minto. Ficar ou não ficar com ela não importava nada. Chegamos juntos no balcão e sem dizer uma palavra tomamos duas tequilas cada um. Senti um arrepio na alma quando ela me olhou nos olhos e perguntou do que eu tinha medo. Dei as costas e tentei fugir. Aquela vaca não teria o prazer de me ver chorando. No caminho ela me pegou pela mão e me puxou pra bem perto. Se ela fosse uma pessoa normal, eu teria paz naquele abraço. Se eu fosse normal...

       - Até quando tu vai ficar errando, se menosprezando e fazendo tudo errado só pra se nivelar com os outros.?? (Achei impressionante mais alguém além de mim chegar a essa conclusão. Ali ela me desarmou.)
       - Eu sou um merda, tu mais do que ninguém deveria ter visto isso. (Fingi humildade, mas ela não acreditou em nada do que eu disse.)
       - Eu me apaixonei  por ti, ela disse  - eu vi ela baixando a guarda e senti o corpo tenso. tinha certeza que ela ia bater forte - Mas tu ficou tanto tempo fingindo ser essa pessoa medíocre  que acabou se tornando ela.

      E então eu beijei ela. Não por vontade, não porque podia. Mas simplesmente porque ela beija de olhos fechados. E aquela vaca não ia me ver chorando.

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