sábado, 21 de setembro de 2019

Talvez eu tenha iluminado a coisa errada

        Eu sempre dei nome para as coisas com as quais converso. O nome do meu baixo é Virgílio. Porque Virgílio foi o guia do Dante enquanto ele atravessava o inferno. Tocar nunca foi sereno pra mim. Às vezes eu estou no palco tocando e me sinto como quando a gente está no mar e toma uma onda grande na orelha e se esculhamba todo rolando no turbilhão de água. Eu sabia que precisava de algo que conseguisse tocar sozinho e que me segurasse quando eu estivesse prestes a desmoronar. Ou que risse comigo quando eu abro um sorriso e fico invisível no palco.  Ontem fugi com o Virgílio e fiquei sentado no chão tocando baixinho. A paz não vem de graça. Acabei adiando as coisas sérias que eu precisava fazer e negligenciando as coisas de adulto também.

           Acordei cedo pra colocar as tarefas em dia, mas vem a minha senhora e monopoliza minha manhã. E antes que eu me desse conta ela estava discutindo com o Peca sobre pés de Maracujá.  Acho lindo eu precisar de ajuda e vocês me mandarem ela. E ela me coloca nos trilhos de novo sem cerimônia nenhuma enquanto conversa sobre os problemas dela. 



           E eu recarrego minhas baterias.  E me sinto pronto pra tocar. Com os olhos cheios de água, mas com as asas abertas, hoje naquele palco eu não vou ser vítima.  

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Acabou a folga, volta pro trabalho!

        Às vezes a gente joga bem e perde. Acordei com essa frase gritando na minha cabeça. Não que eu tenha perdido, mas me sinto derrotado. Mil coisas pra escrever e pouco tempo pra organizar as ideias de forma coerente. Tenho raiva da minha passividade. 

           Queria muito dar uma desculpa pra mim mesmo e dizer que depois que esse caos passar eu me ajeito, mas o fato é que o caos não vai passar nunca. Nunca melhora. No meio de tudo isso eu vou continuar dizendo que me chamo vento e que meu trabalho é apagar as fogueiras menores e tornar as grandes ainda maiores. E vou continuar gritando 
NUNCA ME CONCEDA DESCANSAR.

          Tenho meu chimarrão, meu baixo maquiavélico, os meus. Os meus dois cães de guarda seguem fiéis. Tenho a Claudia. Estou melhor do que jamais estive, mas ainda existem coisas quebradas aqui dentro que eu não consigo consertar. Não sinto falta de estar triste, mas eu sei que certos castelos de areia eu não posso derrubar.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O pingo tranqueava largo

     Sempre que começa agosto o Tiago e o Vento sentam e conversam tentando se entender. Talvez seja a euforia do momento, mas esse parece ser um dos melhores agostos que eu consigo me lembrar. Muito trabalho com os meus. A Jeane me contratou. A Claudia. A Cíntia. O Duda. O Caldo. O Bledo.  Em algum lugar, alguém parece empenhado em me deixar bem. O acaso té se puxando.

         Na minha cabeça é o Ken ganhando do Akuma de novo. 

        E o diabo não pode mais me perturbar, mas eu seria muito inocente se achasse que ele é a pior tentação. Felizmente eu não esqueci de certas coisas, e continuo acreditando que fugir de algo que não estou em condições de enfrentar é uma ótima estratégia. Eu não fujo por medo, essa é a única regra que estabeleci. Fora isso,  é sempre melhor fugir de lutas em que não tenho nada a ganhar e muito a perder.

         E agosto foi assim. Como sempre, não resolvi metade do que precisava resolver entre o Vento e o Tiago. Ainda sinto raiva do arrombado. Ainda quero bater um tiro de meta na buceta de uma guria. Ainda acho que não mereço nada disso que se sucede comigo. Eu queria sacudir os escombros das minhas asas como um cachorro se sacode pra se secar. Eu queria não ter tanta vontade de chorar.

      O fato é que um anjo e um demônio andam comigo. E de mãos dadas a gente sai desse agosto mais forte. Eu cantarolo Vitor Ramil e é como se isso me desse aval pra voar de novo.