domingo, 29 de abril de 2018

Ego quondam iterum

         Maldito Héfeso. A nóia dele com o ponto fraco na armadura está inscrita em mim também. Ou talvez eu seja burro demais. mas posso me justificar. Não há nada aqui que eu queira defender, ¿por que me preocuparia com uma armadura.?

           Um metro quadrado ou talvez um pouco mais. Era o espaço que eu tinha em cima do palco. Era meu reino. Meu bunker. Meu agora. Do meu lado o Robledo e o Duda. Com uma banda boa eu me sinto invencível. Eu não sabia as músicas, mas eu não me importava. Era pra ser divertido, era pra ser libertador. Era pra pedir uma carta de alforria pra dor que passeia comigo de mãos dadas. Mas o que você mais teme pode te encontrar no caminho. Nenhuma novidade, sempre que eu me sinto invulnerável a vida me dá uma voadora. E eu percebi que estava de volta no inferno. E fez falta o Virgílio. Quando eu desmoronava tocando ele tocava sozinho. E ali estava eu sem espada e sem condição nenhuma de me defender. Na minha cabeça ecoava um velho tango. Sorrir e ficar invisível não era possível.

            Assim como aconteceu em Paris, eu sabia que ia perder tudo. E que ia precisar tirar força do cu pra sustentar minha escolha.

            Há um velho livro por aqui com um poema escrito em latin.
            Essa é a única frase que eu deveria tatuar.
perfer et obdura
dolor hic tibi proderit olim

sábado, 28 de abril de 2018

Das coisas que obviam

         37 anos depois eu descubro que existe mais do Peca em mim do que eu podia imaginar. No meio de um feriado chega uma comitiva pra buscar meu pai, torneiro mecâncico aposentado, pedindo ajuda pra concertar alguma coisa. Não sei porque acabei indo junto.

           Uma ponta de eixo quebrada, e um monte de coisa torta. E ele botou o guardapó e o óculos do mesmo jeito que eu amarro meu cabelo num coque quando sei que vai ser foda.  A gambiarra é de família, agora eu sei. E correndo pra lá e pra cá atrás de um torno o Peca deixou até o engenheiro impressionado. E é claro que ele fez piada quandoo engenheiro pediu pra ele ensinar o porque fazia as coisas do jeito que estava fazendo. 

          Quando viu que o cara estava soldando errado, foi lá e soldou, E odiou do mesmo jeito que eu odeio estanhar cabos.

           Naquele momento eu entendi o tamanho do meu pai. E percebi que, mesmo se eu estivesse tocando para 1 milhaõ de pessoas num estádio, ainda assim ele seria maior.

        Depois de tudo, sozinho e reconhecendo minha escolha, a madrugada seguia ensurdecedora. Mil vezes eu peguei o celular na mão pra mandar mensagem pedindo ajuda. Mas eu escolhi me afastar pra não machucar. E longe de tudo, só sobrou uma pessoa que não me julgaria.

domingo, 22 de abril de 2018

Eu vivo pra me sufocar


            Muito antes de saber que vagrant significa errante em inglês, eu joguei um jogo chamado vagrant story. Eu era um riskbreaker e aprendia magias novas através de grimórios. Muito se falava sobre o grimório definitivo, que continha o segredo da magia mais foda. E eu passei meio jogo procurando um livro. Até que um inimgo perguntou "¿Mas porque vc acha que o grimório definitivo é um livro?" O grimório definitivo era uma tatuagem enorme nas costas do cara que fez a pergunta. Eventualmente eu consegui uma tatuagem igual para aprender a magia que eu precisava.

                A idéia de uma tatuagem nas costas vem precisamente desse jogo.

             Há uma música da blackbirds que diz "eu quero uma nova guia".  Como filho de Iansã, eu sempre achei que guia era uma coisa. Mas ontem eu vi que não. E perguntei pra mim mesmo sorrindo "¿Porque vc pensou que guia é um cordão de colocar no pescoço.?

                E, como fez dezenas de vezes antes, minha irmã me ajudou a me encontrar.


quinta-feira, 19 de abril de 2018

A lo lejos

         Tem duas poesias que eu sempre me lembro quando vejo o mar. A Cecília Meireles colocando o sonho dela num navio e  os versos mais tristes do Neruda.




E mais de 100 vezes eu gritei esses versos dentro da água. mas nunca foi a última dor. 
E nunca será, por que minha alma nunca aceita que eu a perdi.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Antes de Nietzsche e Tool, Pearl Jam e Júlio Verne

           Divido as fazes da minha vida em bandas e autores. Sempre um e outro. Sempre um ao mesmo tempo que o outro.  Mas houve uma vez dois verões em que eu li Neruda.  E naqueles verões e não toquei nada. Nada poderia ser mais musical que um chileno apaixonado.  Em vez de tocar eu escrevia poesias na areia entre as ondas e  as dunas. A solidão me partia em dois e eu não tive opção a não ser aprender a me reconstruir mais rápido do que me desmonto. 


De las estrellas que admiré, mojadas
por ríos y rocíos diferentes,
yo no escogí sino la que yo amaba
y desde entonces duermo con la noche.

De la ola, una ola y otra ola,
verde mar, verde frío, rama verde,
yo no escogí sino una sola ola:
la ola indivisible de tu cuerpo.

Todas las gotas, todas las raíces,
todos los hilos de la luz vinieron,
me vinieron a ver tarde o temprano.

Yo quise para mí tu cabellera.
Y de todos los dones de mi patria
sólo escogí tu corazón salvaje.

sábado, 14 de abril de 2018

Um horizonte a menos

         No xadrez abra o jogo como quem lê um livro. No meio do jogo seja um soldado que defende cada peça e cada posição. E no fim, escreva uma poesia. Essa foi a melhor lição de xadrez que eu jamais tive. 

        São fases, eu sei. Não fugir por medo não me dá aval pra fugir pra sempre. Posso correr pro mar quantas vezes quiser, mas sei que certas respostas não estão lá. A água salgada me conserta nessas madrugadas que eu fujo pra amanhecer sozinho na praia. Mas vou ter que voltar pros livros do Iung que eu não entendo e pras músicas do Tool que eu não consigo tocar.

        Dentro de uma garrafa eu tenho uma epifania. E com uma tequila eu não brindei à putaria; brindei aos sinais que ficaram anos tentando me mostrar a mesma coisa.

          Ironicamente alguém está tocando Bush no meu violão em algum lugar.

         Se meu anjo ainda estivesse aqui ele estaria gargalhando sentado na minha janela aberta. O frio me mantém focado assim como a tristeza me faz competente. O que eu quero não é importante, mas isso não significa que eu não queira muito certas coisas.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Pega-peixe é especialidade da família

        Quando nossos olhares se cruzaram eu demorei o tempo de uma batida de coração pra perceber que ela era exatamente a pessoa que eu precisava encontrar. Soltei aquele meu riso meio suspiro enquanto pensava no trabalho que deve ter dado fazer a gente se encontrar. Ali estava minha irmã. A Dulcinéia pra me lembrar do meu trabalho. E diferenciar moinhos e gigantes é tão fácil pra ela.

          Acordei de susto e saí da cama já correndo. Ás vezes a gente sabe exatamente onde deveria estar. Eram 3 horas da manhã, eu tinha tempo, mas a urgência era justificada.

         Anos atrás o mar tomou de mim a minha fé. E levei anos para construir uma nova. Hoje entreguei minha esperança. É preciso me libertar. Não vou vencer a tempestade se insistir em ficar carregando peso inútil.