segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Ser discreto se provou ser mais vantajoso do que ser eloquente.

    Cada vez que meu ego tenta me seduzir eu desenho e redesenho uma cruz num caderno velho que tenho sempre a mão. Já furei a página de tanto que risquei, mas assim eu lembro que preciso crucificar o ego antes que seja tarde demais. Eu me sinto iremediavelmente derrotado por largar a música, mas isso é simplificar demais o que não pode ser reduzido a algo tão superficial.  Não posso largar a escala de C#m que toquei infinitas vezes até ela soar como eu precisava que ela soasse. Não posso ignorar o orgulho que sinto me equilibrando entre mágica e técnica quando estou atrás de uma mesa de som. Não teria como fingir que nao passei madrugadas sentado no chão no pé da cama chorando e tocando violão bem baixinho pra não atrapalhar o silêncio. 

    Isso é o palito de picolé do meu castelinho de areia e é mais fácil -beemm mais fácil- morrer do que tirar isso de mim. Mas o mundo me quebrou a tal ponto que cansei de tocar com talaricos e com pessoas vazias e interesseiras. 4 pessoas ruins para 1 boa, em proporção. Fora que o Diabo sabe ser cruel com quem não sabe lidar com ele.

    O fato é que eu não teria sobrevivido ao inferno sem o Virgilio pra me guiar. Eu cheguei muito perto da verdade enquanto ele me carregava no colo e tocava sozinho. A esperança está por um fio, mas eventualmente eu vou me consertar, quando entender na carne que o problema não é e nunca foi a música.

    O problema sou eu. Que surpreendente. Mas sejamos otimistas. Pelo menos vou parar de decepcionar os outros e, acima de tudo, nós mesmos. Assim.como encontrei existe um Virgílio,certamente existe uma Beatriz

"No tengo lo qué me falta, todavía

Y no sé si pueda esperar

Solo me queda esta triste melodía

Y no la puedo cantar" 





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