Recém passou da meia noite e estou esquentando a água pra terceira térmica do dia. Eu deveria dormir. Deveria fazer as pazes comigo mesmo pra dormir melhor. Mas o fato é que eu não sei dormir. E não tenho erva mate suficiente pra fazer as pazes com quem quer que seja. Preciso mesmo de água salgada e areia pra remendar certos pedaços. Sempre fico triste quando certas coisas quebram e eu não sei consertar. E ainda existem coisas aqui dentro que eu não sei consertar.
Há uma frase que eu repito na minha cabeça quando caio um tombo: Levanta. Sacode a poeira. Dá a volta por cima. Eu nunca fui muito gentil quando converso comigo mesmo, então essa frase soando como uma ordem serve muito bem no meu jeito de pensar. Tirei ela de uma história em quadrinhos do Logan.
Mas o que fazer quando a poeira não está no corpo, e sim na mente.? E porque diabos eu lembro nessa frase durante um banho de chuva épico.? Tento me convencer que fazer 20km pedalando embaixo de um dilúvio tem a ver com capacidade e não com sentir raiva de mim mesmo. É lógico que falho miseravelmente.
O Bledo tem razão quando fala que eu virei outra pessoa quando comprei o baixo novo. Nós músicos sabemos bem que conforme vamos tocando melhor, vamos também nos tornando pessoas melhores. Quando alguém duvida dessa teoria eu aponto pro Caldo e as pessoas entendem o que estou falando. Mas eu ando precisando do Virgílio. O fender soa melhor, isso é inegável, mas o inferno fica melhor quando tenho alguém pra me guiar nele. Quando estou no palco e fecho os olhos pra chorar melhor, é o Virgílio que grita comigo pra manter as notas soando no lugar. Segurei ele incontáveis vezes, e acho que só confio nele pra me segurar quando eu mais preciso.
Aprendi com o tempo é que as pessoas costumam confessar suas fraquezas apenas pra aqueles que as deixam mais fortes.Vejo minha senhora tirando a máscara e meio sem jeito falando das fraquezas dela. Sinto um certo orgulho em pensar que eu a deixo mais forte, assim como ela faz comigo. E pessoas que não julgam são tão raras hoje em dia. Vou pegar as minhas e segurar firme para não perder mais nenhuma. Mas é bobagem minha, sei bem que algumas vão embora quando eu não for mais útil. As ondas não vão parar, como disse o mar.
Falando em mar, NUNCA ME CONCEDA DESCANSAR!