terça-feira, 13 de novembro de 2018

Pra deixar de ser medroso

       Vou contar uma história. Talvez eu precise me lembrar dela depois.

       Certos shows me assustam. Eu sempre acho que sou incapaz de certas coisas, mas não dessa vez. O mundo tinha outros planos e estava cagando e andando pra minha auto estima nula. Eu ia tocar na Lucille.

       Mas antes eu precisava da minha espada e no exato momento em que eu precisei o Virgilio voltou. Um yin e yang metalizado cinza e preto. Na minha cabeça a madeira sempre vai me fazer pensar em coisas talhadas. Talhar é uma boa metáfora sobre como formamos nosso caráter. Por outro lado o metal é forjado. E forjar cabe muito melhor do que talhar no meu contexto. E cinza. Por que nem o preto e nem o branco me interessam.

       Existe um jeito de meditar no qual vc fica repetindo uma mesma palavras infinitas vezes. E chega um ponto em que a palvra perde o significado e passa a dizer exatamente o que vc quer dizer. Ou, no meu caso, toca a mesma note infinitas vezes até ela soar exatamente como eu quero que ela soe.

       E eu lembrei de tudo isso enquanto subia no palco meio correndo. Meia hora antes o Fer estava sem voz, mas já no palco ele me olhou com uma cara que eu conheço muito bem.  Ficou claro que ele ia gritar naquele microfone como se não houvesse amanhã. Não que fosse necessário. Sei bem que ele troca força por know how quando é preciso. 

       Estuda como se fosse o pior baixista do mundo e toca como se fosse o melhor. O akuma e o ken na minha cabeça. de novo. Que bom que ainda existem pontos pra serem ligados.

       Eu não sabia metade das músicas, mas não tinha tempo para ficar preocupado com isso. Na primeira volta eu ouvia, na segunda eu aprendia como tocar e na terceira eu já sabia onde estava pisando. O Mauro me salvou incontáveis vezes. Mas nenhuma novidade. Ele é desses. O Bledo batia forte e sorria...e por causa dele o groove já estava meio pronto nos meus dedos. O Fer me mantinha com os pés no chão e ria da minha cara quando eu errava. Era o maestro certo para reger tudo aquilo. Não havia mais nada que o baixista barulhento e jazzificado que mora em mim poderia querer.

        Não gritei. Não me escondi atrás dos cabelos. E percebi bem rápido que eu estava dentro da mesma mágica que eu vi de fora algumas vezes. Soar firme como um pilar, mas sem deixar de ser livre. A Fran me deixava arrepiado. Nunca deixo de me impressionar com ela.

       E essa, senhores, não foi a história de como eu toquei na Lucille. Essa foi a história de como eu lutei comigo mesmo. Essa foi mais uma história na qual eu só cheguei tão longe por estar acompanhado de gigantes.

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