Eu ainda sei fazer chover.
E depois que todos foram embora eu fiquei ali, sentado na chuva. Até esquecer do frio. Até meu sorriso sincero fazer chover mais forte. Até ouvir os relâmpagos rindo comigo. Obrigado por não esquecerem.
Eu ainda sei fazer chover.
E depois que todos foram embora eu fiquei ali, sentado na chuva. Até esquecer do frio. Até meu sorriso sincero fazer chover mais forte. Até ouvir os relâmpagos rindo comigo. Obrigado por não esquecerem.
Eu lembro sempre daquelas tardes de domingo no verão. As mãos suando sem parar por causa do calor e da teimosia. As sobrancelhas não conseguindo tirar o suor dos olhos. E eu estudava com o Virgílio na mão obcecado por alguma coisa que eu nem sabia o que era. Talvez eu quisesse ser bom. Talvez meu metrônomo brigando comigo fosse a única companhia que eu merecesse na época. Talvez eu estivesse fugindo. Talvez eu estivesse procurando alguma coisa.
E eu me lembro também das manhãs geladas do inverno. Quando o frio e a tendinite me acompanhavam enquanto eu tocava baixinho pra não acordar ninguém. E o sol amanhecia me ouvindo tentar e tentar. Não tocar melhor, mas ser uma pessoa melhor.
Eu lembro de tudo isso porque nada vai ser como era. Sei que tem coisas quebradas aqui dentro que eu não tenho como concertar, mas uma coisa eu queria ter de volta. Eu estou cansado da minha amargura. Cansado de arrastar minhas tragédias de arrasto.