Encontrei Iemanjá na correria. Trocamos um olhar de "daqui a pouco falo com vc, mocinha". Ela ergueu a sobrancelha e apontou pras nuvens escuras e eu sabia que estava atrasado. E ri sozinho sabendo que ia acabar a noite encharcado ou de chuva ou de mar. E isso foi só a quinta.
No dia seguinte não achei uma pipa, mas pedi uma prancha e fui pro meu lugar. Depois da arrebentação. Não achei paz... mas pelo menos o caos das vozes aqui dentro calaram a boca um pouco. Não sei mais pesar o que mereço ou não, mas entra raiva e costume.. nunca concedam me descansar.
E de novo uma conversa que já tivemos incontáveis vezes.
O mar não sabe o que fazer quando eu choro então sempre acabamos negociamos uma chuva. Ela não dá paz, mas pelo menos sinto que tenho ajuda enquanto costumo meus pedaços com areia e água salgada. Se estou disposto a chorar quanto dor preciso pra fazer com que o mar cresça e meu sonho desapareça... sempre que chove eu sinto que a chuva faz por mim o que faço por todos os outros. Nunca trabalho sozinho.
Desculpa dar trabalho, mas as vezes é foda. Sou só uma criança que mal e mal sabe lidar com poças d'água na areia e que se deslumbra tentando lidar com o mar. 40 anos na cara e eu me defendo fazendo um castelo de areia. ¿Como pode um monte de água desse tamanho gostar de areia empilhada a ponto de desviar ondas? Talvez o que pra mim são fogueiras que apago ou deixo maiores, pra ela sejam castelos de areia.
Eu podia ter pedido pra ela levar minha tristeza embora, mas lembrei de um castelo de areia com um palito de picolé dentro que eu e o vento fizemos. A tristeza é como aquele palito.
Gracias por todo, Iemanjá