quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Cada palavra é um machado que abre um talho nas minhas costas

    Antes da virada do ano o vizinho me deixa a prancha com a mesma cara de preocupado dos anos anteriores. Ele sabe que existe sempre um risco. O céu está nublado e está frio, mas não me importa. Os fogos estouram e eu não ouso erguer a cabeça. Ao meu redor um monte de água salgada se disfarça de firmamento e fica estrelado com os reflexos do céu. Esse sou eu, procurando uma mágica só minha enquanto todos olham para outro lado. O mar está de ressaca mas eu não posso reclamar,  devagar eu tento usar água salgada pra refazer uma costura velha e gasta.  Sinto vontade de rezar.  Não acredito mais em deus, mas sei que onde há fé  também há luz. O céu é se apaga e ficamos nós ali no escuro. Acreditar não é ais tão fácil quanto costumava ser. 

    Uma vez escrevi um texto chamado traição com 3 personagens. Conforme o tempo foi passando eu fui me identificando com cada um dele de forma diferente. O tempo passa e vamos descobrindo nuances para os quais estávamos cegos em outras épocas. Eu sempre disse que inventei o Vento pra me defender do mundo. Mas agora está claro que ele serve muito bem para defender os outros desse ser humano tosco e nocivo que me tornei. 

    Tanto me esforcei pra construir pontes. Devia ter construído um castelo com muros bem.altos e fortes. Pra que nada mais pusesse me.atingir. Agora nada disso importa. Fiquei sem pontes e sem castelo. Restou apensa uma jangada correndo por um rio agitado que corre aqui dentro. 

    E eu estou cansado. Eu quase fui o suficiente. A gente quase conseguiu. E não há nada mais triste que um quase

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