sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Coming through in waves

Texto velho, mas ainda não estava pronto. Faltava uma pequena alteração no final dele

              Eu queria ser autêntico. Dizem que as pessoas se apaixonam por quem é assim. Eu queria saber falar melhor de mim mesmo, sem precisar de máscaras e 3 filtros do photoshop. Queria aceitar melhor os meus medos e as curiosidades. E queria, principalmente, me admitir fraco sem a menor culpa, mas as pessoas não precisam saber disso. O mundo já tem pessoas fracas demais e sinto que não tenho muita chance nesse mercado. Eu queria ser o melhor, para mim, para ti, para nós, mas acontece que eu sempre escapo da estrada boa, tenho mania de precisar passar por muitos buracos e barrancos fora da estrada. Eu sei que nem tudo precisa ser tão difícil e dolorido, mas tem um espaço gigante fora da estrada. Um espaço pelo qual ninguém se interessa. Eu não me sinto bem desperdiçando essa infinidade de possibilidades.

                Quando eu escrevo, falo alto demais, fico sem voz de tanto gritar e pode ser que a pessoa fique surda ou enlouqueça quando não entender nada. Eu queria, também, poder entender melhor, mas não entendo nada, por isso, não se esforce, eu sei que não valho a pena. Talvez eu até valha em alguns dias pares e nas terças-feiras, porque sempre gostei mais deles, mas nos dias ímpares nem a minha sombra vale. Ou vice-versa, não sei se isso é uma regra, ainda não decidi.

               Eu queria ler livros alternativos que todo mundo leu enquanto eu gastava tempo com os clássicos que precisava ler. Saber dançar melhor é outra coisa que eu queria, é impressionante a vantagem  que esse tipo de gente tem. Queria saber mais sobre as ligações de carbono da química orgânica, falar com sotaque espanhol. Queria que a genética fosse mais branda comigo. Um sorriso menos filho da puta e menos cara de quem sempre perde. É, eu queria ter o ar dos vencedores, quem sabe isso pudesse funcionar melhor que minha arrogância emulada.

               Uns poucos que sobraram aqui perto não enxergam quase nada disso e mesmo assim me veem de um jeito que o espelho não me conta. Eu queria ser metade do que veem em mim. Metade do que as revistas dizem que devemos procurar em alguém. Metade do que os meus sonhos pedem nas minhas poucas horas de sono. Eu queria ter mais conversas em vez de escrever cartas que nunca vou mandar.

                  Mas o fato é que sou exatamente isso. E entre linhas, entre erros e acertos, sorrisos tortos e gostos trocados, tudo isso tem dona.

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