quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Velho

          Deixa eu contar uma história. Não posso dizer que me lembro de tudo como aconteceu, mas eu me lembro dela assim:

         Certa feita, estava eu em Londres, do outro lado do mundo, recém tinha tomado um pé na bunda e estava me sentindo mais inadequado do que nunca. A coisa tava tão feia pro meu lado que o mundo achou por bem mandar uma mulher com asas me encontrar e me colocar de volta nos trilhos. Ela me encontrou lendo um jornal no meio do caos de uma estação de metrô. Enquanto ela caminhava na minha direção eu me lembrei de uma coisa - tarde demais, ao que parece - não adiantava fingir que estava bem pra ela. Ela me conhece bem demais. Talvez, justamente por me conhecer demais, ela me levou para um bar chamado Piano Works. Eu não sabia na época, mas aquele bar é a melhor maloca do mundo. Não falar direito a língua local me deixou naquele estado entre o medo de errar e a arrogância para acreditar e tentar. E conversei com muita gente em inglês, em espanhol e português e as vezes sem falar nada. Lembro de um italiano com marijuana e cera de abelha. Lembro de uma trompetista estilosíssima. Tinha um alemão lindo que o bar inteiro estava querendo. E eu conversei muito com a minha amiga, bebendo na elegância; até que chegou um baixinho das filipinas com um cartão de crédito anunciando que a gente ia beber. Mesmo no território da rainha, a regra para se me oferecem trago continuava valendo: yes and more. E o alemão me serviu uma coisa que eu não sabia o que era, mas parecia rum. Forte  bagaray, mas rum. Foi uma das festas mais locas da minha vida. Inclusive a parte de sair correndo pra atravessar Londres de metrô e ter que caminhar quase 3 milhas porque perdi o último trem. Teve a mijada na London Power Station pra encerrar a noite. Porque foto na Abbey Road tem seu valor, mas roots de verdade é mijar na capa do Animals do pink floyd.

          De alguma forma, eu não fui preso e nem fui pro hospital naquela noite. E na manhã seguinte eu estava pronto pra assumir as consequências da minha escolha. Estava pronto para dar o primeiro passo para voltar a ser o que eu era.  Nunca agradeci aquela mulher de asas, nunca disse o quanto ela foi a diferença na minha vida naquela noite e em tantas outras que passaram. Quando eu chorava no palco escondido atrás dos cabelos, ela via. A eterna piada sobre ter ossos de vidro. Mas estou pra conhecer alguém com o coração , mais forte. E sabemos bem que só as pessoas com coração forte conseguem voar.

           Da mesma forma,  nunca descobri o que diabos eu bebi aquela noite. Até ontem Na República Oriental do Uruguay encontro uma garrafa de Bacardi que não conhecia, mas quando a vi, eu sabia que era ela. 38% de álcool eram uma prova irrefutável.  O nome fazia todo sentido.

           E agora qu
e coloquei a garrafa do lado do meu monitor, solto uma gargalhada cada vez que olho pra ela. 


domingo, 18 de dezembro de 2016

Baunilha



Se eu contasse tudo que aconteceu essa noite, ninguém iria acreditar...

P.S. Dois chefões pra derrotar...

sábado, 17 de dezembro de 2016

Plano: Repensar o Impossível

           O unicórnio é um animal místico impossível de ser capturado. Mas, em raríssimas situações, ele esquece sua incapacidade de se dominar e coloca sua desconfiança de lado. 


Eu sei disso porque, de tempos em tempos, aparece um unicórnio na minha vida.

E em raríssimas situações, o impossível não cabe nessa lenda.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Entre aquilo que me corrói, as cartas que não escrevo e as oportunidades perdidas.

          Às vezes a mix do P.A. é como uma represa muito cheia. E a música é tão caprichosa quanto a água. O som segue o caminho que quer enquanto a gente vai construindo desvios e diques aqui e ali. E faz o que pode pra não transbordar. Às vezes vaza um pouco d'água, às vezes a gente precisa soltar mais água do que deveria pra evitar o colapso. É uma sensação  ruim está de estar perigosamente muito perto do vermelho.

             Ontem foi uma dessas noites. Muitas bandas e pouco equipamento é uma equação irritantemente familiar no meu trabalho. Tento entender por que as merdas acontecem justamente quando as pessoas que eu gosto estão no palco. ¿Seria pedir de mais se eu quisesse que acontecesse com quem eu não me importo? Pra poder resolver problemas sem me envolver. Matemática objetiva e imparcial.

             E quando o circo pega fogo eu me obrigo a ser objetivo. Não consigo achar espaço pra gentilezas quando a represa pode estourar a qualquer momento e tudo precisa ser resolvido rápido. Mas há  uma linha que não deve ser ultrapassada: a da estupidez. E ontem eu cruzei essa linha com um cara que eu deveria nem sequer subir o tom de voz.

         Tenho minhas razões técnicas pra justificar o que pedi, mas não tenho moral nenhuma pra tentar explicar a forma com que pedi. Sim, muita confusão e vontade de acertar. E lá  estou eu esculhambado tudo por afobação numa coisa que não deveria me abalar faz anos. Não acreditar em mim mesmo tem esses problemas recorrentes: parece que estou sempre tendo que provar meu valor... não pros outros, mas para mim mesmo.
 
            Sei que me desculpar não repara os danos, mas se serve de consolo, todo esse processo está  me fazendo melhorar na marra. No final eu peço desculpas de coração. E eu sei que pra ti já  passou. Tu sabe sentir raiva mas não consegue guardar rancor. Ainda tenho muitas lições pra tirar do que aconteceu e do que com certeza ainda vai acontecer nas entrelinhas dos nossos bailes. Te agradeço pela paciência. Sempre falo que meu trabalho é  fácil porque eu ando com os grandes. E dentro e fora do palco, tu é um dos maiores. No meu coração tu tem um lugar especial, com vista pro mar e frigobar sempre cheio.

Fica sempre bem.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Sou só sol

Olhos azuis que olham diretamente através de mim. Eu conheço eles faz mais de 20 anos.

Quando eles brilham tudo fica mais fácil.

Mas eu vi um batalha acontecendo atrás deles.

Perdoar os outros é fácil, mas perdoar a si mesmo é o próprio inferno.

Tanta coisa que eu não sei, tanta coisa que eu falei porque um anjo me pediu pra falar.

Tanta coisa que simplesmente não precisa ser dita.

Um abraço e nossas almas tão teimosas e machucadas encontraram a velha zona de segurança.

Passaram 20 anos. Definitivamente não somos mais os mesmos

Ela é a minha amizade mais antiga.


E certas coisas nunca vão mudar.

O acaso deve ter trabalho para fazer a gente se encontrar quando precisamos um do outro.

Ou talvez, seja uma saída fácil: - Coloca aqueles dois juntos que eles vão se curar.

Porque a Grazi tem o mesmo problema que eu: Consegue curar os outros, mas falha sistematicamente quando precisa curar a si mesma.

Disfarçamos nossas cicatrizes com tatuagens.

Mas tudo se resume a uma vontade recíproca de que o outro esteja bem.


E um desenho bobo do sol e da lua.
 

sábado, 10 de dezembro de 2016

Arpegios até imaginar as notas que não estou fazendo

Pode até parecer estranho ficar em casa numa sexta-feira.
Mas o fato é que não dormi exatamente sozinho..
O campo harmônico volta a meu parque de diversões
Freud ainda me faz sorrir quando lembro.

Só pela baixista.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Sempre vou Saltar no Desconhecdio

           Há coisas na vida que dependem exclusivamente de paciência e força de vontade. Fiquei 3 dias brigando com meu computador pra fazer ele funcionar com as peças novas que comprei. E a assistência técnica estava a mais ou menos 300 reais de distância. Foi divertido tentar e tentar e tentar de novo. Tentativa e erro, comigo tendo certeza que iria errar dezenas de vezes antes de acertar, mas que precisava acertar só uma vez. No fim, uma alteração de 0,150v na tensão da memória RAM resolveu. Sinto um certo orgulho - não por ter feito funcionar ou por não ter desistido - mas sim por não  ter defenestrado o computador no meio do processo.

            E eu volto pro contrabaixo. Me faz sorrir. Esse é o Elias, meu sem trastes. Com os espólios do Festival de Blues. Encho o chão de partituras como se fosse o cenário pra minha inquietação. Nele eu toco Bach e Replicantes, Chico Buarque e Muse... como se estivesse procurando alguma coisa. A mesma sensação das tardes quentes estudando com o metrônomo rindo da minha cara. Uma nota depois da outra, um compasso por vez. Respirando nos silêncios e afinando as notas na marra. Quando chove eu paro tudo e fico quietinho pra não atrapalhar a água que cai. Eu sei que tudo deveria ser mais prático, organizado e racional, mas depois de estabelecer uma ligação espiritual com a música, nada mais soa como antes.