Eu gosto de pensar que a Morte é uma menina com um Ankh no pescoço e um olho de Hórus mal pintado no olho, mas isso é ridículo. Fora o Destino, ela é a mais velha dos perpétuos. Gosto de pensar que ela não entende muito bem o trabalho, mas dizem que a cada cem anos ela passa um dia como mortal, ao fim do qual ela morre. Tudo para compreender melhor a sua missão. Eu gosto de pensar que somos amigos, e que teremos uma conversa agradável quando chegar a hora. E que ela cuida bem do meu cavalo.
Lembro de tudo isso quando esbarro no trabalho dela. Eu queria poder quebrar as regras e roubar a dor das pessoas pra mim. Não de todos, só dos meus. Tem pessoas boas demais nessa lista e eu queria poder fazer mais por elas. Ninguém está pronto para perder um pai.
E aí o baterista manda um áudio quando eu estou tentando consolar o inconsolável. Velórios cristãos me fodem. Mas em algum lugar, alguém achou importante me manter otimista.. me lembrar do que realmente importa. Alguém achou importante me lembrar que a ordem de mudar foi foda, mas que eu não estou sozinho. Que depois da madrugada escura e fria existe uma linda manhã de outono. Eu marquei uma pedra de tanto que escrevi nela que teria justiça e paz, mas preciso admitir que as vezes era foda acreditar que existia um caminho.
Sobe o elevador pra falar com a gerência. Não adianta nada termos regras se elas são extrapoladas. De novo, eu tive o que eu mais queria ao preço de uma mentira. E, de novo, mentir não foi sequer cogitado. As experiências repetidas tem uma única finalidade: ensinar o que não foi aprendido da primeira vez. Sendo assim, eu só queria perguntar que tipo de lição eu deveria aprender. A resposta foi muito mais direta e esclarecedora do que o normal. "A lição não é pra você, é pra nós". Um anjo e um demônio andam sempre comigo. E nem nos meus melhores devaneios de importância eu achei que eles poderiam aprender alguma coisa comigo.