Ao som de Vitor Ramil - Semeadura
_____Pelas minhas palavras eu mato e morro. E as vezes vivo. Desisti do Goethe. Antes de voltar para o meu diário, escrevo, leio e abstraio. Nietzche sempre foi uma boa compania, tão ou mais perigosa que eu. E meu nome é bem mais fácil de soletrar.
_____Essa é minha forma de dizer que amo, sem ser banal, sem ser medíocre e sem ser arrogante. Sinceridade tem sido um hábito terrível (e kamikaze, como diria o compadre).
Entre o mar e o céu
No meio dia da vida, no jardim do verão
A inquieta ventura em se deter, atentar e esperar
Pelos meus amigos aguardo, dia e noite disposto
onde estão meus amigos?
O tempo parece ser apropriado
Não foi para vocês que o cinza do gelo
hoje se adornou com rosas?
É a vocês que o riacho procura, e ansiosamente aflue
E se batem ventos e nuvens, mais alto no azul
Para observá-los a distância, como pássaros na espreita
No meu santuário coloquei a mesa:
Para aqueles que vivem mais próximo das estrelas
e para os habitantes das horríveis profundezas do abismo.
Meu reino - e que reino se estendeu mais longe?
E o que em mim é doce - quem o terá provado?
Aí estão vocês, amigos!
Não é a mim que procuravam?
Vocês hesitam, surpresos - seria melhor se tivessem rancor
Eu não sou mais eu.? Mudei de mão, de rosto, de andar?
O que eu era, acaso não mais sou?
Terei me tornado outro.?
Estranho a mim mesmo? De mim mesmo, fugido?
Um lutador que muitas vezes venceu a si mesmo?
Que muitas vezes lutou contra a própria força,
Ferido e detido pelas próprias vitórias.
Procurei onde o vento sopra mais cortante
e aprendi a viver onde ninguém habita,
nos desertos de gelo, onde o frio queima
Desaprendi Deus e Homem, oração e maldição
Tornei-me apenas uma sombra do que fui
Meus velhos amigos de rostos pálidos
transtornados de ternura e espanto!
Não se aborreçam, aqui não poderiam ficar
Aqui é preciso ser o caçador sem piedade
E a caça que luta pela vida
E um mau caçador me tornei .
Vejam como está tenso meu arco
Apenas o mais forte sabe respirar e atirar
Peço que tenham cuidado, perigosa é minha flecha
Mais do que todas, mais do que a sorte.
Tanto sofreu meu coração
E forte permaneceu sua esperança
As suas portas continuam abertas
Renunciando aos antigos e às lembranças!
Ele era forte? - Pois agora é mais e com mais coragem.
O que uma vez nos ligou, o laço da mesma esperança,
Quem ainda lê os sinais do coração.?
Signos que há tempos o amor ali escreveu
Eu os comparo a um pergaminho que a mão teme tocar
E que, como ele, está queimado e enegrecido!
Basta de amigos! Como chamá-los?
Também são sombras do que eram
Que de noite, tentam ainda meu coração e minha janela
e me olham sussurrando: "Ainda somos nós, estamos bem"!
Palavras murchas, que um dia cheiraram a rosas.
Sonhos juvenis tão cheios de ilusão,
aos quais buscava nos impulsos da minha alma,
Agora vejo tudo envelhecendo
E somente quem muda pertence ao meu mundo
Meia noite da vida. Jardim do outono
Pelos meus amigos aguardo, dia e noite disposto
onde estão meus amigos?
O tempo parece ser apropriado
O hino antigo cessou de soar,
O doce grito do desejo e da saudade expirou nos meus lábios.
Um mago foi o seu autor, o amigo da hora certa
o amigo do meio-dia.
Não, não me pergunteis quem é;
ao meio-dia, o que era um,
dividiu-se em dois.
Agora podemso celebrar, seguros da vitória comum
A festa das festas
O amigo alado chegou, subjugando o próprio silêncio
O mundo pode rir, rasgou-se a cortina do ódio velado
É a hora do casamento entre a minha luz e as trevas.