Cada vez que meu ego tenta me seduzir eu desenho e redesenho uma cruz num caderno velho que tenho sempre a mão. Já furei a página de tanto que risquei, mas assim eu lembro que preciso crucificar o ego antes que seja tarde demais. Eu me sinto iremediavelmente derrotado por largar a música, mas isso é simplificar demais o que não pode ser reduzido a algo tão superficial. Não posso largar a escala de C#m que toquei infinitas vezes até ela soar como eu precisava que ela soasse. Não posso ignorar o orgulho que sinto me equilibrando entre mágica e técnica quando estou atrás de uma mesa de som. Não teria como fingir que nao passei madrugadas sentado no chão no pé da cama chorando e tocando violão bem baixinho pra não atrapalhar o silêncio.
Isso é o palito de picolé do meu castelinho de areia e é mais fácil -beemm mais fácil- morrer do que tirar isso de mim. Mas o mundo me quebrou a tal ponto que cansei de tocar com talaricos e com pessoas vazias e interesseiras. 4 pessoas ruins para 1 boa, em proporção. Fora que o Diabo sabe ser cruel com quem não sabe lidar com ele.
O fato é que eu não teria sobrevivido ao inferno sem o Virgilio pra me guiar. Eu cheguei muito perto da verdade enquanto ele me carregava no colo e tocava sozinho. A esperança está por um fio, mas eventualmente eu vou me consertar, quando entender na carne que o problema não é e nunca foi a música.
"No tengo lo qué me falta, todavía
Y no sé si pueda esperar
Solo me queda esta triste melodía
Y no la puedo cantar"
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