Deixa eu contar uma história. Não posso dizer que me lembro de tudo como aconteceu, mas eu me lembro dela assim:
Certa feita, estava eu em Londres, do outro lado do mundo, recém tinha tomado um pé na bunda e estava me sentindo mais inadequado do que nunca. A coisa tava tão feia pro meu lado que o mundo achou por bem mandar uma mulher com asas me encontrar e me colocar de volta nos trilhos. Ela me encontrou lendo um jornal no meio do caos de uma estação de metrô. Enquanto ela caminhava na minha direção eu me lembrei de uma coisa - tarde demais, ao que parece - não adiantava fingir que estava bem pra ela. Ela me conhece bem demais. Talvez, justamente por me conhecer demais, ela me levou para um bar chamado Piano Works. Eu não sabia na época, mas aquele bar é a melhor maloca do mundo. Não falar direito a língua local me deixou naquele estado entre o medo de errar e a arrogância para acreditar e tentar. E conversei com muita gente em inglês, em espanhol e português e as vezes sem falar nada. Lembro de um italiano com marijuana e cera de abelha. Lembro de uma trompetista estilosíssima. Tinha um alemão lindo que o bar inteiro estava querendo. E eu conversei muito com a minha amiga, bebendo na elegância; até que chegou um baixinho das filipinas com um cartão de crédito anunciando que a gente ia beber. Mesmo no território da rainha, a regra para se me oferecem trago continuava valendo: yes and more. E o alemão me serviu uma coisa que eu não sabia o que era, mas parecia rum. Forte bagaray, mas rum. Foi uma das festas mais locas da minha vida. Inclusive a parte de sair correndo pra atravessar Londres de metrô e ter que caminhar quase 3 milhas porque perdi o último trem. Teve a mijada na London Power Station pra encerrar a noite. Porque foto na Abbey Road tem seu valor, mas roots de verdade é mijar na capa do Animals do pink floyd.
De alguma forma, eu não fui preso e nem fui pro hospital naquela noite. E na manhã seguinte eu estava pronto pra assumir as consequências da minha escolha. Estava pronto para dar o primeiro passo para voltar a ser o que eu era. Nunca agradeci aquela mulher de asas, nunca disse o quanto ela foi a diferença na minha vida naquela noite e em tantas outras que passaram. Quando eu chorava no palco escondido atrás dos cabelos, ela via. A eterna piada sobre ter ossos de vidro. Mas estou pra conhecer alguém com o coração , mais forte. E sabemos bem que só as pessoas com coração forte conseguem voar.
Da mesma forma, nunca descobri o que diabos eu bebi aquela noite. Até ontem. Na República Oriental do Uruguay encontro uma garrafa de Bacardi que não conhecia, mas quando a vi, eu sabia que era ela. 38% de álcool eram uma prova irrefutável. O nome fazia todo sentido.
E agora que coloquei a garrafa do lado do meu monitor, solto uma gargalhada cada vez que olho pra ela.
Certa feita, estava eu em Londres, do outro lado do mundo, recém tinha tomado um pé na bunda e estava me sentindo mais inadequado do que nunca. A coisa tava tão feia pro meu lado que o mundo achou por bem mandar uma mulher com asas me encontrar e me colocar de volta nos trilhos. Ela me encontrou lendo um jornal no meio do caos de uma estação de metrô. Enquanto ela caminhava na minha direção eu me lembrei de uma coisa - tarde demais, ao que parece - não adiantava fingir que estava bem pra ela. Ela me conhece bem demais. Talvez, justamente por me conhecer demais, ela me levou para um bar chamado Piano Works. Eu não sabia na época, mas aquele bar é a melhor maloca do mundo. Não falar direito a língua local me deixou naquele estado entre o medo de errar e a arrogância para acreditar e tentar. E conversei com muita gente em inglês, em espanhol e português e as vezes sem falar nada. Lembro de um italiano com marijuana e cera de abelha. Lembro de uma trompetista estilosíssima. Tinha um alemão lindo que o bar inteiro estava querendo. E eu conversei muito com a minha amiga, bebendo na elegância; até que chegou um baixinho das filipinas com um cartão de crédito anunciando que a gente ia beber. Mesmo no território da rainha, a regra para se me oferecem trago continuava valendo: yes and more. E o alemão me serviu uma coisa que eu não sabia o que era, mas parecia rum. Forte bagaray, mas rum. Foi uma das festas mais locas da minha vida. Inclusive a parte de sair correndo pra atravessar Londres de metrô e ter que caminhar quase 3 milhas porque perdi o último trem. Teve a mijada na London Power Station pra encerrar a noite. Porque foto na Abbey Road tem seu valor, mas roots de verdade é mijar na capa do Animals do pink floyd.
De alguma forma, eu não fui preso e nem fui pro hospital naquela noite. E na manhã seguinte eu estava pronto pra assumir as consequências da minha escolha. Estava pronto para dar o primeiro passo para voltar a ser o que eu era. Nunca agradeci aquela mulher de asas, nunca disse o quanto ela foi a diferença na minha vida naquela noite e em tantas outras que passaram. Quando eu chorava no palco escondido atrás dos cabelos, ela via. A eterna piada sobre ter ossos de vidro. Mas estou pra conhecer alguém com o coração , mais forte. E sabemos bem que só as pessoas com coração forte conseguem voar.
Da mesma forma, nunca descobri o que diabos eu bebi aquela noite. Até ontem. Na República Oriental do Uruguay encontro uma garrafa de Bacardi que não conhecia, mas quando a vi, eu sabia que era ela. 38% de álcool eram uma prova irrefutável. O nome fazia todo sentido.
E agora que coloquei a garrafa do lado do meu monitor, solto uma gargalhada cada vez que olho pra ela.