Apesar do freio não funcionar direito molhado, ou talvez justamente por isso, eu gosto de pedalar na chuva. Eu brigo com o frio e com a chuva até chegar um ponto em que eles não podem mais me perturbar. Talve seja uma reminiscência de uma época que eu achava que podia vencer qualquer briga se fosse forte o suficiente para aguentar todas as porradas e se fosse teimoso para levantar de novo e de novo. Eventualmente entendi que podia me esquivar. Que viver de forma que não parecesse vantajoso brigar comigo é uma baita maneira de desviar de brigas inúteis. Que não precisaria de força se tivesse malandragem. E que tomar veneno até ficar imune me destruiria. E não é assim que eu me destruo.
No fim eu gosto de pedalar na chuva porque não preciso ter vergonha de chorar. Nessas madrugadas de frio e chuva que me machucam eu encontro um pouco de paz. Os demônios que tanto perturbam aqui dentro resolvem sussurar. Não fica mais fácil argumentar com eles, mas quando nem eles é nem eu estamos com raiva, fica menos difícil barganhar, pelo menos.
Sei que deveria dormir já que daqui a poucas horas preciso estar operacional de novo. Mas as vezes é tudo questão de um foda-se. Um grande e irrevogável foda-se. Eu queria arrancar minhas asas já que, de novo, elas não são nada mais que um peso morto que arrastarei comigo. Ela era os pensamentos felizes que me faziam voar. Sem ela posso voltar pra valeta, mais convencido do que nunca de que aqui é o meu lugar.
Eventualmente eu devo me consolar, e em algum momento todos os demônios do inferno vão me.ouvir falar sobre esses 4 anos em que eu estive no.paraiso. Mas por enquanto dói. Só dói.
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